Os incêndios e saques na Inglaterra protagonizados por jovens podem levar a uma percepção enganosa remetendo tanto à Paris de 2005 como às rebeliões na Síria e na Grécia.
Os contextos são diferentes e é fundamental entender as angústias dessa juventude e as diferentes cenas.
Na Paris de 2005, os distúrbios foram nos subúrbios pobres. Jovens queimaram carros e destruíram prédios do governo. Saques não eram a meta. Os jovens se rebelavam politicamente contra a falta de oportunidade e a exclusão dos seus guetos periféricos, onde se concentram as habitações sociais parisienses.
A diferença na manifestação londrina é que não foram somente os bairros pobres os protagonistas, mas, talvez devido à configuração das moradias mistas em Londres, jovens de classe média que aderiram à baderna. E eles não protestam por coisa alguma.
A apatia social, gerada pela falta de oportunidade e de cultura, e o desinteresse pelo mundo, propiciado pela impossibilidade de acesso ao consumo, geraram raiva e rebeldia contra um sistema que os ignora.
A Londres de hoje, com reduções draconianas nas despesas públicas e nos investimentos sociais, atinge o desemprego de jovens não qualificados. Isso aponta para um colossal desânimo frente ao país e aos que o dirigem.
Um sistema que desemprega, oprime e humilha nos faz entender o porquê de uma multidão obedecer a um tuíte desses: “Largue o que você estiver fazendo e vá badernar e roubar tudo em volta”. A tecnologia fez diferença.
Tal insubordinação e raiva são diferentes das manifestações a que assistimos em outros lugares do mundo.
A situação no Egito e na Tunísia levaram sua juventude às ruas por liberdade e justiça.
Grécia e Espanha, por culpa de suas irresponsabilidades econômicas, provocaram na juventude uma revolta desesperada com o seu presente e futuro. Vi naqueles jovens o que não vejo nos ingleses.
Além da adrenalina do saque, essa outra juventude bradava pelo destino de seu país e o sepultamento de suas expectativas de inserção. Exigiam o direito de serem ouvidos. São momentos no mundo conturbado em que a juventude navega em diversos contextos.
Na Itália, editorial do “Corriere della Sera” dizia: “É sempre mais difusa a impressão de que o nosso futuro é, sem dúvida, um futuro de declínio.
Estamos nos tornando um país de série B”. Aguardemos os acontecimentos.
No Brasil, navegamos, com todas as dificuldades e desigualdades, num mar mais pacífico, apesar da violência, pois aqui ainda existem possibilidades de oportunidades e de ascensão social. O futuro da juventude brasileira não é de declínio. É de esperança.