A bioeconomia configura, inquestionavelmente, o eixo central do crescimento da Amazônia por meio da exploração sustentável dos recursos da biodiversidade, dentre estes o manejo florestal sustentável. Impõe-se, por conseguinte, administrar, com inteligência e conhecimento, esse legado da natureza em harmonia secular com o ambiente, graças a um processo evolutivo de milhões de anos. De acordo com o pesquisador do Inpa, Niro Higuchi, além de máximo zelo e extremos cuidados técnicos dispensados quando da exploração dos recursos dos ecossistemas florestais, a preservação ambiental requer estrita observância às preciosas informações genéticas que o bioma encerra, aplicáveis a praticamente todas as áreas do conhecimento e do setor produtivo (agricultura, medicina, bioindústria, produção de alimentos, etc).
Ferramentas como o Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE e o Manejo Florestal Sustentável (MFS) já oferecem respostas conclusivas às magnas questões subjacentes ao “onde”, o “que” e “como” produzir com sustentabilidade na região. Necessário se torna levar em conta adicionalmente o “como” inserir necessidades dos mais de 25 milhões de habitantes da Amazônia nesse processo. Solucionar esses desafios depende da adoção de políticas públicas voltadas a conciliar o atendimento das necessidades do homem, de sua sobrevivência, do seu bem-estar, da sua inserção no tecido social e econômico, como ente produtivo, e, simultaneamente, garantir o respeito à integridade do bioma. O dilema maior.
Afinal, árvores não são mais importantes que seres humanos, nem animais selvagens superiores a populações autóctones. Dicotomias desafiadoras, que exigem iniciativas governamentais destinadas, de um lado, ao combate implacável da exploração florestal predatória, e, de outro, à garantia da integridade das áreas de conservação ambiental. Nesse sentido, torna-se fundamental priorizar projetos agropecuários e de manejo florestal sustentáveis, ao par da exploração das vocações nativas “não madeiráveis” (açaí, castanha, plantas medicinais, fruticultura, piscicultura, turismo, etc.). Viabilizar esse complexo operacional depende de investimentos em PD & I, em pessoal técnico de produção, no treinamento do produtor sobre técnicas preservacionistas e na modernização do efetivo militar de segurança.
Segundo Higuchi, “na exploração florestal o desperdício é ainda muito grande. A retirada de uma árvore comercial implica em danos em quase 20 outras árvores, com diâmetros maiores que 10 cm. Na transformação, as melhores serrarias não atingem 30% de aproveitamento da tora. O desperdício de 70% no pátio da indústria é lixo e poluição ambiental. Se, pelo menos, este desperdício fosse deixado na floresta, poderia ser aproveitado como fertilizante”. Por outro lado, tendo por base a área geográfica do Amazonas de 1.500.000 km2, e a exploração de 25% do total apenas para manejos florestais, a disponibilidade de áreas de base exploratória seria de 375.000 km2 ou 37.500.000 hectares. Levando-se em conta que uma serraria demanda 1000 hectares por ano para suprir suas necessidades de matérias primas, e um MFS de 25 anos de pousio, teríamos disponibilidade de 25.000 hectares por serraria. Operações de 1500 serrarias, faturando R$ 2 milhões mensais, produziriam receitas anuais da ordem de R$ 36 bilhões, gerando 75.000 empregos diretos. O equivalente a um Polo Industrial de Manaus (PIM) em termos de faturamento e geração de postos de trabalho via exploração sustentável do potencial madeireiro, mantida intacta a flora e fauna.
Enquanto isso, assiste-se a guerras fratricidas entre órgãos de médio e alto escalão, envolvendo Polícia Federal, Ibama, Icmbio, Ministério do Meio Ambiente, sob o olhar impassível do governo estadual e da Suframa, sem que se chegue a entendimento definitivo sobre o cumprimento dos dispositivos do Código Florestal vis-à-vis a ingente e inadiável necessidade de promover a ampliação e integração da matriz econômica do Estado.