Aquele dia parecia um dia normal. Era um período de muito trabalho, estava no auge da minha vida profissional como advogado trabalhista e sairia para mais um dia de muitas audiências, atendimentos e provavelmente uma passada no Bar do Armando no final do dia para jogar dominó e tomar uma cerveja.
Mas não foi um dia normal. Se ao sair de casa minha filha Maria Carolina apresentava um quadro de febre e choro, a tarde esse quadro era anunciado pelos médicos como rotavírus e no início da noite, quando eu já estava no hospital, era confirmado o diagnóstico de meningite meningocócica tipo B, a mais fulminante.
Removida para o Hospital Tropical já em estado gravíssimo, os médicos resolveram transferi-la para a UTI neonatal de um hospital particular. Maria Carolina e a mãe entraram na UTI Móvel e eu fui na frente com o motorista. Já imagina que seria a última vez que veria a minha filha viva. E foi!
Lembro que, ainda com a roupa que passara o dia trabalhando, disse ao motorista da ambulância: “Como é a vida, passei o dia trabalhando enquanto a minha filha estava morrendo e nem todo dinheiro que ganhei até aqui e nem todo dinheiro do mundo poderia nesse momento comprar o que mais quero: minha filha com vida”.
Relembro essa história, porque insistimos em deixar de expressar nossos sentimentos e de fazer sacrifícios pelas pessoas que mais amamos, porque poderemos fazer amanhã, outro dia, porque hoje temos coisas mais importantes pra fazer.
O outro dia, o amanhã, pode não existir nesses casos. A hora de dizer eu te amo, de dar um abraço fraterno, de remarcar um compromisso para ficar com seu filho, seus pais, seus amigos verdadeiros, é agora!
Ficou o cheiro do perfume, a lembranças dos primeiros sorrisos, a certeza de que existe um anjinho que me guarda, mas os abraços, os beijos, os carinhos que deixei de dar à Maria Carolina, para esses não existiu o amanhã.
Publicado originalmente no Dez Minutos.
Marcelo,
Somente aquele que perde um ente sabe da dimensão de uma dor dessas. Imagino o quão dificil tem sido relembrar os bons momentos vividos com um anjo vivo, e o quão dificil continuar vivendo com um verdadeiro anjo…
De cá minha admiração e respeito ainda que discorde de certas opiniões suas, mas que sei serem necessárias.
Fraterno abraço
César Corrêa
Não entrei neste site para pixá-lo. Isso nunca. Mas, se, um post como este em que fiz uma alusão de que desta dor alguem podia compartilha-la tentando amenizar uma outra dor, não saiu,calo esta minha voz que sempre em seu favor advogou.