O jornal Brasil Econômico destacou em manchete: Manaus se consolida como o ABC das motos, numa analogia à concentração da indústria de carros no ABC paulista. A publicação tem toda razão. Nos últimos três anos, novos fabricantes de motos se instalaram em Manaus, entre as quais as brasileiras Dafra e Iros, a chinesa Traxx e a japonesa Kawasaki, unindo-se às gigantes Moto Honda e Yamaha, fazendo com que o Polo de Duas Rodas da cidade se consolide. Esperam-se investimentos de US$ 2,8 bilhões, para este ano.
Existem, na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), oito novos projetos autorizados, segundo o coordenador de projetos industriais, Gustavo Igrejas. Caso todos se concretizem, o número de montadoras de motos passará de 12 para 14 e o de fabricantes de componentes para elas, de 60 para 66. A agregação de peças e componentes nacionais e locais, aliás, cada vez maior, é um aspecto a ressaltar. A Moto Honda, maior montadora de motos, ultrapassa os 90%. Isso significa mais e mais empregos.
A notícia, excelente, a mim não surpreende. Acompanho de perto o desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus (PIM), designação que já propus ao Congresso substituir, uma vez que o “Zona Franca de Manaus (ZFM)” há muito foi superado. Tenho sido seu defensor intransigente, no Senado, combatendo ameaças que vez por outra surgem, pois nem todos entenderam ainda seu significado e sua importância para o País. Ela é, ao mesmo tempo, centro de desenvolvimento econômico e baluarte na defesa de uma região estratégica por excelência e relevante para o País, pelas imensas riquezas do subsolo e da biodiversidade ainda pouco exploradas.
Foi essa visão, por sinal, que deu origem à ZFM. Ela surgiu no meio militar, onde, a partir do final da década de 50, começou a haver preocupação com sinais de cobiça externa em relação à Amazônia, região extensa e de baixo índice demográfico. Sentia-se a necessidade de fazer alguma coisa para deflagrar, ali, o crescimento econômico e marcar a presença do Estado brasileiro.
O presidente Castelo Branco e seu ministro do Planejamento, Roberto Campos, deram forma ao projeto que, no dia 28 de fevereiro de 1967, resultou na criação da Zona Franca de Manaus. A cidade foi escolhida por apresentar as melhores condições para sua instalação e por estar no coração da Amazônia brasileira. Combati muito o regime militar, desde a fase do movimento estudantil, mas devo reconhecer que essa foi uma das medidas mais importantes tomadas em relação à Amazônia. Foi o projeto de desenvolvimento regional que maior êxito alcançou, no País, em todos os tempos.
Aquele entreposto comercial, que começou vendendo produtos estrangeiros com isenção de impostos – uma atração turística – foi aos poucos dando lugar a um dos mais importantes parques industriais do País, com alta densidade tecnológica. Conta, hoje, com mais de 500 empresas, emprega diretamente mais de 100 mil trabalhadores (e, indiretamente, outros 450 mil) e fatura, por ano, o equivalente a US$ 25 bilhões.
O Pólo de Duas Rodas de Manaus, que tem muito da inserção do talento e da obstinação do amazonense, é um orgulho para o Amazonas e para o Brasil.
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