Peço licença ao leitor para abrir o coração e extravasar um pouco da imensa saudade de meu pai, o Senador Arthur Virgílio Filho. Ele morreu duas vezes, no mesmo dia 31 de março. Em 1964, senador, líder de João Goulart, ao ver destruídas as liberdades pelas quais se bateu a vida inteira; em 1987, vítima do preconceito injustificável que até hoje muitos homens teimam em manter, descuidou-se dos exames e foi vítima de um câncer na próstata.
Meu pai foi um grande parlamentar. Não tinha internet, satélite ou TV a cabo para dimensionar-lhe o mandato, como eu próprio tenho, e ainda assim se tornou expressivo.
Presidente da Assembléia do Amazonas, durante o Governo do grande Álvaro Maia, teve o status de vice-governador. Levou o PTB, secretário de Finanças no primeiro Governo de Plínio Coelho, a colocar em dia as finanças estaduais.
Sem história política anterior, meu pai se elegeu deputado estadual graças à força do nome de meu avô, o desembargador Arthur Virgílio – que, aliás, nunca se envolveu nisso. Na reeleição, ainda sem ter firmado o nome, teve que disputar pleito suplementar, em São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, no Alto Rio Negro. Venceu com larga margem e se apaixonou pela região. Queria terminar os dias em São Gabriel e só não o fez pela surpresa da doença. Hoje, conhecendo de perto a beleza da área, eu o entendo perfeitamente.
Deputado Federal vice-líder e Senador líder do PTB governista de João Goulart, fez os discursos mais inflamados em defesa da Democracia nos primeiros dias da ditadura de 1964. No referendo a Castelo Branco, pelo Congresso, os cassados Bocaiúva Cunha, Almino Afonso, Rubens Paiva e Fernando Santana acompanhavam no rádio o pleito. O locutor disse: “O PTB votará a favor do novo presidente”. E, entre eles, comenta-se: “Até o Arthur Virgílio? Não é possível”. Ouve-se a voz de meu pai: “Senhor Presidente, sou um líder sem liderados. Todos os senadores da bancada do PTB votarão a favor de Castelo. Eu, porém, voto contra”. Só ele e Josapha Marinho o fizeram.
Em 1985, na aliança que elegeu Tancredo Neves, se tornou presidente do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). Paulo Macarini era presidente do Iapas, Ézio Cordeiro do Inamps e Waldir Pires ministro da Previdência. Eles fizeram o primeiro e único superávit no setor.
Manaus, primeira cidade brasileira a ter energia pública, após o Período Áureo da Borracha voltou às escuras. O velho Arthur e Almino Afonso, deputados, uniram-se e vararam noites fazendo centenas de emendas ao Orçamento Federal, aproveitando a brecha no regimento que oferecia cinco minutos ao autor, por emenda, para defendê-la na tribuna. Lá pelas tantas, exausto de vê-los falar, o presidente da Casa teve que chamá-los para acordo. Estava garantido o dinheiro para estruturar a Centrais Elétricas de Manaus (CEM).
Deputado Federal, Arthur foi o autor do projeto que criou a Ufam. Senador, tornou este sonho realidade. Confesso que, adversário na época, também desdenhei quando vi o então governador Amazonino Mendes criar a UEA. Aprendi, mais uma vez, que não se deve combater pessoas e sim idéias. A UEA, como a Ufam, é um sucesso e ambas se tornaram indispensáveis para o Amazonas.
Saudades, meu pai.
* É líder do PSDB no Senado
Arhur, parabéns, por mais um belo escrito, que quando deixamos a emoção fluir, em temas que só a família nos requisita para irmos ao mais intimo de nosso coração, podemos dividir a emoção sem vergonha. O velho Manoel Lima, meu pai, vive, e imagino que vc inaltecia o pai em vida, como o faz em morte. Eles merecem, um forte abraço.
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É realmente uma pena que o senador, filho do Grande Senador Artur Virgilio Filho não honre as idéias do pai. O Senador Arthur Virgilio Filho foi um Grande Representante do povo Amazonense, defensor da Reforma Agrária e do monopólio do petróleo.