De ACRITICA.COM, por ANA CELIA OSSAME:
Permissionários do ‘ Mercadão’ temem perder os pontos após determinação do MPE. Eles estão há sete anos fora das bancas
Sete anos depois de terem sido retirados do Mercado Adolpho Lisboa para que o mesmo recebesse obras de restauração, os 182 permissionários do estabelecimento se veem diante de mais um pesadelo, além da espera sem fim. Diante do anúncio da reabertura do mercado no próximo dia 24 de outubro, aniversário de Manaus, um ofício do Ministério Público do Amazonas (MP-AM) encaminhado à Prefeitura Municipal esta semana, comunicou a necessidade de abertura de nova concorrência para a ocupação dos espaços comerciais do conhecido ‘Mercadão’.
A notícia soou como tempestade para permissionários como dona Judith Braga Formoso, 77, e Raimundo Marinho, 77, ambos trabalhando diariamente ali desde a década de 50 do século passado. “Não quero acreditar nisso, prefiro pensar que vai se resolver da melhor forma porque não tem sentido essa proposta”, afirmou Raimundo Marinho, que comprou em 1958 a banca onde começou a trabalhar em 1960. O vice-presidente da Associação dos Permissionários do Mercado, Márcio Nogueira, foi outro a lamentar a proposta, que considerou desnecessária. “Acho que é preciso saber que os permissionários têm matrícula e não podem ser retirados dali de qualquer maneira”, disse.
Desastrosa
Após pedir que os permissionários reúnam toda documentação e registros das atividades deles, a fim de juntar provas que comprovem o tempo que trabalham no mercado, Rafael Assayag, secretário Municipal Extraordinária para Requalificação do Centro (Semex), qualificou de desastrosa a proposta do Mínistério Público pelos transtornos que trará em todos os aspectos. Apesar de acreditar na melhor das intenções do Ministério Público, Assayag disse que que seria uma injustiça levá-los a uma nova disputa de espaço, dado a história de vida e de trabalho de cada um. “Nós entendemos o cuidado do Ministério Público no sentido de que o poder público não faça obras para a iniciativa privada, mas não se pode deixar de perceber que este não é o caso do Adolpho Lisboa, onde os feirantes têm uma história de vida e são a própria vida do mercadão”, acrescentou ele, lembrando que o mercado não pode ser comparado à Ponta Negra, onde houve licitação para a ocupação da área comercial.
A reportagem entrou em contato com o MP-AM, mas de acordo com a assessoria de imprensa do órgão, o promotor de Patrimônio Público, Antônio Mancília, somente hoje enviará uma nota à imprensa para justificar a proposta.
Enquanto isso, no improviso das bancas, na área de trás do mercadão, feirantes como Raimundo Marinho preferem ser otimistas. “Não vou ficar triste e pessimista. Não tenho mais idade para isso. Espero que os documentos provando a compra do box sejam suficientes para garantir meu direito”, finalizou.
Ponto turístico que faz falta
O Mercado Adolpho Lisboa é um ponto turístico que tem feito falta nas fotos de turistas que visitam Manaus, pela beleza, importância histórica e artística. O prédio tem duas fachadas distintas, uma de frente para o Rio Negro e outra para a Rua dos Barés, no Centro, Zona Centro-Sul, foi tombado em julho de 1987 pelo Iphan.
O conjunto foi construído com quatro pavilhões: o principal, central e maior; dois laterais (de peixe e carne) e o “Pavilhão das Tartarugas”. O corpo central do edifício é vazado por um portão que ocupa quase a metade do segundo pavimento. No térreo, esse portão é ladeado por duas janelas de vergas retas coroadas com frontões triangulares, e no segundo pavimento há dois pares de janelas geminadas.
A conclusão da obra do Mercado Adolpho Lisboa foi adiada diversas vezes, em meio a polêmicas envolvendo a Prefeitura, a Câmara de Vereadores, o Ministério Público Federal e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As pedras de Lioz, piso original do mercado, um dos pontos que motivaram o embargo das obras pelo MPF foram mantidas na nave central e no calçamento em torno do prédio. No interior dos boxes e nas áreas de serviço foram colocados pisos cerâmicos, de fácil manutenção e higienização. Os demais serão inteiramente revestidos com pisos cerâmicos. Foram conservados também os dois quiosques de ferro, localizados nos cantos da calçada da Rua dos Barés, com telhas de metal em forma de pétalas.
Comentário meu: Convenhamos que além de inoportuna, é indevida essa manifestação do MP. Alguns promotores, ainda bem que em minoria, pensam que foram eleitos para administrar a cidade. Não foram, nem disputaram a eleição, mas metem-se até na questão de banca no mercado quando deveriam estar cuidando das suas relevantes responsabilidades constitucionais.
Lamentável.