De O GLOBO ON LINE por Maria Lima, Gerson Camarotti e Silvia Amorim
BRASÍLIA e SÃO PAULO – A polêmica que tem dominado o debate eleitoral neste início de segundo turno, em torno do aborto, deverá ser tratada de forma indireta no horário eleitoral gratuito, que recomeça nesta sexta-feira. Em sua reestreia, o programa da petista Dilma Rousseff será pautado pelas respostas contundentes à onda de boatos que a envolve em polêmicas com as igrejas católica e evangélica, mas a palavra aborto não será pronunciada. O programa do candidato tucano, José Serra, trará uma mensagem em defesa da valorização da vida, deixando subentendida a posição da campanha tucana contrária ao aborto. A propaganda vai usar uma das propostas de governo do tucano, o programa Mãe Brasileira, que prevê auxílio pré-natal para gestantes da rede pública de saúde, para mandar um recado. Em nenhum momento, será pronunciada a palavra aborto.
No programa de Dilma, ela e o presidente Lula aparecerão rechaçando o que chamam de campanha de calúnias jamais vistas no Brasil. Na volta à TV, Dilma aproveitará para fazer um afago, ao citar a candidata derrotada do PV, Marina Silva:
Nos dez minutos de programa no rádio e na TV, Dilma terá três falas. Numa, usará dados comparativos entre os governos Lula e FH. Em sua primeira fala, Dilma agradecerá os votos do primeiro turno. Depois, vai conclamar eleitores e militantes para o segundo turno. E rebaterá os ataques, repetindo que é a favor da vida e que está “sofrendo na pele uma das campanhas mais caluniosas que o Brasil já assistiu”.
Lula não fez uma nova gravação para o primeiro programa. Sua aparição será num comercial de 30 segundos, que já foi usado nos últimos programas de Dilma no primeiro turno, em que ele repele a onda de ataques a Dilma, e lembra que também foi vítima de ataques no passado.
Ao som de um samba-enredo, o programa começará com um clipe de momentos da campanha. Intercalando a fala de Dilma e os depoimentos dos governadores e senadores aliados eleitos, serão mostradas comparações, como as conquistas na área de emprego e outros indicadores positivos dos programas sociais do governo Lula. Entre os que deverão aparecer estão os governadores reeleitos Cid Gomes (CE), Eduardo Campos (PE), Jaques Wagner (BA) e Sérgio Cabral (RJ), além de Renato Casagrande, eleito governador no Espírito Santo, e Tarso Genro, que venceu no Rio Grande do Sul. O único derrotado a aparecer será petista mineiro Fernando Pimentel, amigo de Dilma.
FH deve gravar mensagem de apoio a Serra
No retorno ao horário eleitoral, a campanha tucana também pretende explorar os apoios políticos a Serra. As personalidades que devem aparecer no programa de estreia recomendando voto em Serra são mantidas em segredo. Há expectativa por parte dos partidos aliados e de líderes tucanos de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso grave uma mensagem de apoio ao presidenciável.
Pelo menos a imagem do ex-presidente deverá ser usada neste segundo turno. Estava sendo preparado nesta quinta-feira, pela equipe de comunicação da campanha, chefiada pelo marqueteiro Luiz Gonzalez, um comercial em que apareceria a imagem de FH e de outros presidentes. A dúvida era se a peça já irá ao ar hoje.
A comparação entre os currículos de Serra e Dilma entrará em cena já no programa desta sexta-feira. O tom a ser usado, entretanto, será leve. Passagens polêmicas na vida da petista, como a ação na guerrilha durante a ditadura, ficarão de fora. Há uma preocupação do marketing em passar mensagem propositiva, sem discursos agressivos ou ataques.