Ministros julgam constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa

O plenário do Supremo Tribunal Federal, em Brasília

Do Blog do Noblat:

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) retomam às 14h de hoje (23) o julgamento do recurso que contesta a validade da Lei da Ficha Limpa para as eleições de outubro.

O julgamento foi encerrado ontem (22) após o ministro Dias Toffoli pedir vista (mais tempo para análise) da questão levantada pelo presidente do Supremo, Cezar Peluso.

Para Peluso, o fato de a emenda do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) – que alterou o tempo verbal da Lei – não ter sido analisada pela Câmara, tornou as novas regras de inelegibilidade inconstitucionais.

O início da sessão de hoje será destinado para discutir essa questão.

Caso a maioria entenda que o presidente do Supremo está certo, o julgamento da Ficha Limpa termina por ai, pois a Lei passará a ser considerada inconstitucional.

Caso o entendimento de Peluso seja derrubado, os ministros passam a julgar o “mérito” do recurso de Roriz. Pelo reação inicial dos ministros ontem no plenário, essa deve ser a tendência.

Por outro lado, o ambiente ainda é de incerteza quanto ao resultado final do julgamento, principalmente, quanto ao voto da ministra Ellen Gracie.

Desde a saída do ministro Eros Graus, que se aposentou no início do mês passado, apenas 10 cadeiras do Supremo estão ocupadas.

Por isso, se o placar ficar empatado em 5 a 5 uma nova questão deve ser levantada pelos ministros para decidirem como vão desempatar o placar final.

Entre as alternativas está:

1) O presidente Cezar Peluso apresenta um “voto de qualidade”. Ou seja, vota pela segunda vez.

2) Os ministros podem optar por aguarda a indicação do 11° ministro que após assumir a cadeira daria o voto sobre a Ficha Limpa. A escolha de um novo ministro deve ocorrer apenas depois das eleições.

3) Um ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) pode ser convocado para apresentar um voto de desempate.

O julgamento de hoje tem como base recurso apresentado ao STF pelo candidato Joaquim Roriz (PSC). Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter renunciado ao cargo de senador, em 2007, para escapar de um processo de cassação iniciado no Conselho de Ética.

One thought on “Ministros julgam constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa

  1. “Lei da Ficha Limpa põe em risco o estado de direito”
    Postado por: Carlos Zamith Junior em Direito

    Entrevista concedida por Eros Grau, ex ministro do STF, publicada no jornal Estado de São Paulo, edição de ontem, 05.

    Eros Roberto Grau deixou a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) convencido de que a Lei da Ficha Limpa põe “em risco” o Estado de Direito. Ele acusa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de ignorar o princípio da irretroatividade das leis. “Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete. Estou convencido de que a Lei Complementar 135 é francamente, deslavadamente inconstitucional.”

    O ministro sai do Supremo, após quase seis anos na mais alta instância da Justiça, onde chegou por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em junho de 2004. Em entrevista ao Estado, Eros Grau critica também as transmissões dos julgamentos. “Isso só vai acabar no dia em que um maluco que se sentir prejudicado agredir ou der um tiro num ministro”, afirmou.

    O senhor deu várias demonstrações de cansaço no STF. O que o desanimou?

    O fato de as sessões serem transmitidas atrapalha muito, porque algumas vezes o membro do tribunal se sente, por alguma razão, compelido a reafirmar pontos de vista. Existem processos que poderiam ser julgados com maior rapidez. Muitas vezes a coisa fica repetitiva e poderia ser mais objetiva.

    O senhor é contra as transmissões?

    Essa prática de televisionar as sessões é injustificável. O magistrado não deve se deixar tocar por qualquer tipo de apelo, seja do governo, seja da mídia, seja da opinião pública. Tem que se dar publicidade à decisão, não ao debate que pode ser envenenado de quando em quando. Acaba se transformando numa sessão de exibicionismo.

    Existe a possibilidade de o tribunal deixar de exibir as sessões ao vivo?

    Isso só vai acabar no dia em que um maluco que se sentir prejudicado agredir ou der um tiro num ministro. Isso pode acontecer em algum momento. Até que isso aconteça, haverá transmissão. Depois não haverá mais.

    Em algum momento o senhor foi abordado na rua dessa forma?

    Eu estava no aeroporto de Brasília com a minha mulher, depois do julgamento da lei de anistia, e veio uma maluca gritando, dizendo: “aí, está protegendo torturador”. Foi a única vez que me senti acossado.

    Para Eros Grau, o que é ficha limpa?

    “Ficha limpa” é qualquer cidadão que não tenha sido condenado por sentença judicial transitada em julgado. A Constituição do Brasil diz isso, com todas as letras.

    Políticos corruptos não são uma ameaça aos cofres públicos e ao estado de direito?

    Sim, sem nenhuma dúvida. Políticos corruptos pervertem, são terrivelmente nocivos. Mas só podemos afirmar que este ou aquele político é corrupto após o trânsito em julgado, em relação a ele, de sentença penal condenatória. Sujeitá-los a qualquer pena antes disso, como está na Lei Complementar 135 (Ficha Limpa), é colocar em risco o estado de direito. É isto que me põe medo.

    O que está em jogo não é a moralidade pública?

    Sim, é a moralidade pública. Mas a moralidade pública é moralidade segundo os padrões e limites do estado de direito. Essa é uma conquista da humanidade. Julgar à margem da Constituição e da legalidade é inadmissível. Qual moralidade? A sua ou a minha? Há muitas moralidades. Se cada um pretender afirmar a sua, é bom sairmos por aí, cada qual com seu porrete. Vamos nos linchar uns aos outros. Para impedir isso existe o direito. Sem a segurança instalada pelo direito, será a desordem. A moralidade tem como um de seus pressupostos, no estado de direito, a presunção de não culpabilidade.

    A profusão de liminares concedidas a candidatos, inclusive pelo Supremo, não confunde o eleitor?

    Creio que não. Juízes independentes não temem tomar decisões impopulares. Não importa que a opinião publicada pela imprensa não as aprove, desde que elas sejam adequadas à Constituição. O juiz que decide segundo o gosto da mídia não honra seu ofício. De mais a mais, eleitor não é imbecil. Não se pode negar a ele o direito de escolher o candidato que deseja eleger.

    Muitos partidos registraram centenas de candidaturas mesmo sabendo que elas poderiam ser enquadradas na Lei 135/2010, que barra políticos condenados por improbidade ou crime. Não lhe parece que os partidos estão claramente atropelando a Lei da Ficha Limpa, esperando as bênçãos do Judiciário?

    Não, certamente. O Judiciário não existe para abençoar, mas para aplicar o direito e a Constituição. Muito pior do que corrupto seria um juiz, medroso, que abençoasse. Estou convencido de que a Lei Complementar 135 é francamente, deslavadamente inconstitucional.

    Como aguardar pelo trânsito em julgado se na esmagadora maioria das ações ele é inatingível?

    O trânsito em julgado não é inatingível. Pode ser demorado, mas as garantias e as liberdades públicas exigem que os ritos processuais sejam rigorosamente observados.

    A Lei da Ficha Limpa é resultado de grande apelo popular ao qual o Congresso se curvou. O interesse público não é o mais importante?

    Grandes apelos populares são impiedosos, podem conduzir a chacinas irreversíveis, linchamentos. O Poder Judiciário existe, nas democracias, para impedir esses excessos, especialmente se o Congresso os subscrever.

    Não teme que a Justiça decepcione o País?

    Não temo. Decepcionaria se negasse a Constituição. Temo, sim, estarmos na véspera de uma escalada contra a democracia. Hoje, o sacrifício do direito de ser eleito. Amanhã, o sacrifício do habeas corpus. A suposição de que o habeas corpus só existe para soltar culpados levará fatalmente, se o Judiciário nos faltar, ao estado de sítio.

    O senhor teme realmente uma escalada contra a democracia?

    Temo, seriamente, de verdade. O perecimento das democracias começa assim. Estamos correndo sérios riscos. A escalada contra ela castra primeiro os direitos políticos, em seguida as garantias de liberdade. Pode estar começando, entre nós, com essa lei. A seguir, por conta dessa ou daquela moralidade, virá a censura das canções, do teatro. Depois de amanhã, se o Judiciário não der um basta a essa insensatez, os livros estarão sendo queimados, pode crer.

    Por que o Supremo Tribunal Federal nunca, ou raramente, condena gestores públicos acusados por improbidade ou peculato?

    Porque entendeu, inúmeras vezes, que não havia fundamentos ou provas para condenar.

    Que críticas o senhor faz à forma do Judiciário decidir?

    As circunstâncias históricas ensejaram que o Judiciário assumisse uma importância cada vez maior. Isso pode conduzir a excessos. O juiz dizer que uma lei não é razoável! Ele só pode dizer isso se ele for deputado ou senador. Os ministros não podem atravessar a praça (dos Três Poderes, que separa o Supremo do Congresso). Eu disse muitas vezes isso lá: isso é subjetivismo. O direito moderno é a substituição da vontade do rei pela vontade da lei. Agora, o que se pretende é que o juiz do Supremo seja o rei. É voltar ao século 16, jogar fora as conquistas da democracia. Isso é um grande perigo.

    Isso tem acontecido?

    Lógico. Inúmeras vezes o tribunal decidiu, dizendo que a lei não é razoável. Isso me causa um frio na espinha. O Judiciário tem que fazer o que sempre fez: analisar a constitucionalidade das leis. E não se substituir ao legislador. Não fomos eleitos.

    O senhor tem coragem de votar em um político com ficha suja?

    Entendido que “ficha-suja” é unicamente quem tenha sido condenado por sentença judicial transitada em julgado, certamente não votarei em um deles. Importante, no entanto, é que eu possa exercer o direito de votar com absoluta liberdade, inclusive para votar em quem não deva.

    O senhor está deixando o STF. Retoma a advocacia? Aceitará como cliente de sua banca um folha corrida?

    Terei mais tempo para ler e estudar. Escrever também, fazer literatura. E trabalhar com o direito. Para defender quem tenha algum direito a reclamar, desde que eu me convença de que esse direito seja legítimo. Ainda que se o chame de “folha corrida”.

    E para Brasília o senhor pretende voltar?

    Brasília é uma cidade afogada, seca, onde você não é uma pessoa, você é um cargo

    Este post foi postado Sexta-feira, 6 de Agosto de 2010 às 9:45 am e está em Direito. Você pode verificar qualquer resposta a este post através do feed RSS 2.0. Você pode deixar uma resposta, ou fazer um trackback de seu próprio site.

    SENSATO,LÚCIDO E EQUILIBRADO
    COMOÇÃO NÃO É RAZÃO,CUIDADO BRASIL

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