Por Sandro Vaia
O ex-ministro Delfim Neto,desde seus tempos de czar da economia da ditadura, cultiva um sarcasmo bem peculiar. Ele, que fora dos holofotes costuma dizer o que não é politicamente correto dizer em público, definiu melhor aquilo que o governo Lula apresenta como uma de suas maiores façanhas.
Na banca examinadora da tese de doutorado (que seria mais correto chamar de comício de doutorado, uma louvação destemperada dos prodígios do governo Lula ) do senador e futuro ministro da Ciência e Tecnologia Aloízio Mercadante , na Unicamp, o ex-ministro e professor titular da USP colocou um freio nos exageros laudatórios do doutorando sobre a forma como o governo surfou sobre a conjuntura internacional:
-Com o Lula você exagera um pouco, mas é a sua função.O nível do mar subiu e o navio subiu junto.De vez em quando, o governo pensa que foi ele quem elevou o nível do mar…
Isso partiu de Delfim, um inesperado “aliado estratégico” do governo Lula, insuspeito de ser portador de qualquer espécie de vírus oposicionista.
A hora de despedidas é sempre hora de balanço, e deve existir algum tipo de avaliação mais consistente e sólida entre os extremos da divinização do presidente que sai como um demiurgo de si mesmo e a execração impensada de todos os seus atos e gestos.Lula fez, sim, um governo economicamente equilibrado (mais pela continuidade do que por qualquer espécie de iniciativa revolucionária e inovadora) e politicamente vulgar.
Marcas para a história? A expansão dos programas sociais, timidamente implantados nos governos anteriores e entusiasticamente incrementados pelo atual ,de forma a incluir cerca de 30 milhões de pessoas nas franjas da sociedade de consumo.É uma façanha notável, cujo ponto de partida, sempre deliberadamente esquecido por Lula e seus seguidores, foi a estabilização econômica e a conseqüente racionalidade nas contas publicas implantada pelos governos anteriores.Mais do que a própria inclusão, a definitiva inserção do tema da desigualdade social na agenda política do País, talvez tenha sido a contribuição histórica mais sólida de todo o período lulista.
Em todas as outras áreas, desde o abandono da infra-estrutura à galopante deterioração dos costumes políticos, passando pela total inapetência por reformas estruturantes necessárias mas deixadas propositalmente no esquecimento, não existe nada de marcante que o presidente que sai tenha legado à História.Foi beneficiário de um ciclo econômico favorável , ditado por circunstâncias internacionais fora de seu controle,como o extraordinário crescimento chinês,e conseguiu um crescimento até modesto dentro dos padrões de outros países emergentes.
O presidente termina o seu governo numa egotrip quase delirante, inebriado pela sua própria “persona” , convicto mesmo de que “nunca antes neste país” se fez coisa igual.As camadas do tempo que acabam se sobrepondo ao alarido das multidões e impondo a racionalidade histórica, se encarregarão de colocá-lo, a ele e seu governo, no seu devido lugar.
Paradoxalmente, foi um presidente que mudou a cara do País (como disse o professor de Política Marco Aurélio Nogueira) sem mudar o País.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br
Demonizar Lula como um Demiurgo Tupiniquim é tão sem sentido quanto endeusá-lo como o grande messias. O fato é simples: Lula fez o óbvio, o óbvio que grandes caciques não fizeram, adotou o meio termo: alavancou uma nova classe média, aumentou o salário dos servidores públicos e caprichou nas vagas de novos servidores públicos. Será que a oposição ainda não percebeu que a população não gostou de ficar desempregada após as privatizações? Mais que isso… fora as privatizações da Vale e das teles… quais outras deram certo? As do setor elétrico? E a idéia de privatizar as universidades? A CEF? o BB? E a petrobrás? Virando inclusive Petrobrax?
Essas idéias parecem delirantes, não demiúrgicasm as dignas do delírio de Narciso ou da mudez da ninfa Eco.
O fato é que Lula deu uma guinada no país… nova classe média e uma classe média mais sustentável. Dilma disse uma frase da qual ninguém discorda: “O Brasil vive pela primeira vez a possibilidade clara de ser um país desenvolvido” E o Brasil fará o quê? Os políticos farão o quê? Apresentarão que projetos? Construir creches em números espetaculares sem dizer como, onde e porquê? na verdade o que precisamos é sair da demagogia e ir para a democracia consolidada, regime onde os eleitores são os comandantes e exigem dos seus representantes projetos exeqüíveis e que nos levem para frente.
Um intelectual, um líder sindical e uma ex guerrilheira… é o Brasil se refazendo depois do eclipse ditatorial…. o que virá depois? Só sei de uma coisa em Manaus, já é hora de tirar quem nunca (ou O QUE) deveria ter voltado.