Por Paulo José Cunha (professor, jornalista e escritor)
Joaquim é candidato a presidente da República. Embora ainda haja quem duvide, ele não teria assinado a ficha do PSB se não tivesse essa pretensão, né? Principalmente depois de aparecer na primeira pesquisa com 10% das intenções – 14 milhões …
Joaquim é candidato a presidente da República. Embora ainda haja quem duvide, ele não teria assinado a ficha do PSB se não tivesse essa pretensão, né? Principalmente depois de aparecer na primeira pesquisa com 10% das intenções – 14 milhões de votos. Para quem nunca concorreu nem a representante de turma no curso primário, não é pouca coisa. Voto pra chuchu. E olha que o recall de Joaquim Barbosa no imaginário popular se esfarinhou muito ao longo dos últimos 10 anos, desde que pilotou como presidente do STF o julgamento dos envolvidos no Mensalão. Você se lembra: Mensalão foram aqueles trocados surrupiados na forma de caixa dois. Um caso que devia ter ido para um tribunal de pequenas causas, em comparação com o atual Petrolão, escândalo de gente grande, o maior caso de corrupção do mundo, orgulho do Brasil, íu, íu, íu!!!
O Batman do STF, lembra?
Naquele tempo, o país começava timidamente a substituir preocupações tradicionais do tipo educação, saúde e emprego pelo emblemático “combate à corrupção”, que hoje subiu ao primeiro lugar na preferência nacional. E Joaquim despontava como o xerife implacável da Suprema Corte, alguém com cacife para botar ordem no galinheiro. Sua toga preta chegou a ser confundida com a capa do justiceiro Batman. Analistas diziam que, se tivesse se lançado naquela época, emplacaria fácil. Hoje, mesmo depois de tanto tempo, teria condições de crescer e alcançar o segundo turno. Afinal, pela esquerda, se juntarmos Manuela (PCdoB), Ciro (PDT) e Boulos (Psol), os três não encostam nos 10% de Joaquim. Pelo centro-direita, Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM), Meirelles ou Temer, todos juntos mal roçam os 10% do Batman do Supremo. O governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg, também do PSB, lembra que ele “comunica valores que a sociedade brasileira quer ver na política, especialmente honestidade e sinceridade”. E se identifica com o brasileiro médio, pois é um negro do interior que estudou em Brasília e terminou ministro e presidente da mais alta corte de justiça do país.
Qual PSB, o de Garotinho ou o de Arraes?
Mas três obstáculos afastam Joaquim dos palanques. O primeiro é a falta de sintonia entre os caciques do partido em torno da eventual candidatura dele. O PSB é um acampamento com gente de vários matizes ideológicos. Lá atrás, quando se falava de PSB, alguém perguntava: qual PSB, o de Anthony Garotinho ou o de Miguel Arraes? Joaquim sabe que vai ser difícil administrar essa salada ideológica. Ele próprio reconhece: “Há dificuldades dos dois lados. O partido tem sua história, suas dificuldades regionais. Do meu lado, tenho minhas dificuldades de ordem pessoal”. Entre essas últimas, claro, seu temperamento explosivo e a cervical avariada, que o levou a presidir de pé os principais julgamentos do Mensalão.
Além disso, Joaquim é cristão-novo no rendez-vous da política. Quincas Berro D’Água, o inesquecível personagem da novela deliciosa de Jorge Amado, era um beberrão inveterado. No dia em que inadvertidamente bebeu água pela primeira vez, estranhou tanto o gosto que… morreu! Joaquim é um Quincas Berro d’Água da Política. Jejuno nessa área, talvez cuspa fora o fel que o tentarão fazer engolir pois, pela primeira vez na vida, não dependerá exclusivamente de suas convicções e conhecimentos para dar um voto ou tomar uma decisão. E sim de conchavos, avanços, recuos, toma-lá-dá-cá, chamegos, agrados, cochichos, tapinhas nas costas – que muitas vezes escapam dos limites republicanos por força de atores eticamente menos ortodoxos ou, como se diz nos corredores do Congresso, dotados de próteses extremamente flexíveis na região da espinha dorsal. Sem falar no comportamento explosivo que poderá convertê-lo de uma hora pra outra numa bomba nuclear mais forte do que as do gordinho sinistro da Coreia do Norte.
A arte de comer sapos
Tudo isso, é claro, associado à dúvida sobre sua capacidade política de deglutir batráquios.
Ciro Gomes e Fernando Haddad se encontraram outro dia, abrindo especulações sobre uma aliança PDT-PT pela presidência da república, com Ciro na Cabeça e Haddad na vice. Haddad correu pra desmentir. Mas o porteiro de meu prédio não acreditou pois soube que rolaram, sim, uns olhares politicamente meigos entre os dois. Se vai dar em alianças trocadas é outra história. Mas o PT, mal das pernas como está, não tem lá muitas alternativas. O povo não ocupou as ruas aos gritos, exigindo a soltura de Lula, como os caciques petistas esperavam. Não houve comoção nacional, choro e ranger de dentes. Caso a pressão das viúvas de Lula seja forte a ponto de impedir as bodas de Haddad com Ciro, aí se abrirá uma avenida para o batmóvel do Quincas de Paracatu. Fosse ele, mandava importar logo uns sapos daqueles das lagoas de Minas, pra ir treinando. Começava pelos pequenos, até conseguir deglutir, sem mastigar, uns cururus daqueles gordos, de pele dura. Aí estará capacitado a provar do prato da política sem morrer pedindo água, como o xará dele, o Quincas do Jorge Amado.