O Fórum de Estudos Econômicos e Sociais para o Desenvolvimento Sustentável – FOCOS vem discutindo, às segundas-feiras à noite, por meio de webinars temáticos, a conjuntura social, política e econômica do Amazonas. O grupo, ainda restrito, vem, contudo, a cada semana ampliando o número de participantes numérica e qualitativamente. Dele participam professores da universidade, pesquisadores do Inpa e da Embrapa, escritores, deputados, técnicos da Suframa, profissionais liberais de diversas áreas e empresários.
Na segunda-feira passada, 26, o encontro foi com o economista Sérgio Amed e Silva, diretor do Sindicato da Indústria Madeireira do Amazonas e Vice-Presidente do Fórum Nacional de Base Florestal (FNABF), que abordou “A Importância do Manejo Florestal (MFS) para um Projeto de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia”. Em sua análise técnica fez questão de acentuar, enfaticamente, que o manejo florestal, em primeiro lugar significa empreender a utilização racional e ambientalmente adequada dos recursos da floresta, baseado em três eixos fundamentais: o ecológico, o social e o econômico.
A atividade proporciona, dentro de técnica científica, a perpetuação da floresta através da colheita das árvores que já cumpriram seu ciclo de vida, permitindo a regeneração florestal e fixação de carbono em proporção superior àquele que foi retirado. Legalmente, manejos podem ser implantados em reservas legais, florestas públicas e áreas florestais não destinadas. Definitivamente, segundo Amed e Silva, não há como confundir MFS com corte raso, predatório, instrumento principal de destruição do bioma. A disponibilidade, segundo o IBGE, de mais de 340 milhões de hectares de mata nativa e mais de 107 mil km2 de água da bacia, apenas na Amazônia brasileira, dá a exata dimensão do potencial de geração de emprego, renda e divisas internacionais resultantes de saldos da balança comercial, garantindo, ao mesmo tempo, a perpetuação da floresta.
De acordo com o engenheiro Vladimir Paixão e Silva, professor da Ufam, Gilberto Mestrinho foi o primeiro governador do Amazonas a vislumbrar a extraordinária dimensão do manejo sustentável para a economia brasileira. Não apenas “por trazer no seu bojo a real possibilidade de criar uma nova ZF no Amazonas, com a geração de milhares de empregos, mas também face à possibilidade de suprir com energia elétrica, de maneira ambientalmente correta, o interior do Estado”. Hoje, “majoritariamente as sedes dos municípios são supridas a geradores elétricos acionados por motores diesel que “queimam” combustível fóssil para gerar energia elétrica, com sérios e desnecessários impactos ambientais”, acrescenta.
O ineditismo do programa de Mestrinho, salienta Paixão e Silva, não se cinge à geração termelétrica propriamente dita, tecnologia conhecida e aplicada desde o advento da máquina a vapor, mas no manejo florestal nele embutido. A meta previa implantar, ao longo de seu governo (1983-1986), 17 usinas a lenha picada em sedes municipais. A unidade pioneira situava-se em Manacapuru, seus geradores acionados por duas turbinas a vapor com potência unitária de 6 MW (Megawatts), permitiria a essa pequena usina termelétrica – UTE produzir um total de 12 MW.
A primeira UTE foi instalada em Manaus pela CEM, em 1962, com potência em torno de 30 MW, fornecida por 4 turbogeradores a vapor de 7,5 MW cada. A grande novidade, salienta Vladimir, é que a floresta energética de cada usina seria dividida em 25 talhões (projetos típicos de MFS), cada um deles fornecendo matéria prima quando da retirada anual de indivíduos com Diâmetro Acima do Peito – DAP superior a 30 cm, critério que garantiria o abastecimento de biomassa original da usina por por mais 25 anos. Findo o ciclo, a operação retornaria ao primeiro talhão, já renovado, para uma nova utilização da madeira. Por problemas de gestão, o projeto da usina de Manacapuru foi interrompido. Por que não retomá-lo?