Mestrinho é homenageado no Senado

Na tribuna do Senado, Arthur presta homenagem a Gilberto Mestrinho
Na tribuna do Senado, Arthur presta homenagem a Gilberto Mestrinho

As qualidades de Gilberto Mestrinho: coragem pessoal e política, determinação, perseverança, humildade, foram ressaltadas, hoje, em sessão especial do Senado que, requerida pelo líder tucano Arthur Virgílio Neto, durou quase quatro horas.

“Ele era um mito no Amazonas”, ressaltou Arthur, que, primeiro orador, falou por mais de uma hora, recebendo apartes de Tião Viana (PT-AC), José Agripino (RN, líder do DEM), Eduardo Suplicy (PT-SP), Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Expedito Júnior (PSDB-RO).

A sessão foi aberta pelo senador Jefferson Praia (PDT-AM), com a presença do ministro do STF Mauro Campbell Marques (que, aos 26 anos de idade, foi secretário de Justiça do governador Mestrinho), Mário Nogueira, representante do Governo do Rio Grande do Sul, e os filhos e filhas do homenageado: deputado estadual João Thomé, advogado Luiz Carlos, Maria e Lila.

Em nome da liderança do PSDB, falou o senador Flexa Ribeiro (PA). Pelo PMDB – partido a que pertencia Mestrinho – discursou o líder Renan Calheiros (AL).

Ocuparam a tribuna ainda Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Garibaldi Alves (PMDB-RN), João Pedro (PT-AM), deputada Rebecca Garcia (PP-AM) e Lupércio Ramos.

João Thomé Mestrinho, um dos que falaram pela família, disse saber o quanto seu pai admirava o senador Arthur Virgílio, mesmo nas divergências. “Assim é que se faz política”, assinalou. Agradeceu a todos pela homenagem, especialmente a Arthur. “Sou presidente em exercício do meu partido, o PMDB, no Amazonas. Não sei se o meu partido irá caminhar junto no ano que vem com o companheiro Arthur, mas quero dizer isto de público aqui, porque eu sempre fui muito positivo nas minhas posições: você será um dos meus candidatos ao Senado. Não digo o mesmo dos outros cargos, mas são duas vagas, uma eu lutarei por você.”

Segundo Arthur, Mestrinho era “figura de coragem a toda prova”. “Não a coragem do arroubo, não a coragem da explosão, mas a coragem da determinação, da resistência”, acrescentou. Quando houve forte oposição à posse de João Goulart (após a renúncia de Jânio Quadros), Brizola, no Rio Grande do Sul, foi o primeiro governador a exigi-la. O segundo foi Mauro Borges, de Goiás, e o terceiro, Gilberto Mestrinho. Era demonstração de coragem, lembrou o senador, porque grande parte dos militares se oponha à posse do vice-presidente.

Mais tarde, vitorioso o movimento de 64 – ainda conforme o líder tucano – Mestrinho teve de deixar o Amazonas e exilar-se no Rio de Janeiro. Por 19 anos, não pôde voltar. Mas a população não o esquecia. Virou mito. Criou-se uma espécie de sebastianismo: “um dia, ele voltará”. Restaurada a eleição direta, ele realmente voltou e sua candidatura se tornou imbatível.

Arthur Neto, que falava de improviso, relatando fatos da vida política amazonense e da atuação de Mestrinho como senador, observou que nem sempre estiverem do mesmo lado. Foi derrotado por ele numa disputa pelo governo do Estado. Preparou-se então, silenciosamente, para concorrer à Prefeitura de Manaus. Nas oposições, havia quatro ou cinco pretendentes, acreditando que a vitória seria fácil. De repente, Mestrinho chega do Rio de Janeiro e se declara candidato. Todos se recolheram. Arthur disse ter levado um susto, pois não contava ter de enfrentar Mestrinho. “Lutei feito um cão”, assinalou. “O governador Mestrinho me deve 12 quilos que perdi naquela eleição, mas tive a honra de haver enfrentado um homem do seu calibre e vencido.”

No Senado também nem sempre estiveram do mesmo lado. Estavam juntos quando se tratava de defender o Polo Industrial de Manaus. Mas divergiram, por exemplo, no caso da Lei das Florestas. Arthur disse que sempre respeitou, porém, as posições de Mestrinho, pois sabia serem frutos de convicções firmes. E ele apresenta argumentos coerentes.

Não obstante as divergências eventuais, tinham boas relações pessoais. “Era um convívio delicioso no dia a dia”, disse. “Uma ótima conversa, uma figura culta, o tempo todo educado, correto, capaz de empenhar a sua palavra e nunca a descumpria. Essa foi sua marca. Era ligado ao seu partido, incapaz de abandoná-lo, incapaz de correr da luta, ainda que fosse inglória.”

“Gilberto Mestrinho – concluiu – deixa uma grande lição: a de que a humildade é fundamental, a de que a perseverança é a marca maior do vitorioso, a de que a coerência é importante (em 20 anos de regime militar, nunca trocou de lado, apesar de propostas atraentes). E chegou a um ponto em que não dependia mais de mandato, de vitória nem de voto. Criou um nome no Estado e no País. Se ele entrasse agora aqui, qual de nós não iria ouvi-lo, pedir alguma opinião, um conselho? Ele tinha o mandato da grandeza.”

One thought on “Mestrinho é homenageado no Senado

  1. Muito bonito o texto, prefeito. Se o senhor me permite, só achei que o senhor poderia falar também um pouco sobre a trajetória do ex-senador na sua visão.

    Saudações!

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