Era junho de 1985, meu pai, Umberto Lobato Rodrigues, então com 39 anos de idade, resolveu fazer uma viagem para Parintins comigo, então com 11 anos, e com o meu irmão Umberto, então com 9.
Foi uma viagem diferente. Chegando em Parintins, pegamos um barco regional do meu avô, Manoel Teixeira Rodrigues, e saímos a navegar pela região. A primeira parada foi em uma fazenda onde acompanhamos a capação dos bois, cujos colhões viraram o ensopado do jantar. Confesso que preferi o caldo feito com as piranhas que tínhamos pescado a tarde.
Nessa andança, teve também o dia em que nos perdemos e dormimos com o barco ancorado em um lago, quando vi a noite mais linda e estrelada da minha vida e onde também peguei a maior surra de carapanã da minha vida. E aqueles carapanãs não respeitavam mosqueteiro e muito menos repelente.
Sem entender a “maldade” do meu pai com dois meninos urbanos e nada acostumados com essas aventuras, a surpresa foi ainda maior quando no Lago do Aduacá, entre Parintins e Nhamundá, o barco parou e atracou num ponto a esmo, sem qualquer sinal de habitação.
Foi ai que entendemos o sentido daquele inusitado passeio. Meu pai pegou a mim e ao meu irmão e saiu conosco a procurar algo. Ao deparar-se com tocos que pareciam ser os escombros do que um dia fora uma casa de madeira, disse a nós: “Foi aqui que eu nasci.”. Agregando a essa frase palavras que nos ensinavam as dificuldades da vida e o valor do trabalho e da honestidade.
Isso foi em junho. Seguimos a viagem, voltamos a Manaus. Em outubro, desse mesmo ano de 1985, numa partida de futebol, o pai que nos levou pra mostrar o lugar onde nasceu, teve um enfarto fulminante e se foi.
Moral da história. Viaje agora, dê lições agora, dê exemplos agora, diga eu te amo agora, beije agora. Só assim, independente do que acontecer, seu filho terá você na sua vida para sempre, assim como eu, o Beto, a Glenda e o Rodrigo temos o nosso pai até hoje, mesmo passados 25 anos da sua morte.
Marcelo Ramos é advogado e deputado estadual pelo PSB. www.deputadomarceloramos.com.br