O vereador Elias Emanuel tomou a iniciativa de propor que no antigo prédio do Grande Hotel, recentemente alvo de um incêndio que destruiu todas as lojas, seja, respeitadas as fachadas que deverão ser integralmente restauradas, construído um Shopping Popular que abrigue um parcela dos mais de 2.000 camelôs que ocupam o centro da cidade.
A idéia é boa e sobre o tema quando de minha passagem pela Prefeitura de Manaus acumulei alguma experiência que me permitem dizer que a solução da questão deve acontecer pela via da inclusão dos camelôs e não pelo isolamento.
Em 2005 foi feito um cadastro e uma pesquisa. Nela os camelôs disseram o que queriam: 1/3 queriam melhores condições de trabalho, como, por exemplo, um local onde lhes fosse assegurado clientela, em condições de segurança, ou seja, um “camelódromo” para usar a expressão popular; 1/3 queriam um emprego com carteira assinada; e o outro 1/3 queria continuar da mesma forma.
Lembro-me que logo após a pesquisa encontrei-me com um grupo de empresários e disse-lhes que já poderíamos tirar 1/3 dos camelôs das ruas do centro. Eles acharam ótimo. Quando lhes disse que para tal eles precisariam empregar cerca de 700 pessoas com carteira assinada, desconversaram.
O caminho, então, foi avançar nos “shoppings populares”. E aí surgiram duas alternativas: a construção de um grande, que recebesse todos, garantindo-lhes as condições de trabalho ou a construção de shoppings menores que fossem progressivamente recebendo os camelôs que seriam retirados de áreas determinadas.
A dificuldade do grande shopping diz respeito aos custos e a demora da obra. A Prefeitura até tem o terreno, a antiga ilha do Monte Cristo, na Manaus Moderna. Ocorre que a construção implica em gastar 15 milhões de reais que a Prefeitura não dispunha como creio ainda hoje não dispõe.
Caminhamos, então, pelos pequenos shoppings. O primeiro ficou pronto em novembro de 2008. Fica na Av. Sete de Setembro, ao lado da agencia do BASA, em frente à antiga sede da Câmara Municipal. Lá cabem 175 camelôs com segurança e perfeitas condições de trabalho. E existiam 300 querendo ir para lá, pelas melhores condições de trabalho bem como pelo empréstimo de capital de giro assegurado pelo FUMIPEQ, com os recursos em caixa. O segundo fica ao lado no antigo bar do Quintino. Deixei a obra contratada.
Assumiu a nova administração e parou tudo. Onde seria o 1º shopping popular decidiu fazer um teatro que hoje 16 meses depois não exibiu uma única peça. E não levou avante a construção do segundo.
Agora, 16 meses depois, estão defendendo levar todos os camelôs para um único lugar que seria no primeiro momento os armazéns dos Porto de Manaus e no segundo numa obra no antigo quarteirão da Booth Line, ao lado do porto. Tanto uma opção quanto a outra serão inviáveis. Primeiro pelo isolamento. Os camelôs não querem isso por uma razão óbvia: vão vender para quem? Depois pelos altos investimentos sem que haja para tanto fontes de financiamento.
A atual administração é resistente a debater idéias. Sempre acha que sabe tudo e o resultado, em todos os setores, é o que se vê.
Portanto, a proposta do Elias Emanuel é boa e merece quando nada ser discutida. No entanto, já conhecendo como funciona atualmente a administração municipal acho muito difíicil.