Uma das maiores angústias que sofre um administrador público é a demora para que as coisas aconteçam. Às vezes, o dinheiro não é o maior problema. A burocracia é cruel. Emperra e complica.
Estávamos construindo escolas e havia uma muito especial na Zona Sul. Era a maior escola em número de salas de aula na área. A obra, no entanto, era lenta. De outro lado, vereadores da área, principalmente o Elias Emanuel (que é um chato, no bom sentido da palavra), cobravam a conclusão da obra. Eu cobrava do Secretário José Cyrino, que cobrava do sub de infra-estrutura, que cobrava da empreiteira, mas o fato era que a criança não nascia.
Passei, então, juntamente com o secretário, a ir à obra e cobrar diretamente do empreiteiro. Melhorou o ritmo, mas ainda assim era devagar.
Finalmente a obra ficou pronta. Havia, no entanto, um problema. Abandonada nos fundos da escola tinha uma máquina velha, uma sucata na verdade, uma montanha de ferro velho. Perguntei o que era aquilo e o empreiteiro informou que pertencia ao antigo dono do terreno que recebeu a desapropriação, ficou de tirar aquela máquina que não servia para mais nada, mas não tirou.
Aproximava-se o dia da inauguração e aquele monstrengo lá. Cobrei do empreiteiro uma solução.
No dia da inauguração, estava tudo limpo. Tudo gramado. Tudo bonito.
O empreiteiro, com o sorriso do dever cumprido, disse-me:
“Não lhe disse, prefeito. Ficou pronto na data.”
“E aquela máquina velha?” perguntei.
“Tá resolvido. Não pergunte como, mas tá resolvido.” disse ele.
Inaugurei a escola, a comunidade ficou alegre, o Elias Emanuel comemorou. Todos felizes. Eu, no entanto, fiquei intrigado.
Tempos depois encontrei o empreiteiro trabalhando em outra escola e perguntei como tinha sido resolvido o problema porque pelo volume, para retirar aquela máquina, precisaria montar uma grande operação.
Ele respondeu:
“Prefeito, o senhor quer saber mesmo?”
“Quero”
“Era impossível tirar a máquina. Então, nós levamos um trator, cavamos um grande buraco, enterramos a máquina e cobrimos com terra. Depois gramamos e ficou aquela beleza. O que importa é que tá resolvido.”
Conto isso para que no futuro, se alguém for cavar no fundo daquela escola e encontrar um monte de ferro, saiba como ele foi parar ali.