Em palestra no Grupo de Estudos Especiais Amazônicos (GEEA), do Inpa, o empresário Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Amazonas (CIEAM) colocou os pingos nos “is” ipsis literis. Ao discorrer sobre o atual momento da economia brasileira e do Amazonas e dimensionar o tamanho da crise brasileira na qual o Polo Industrial de Manaus (PIM) está imerso, manifestou sua descrença na sustentação do atual modelo ZFM. Ao mesmo tempo explicitou visão segundo a qual o encontro de meio para solucionar em definitiva a instabilidade econômica local passa pela inserção do interior ao complexo da economia do Estado via exploração dos recursos da biodiversidade, da bioengenharia, dos serviços ambientais avançados e do ecoturismo. Périco salientou não ser mais possível admitir que apenas cinco cadeias produtivas – televisor, químico-concentrado, duas rodas, telefone celular e ar-condicionado split – respondem por 55,9% do faturamento do PIM e que 95% do ICMS estadual seja gerado apenas na capital. Quadro absolutamente insustentável.
Wilson Périco entende ser urgente a conclusão de estudos em torno da consolidação da nova matriz econômica para o Estado. O Amazonas não pode depender de apenas um setor, o PIM, que, por outro lado, encontra-se submetido a uma depressão econômica das mais violentas de que se tem notícia na história do Brasil. É preciso que se resgate o potencial do interior do estado, rico em recursos da biodiversidade na busca de promover o equilíbrio capital-interior. Para tal investimentos terão que ser realizados pesadamente em setores prioritários que assegurem benefícios sociais e econômicos via geração de emprego e renda.
Na verdade, convém não minimizar o fato de que o atual modelo ZFM não foi capaz de cumprir o papel delegado pelo DL 288, de 1967, ao estabelecer, logo em seu Art 1º que a Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos. Daí a necessidade inadiável de uma tomada de decisão em relação à reestruturação do modelo de sorte a ajustá-lo aos novos tempos da economia mundial.
Esta a trilha que levou Japão e Coreia do Sul, duas das maiores economias do Planeta, a fortalecerem apoios a segmentos que encerram alta tecnologia. A China, por seu turno, com a redução de suas taxas de crescimento e perspectivas pouco otimistas para o futuro próximo, anunciou recentemente que aumentará em 40% o investimento em ciência fundamental e 35% em ciência aplicada. Idênticas políticas públicas predominam sobre ações governamentais e privadas de países cujas economias crescem impulsionadas por fortes inversões em P,D&I, inclusos os Tigres Asiáticos. Brasil e ZFM fora.
O presidente do CIEAM entende que o Amazonas não pode continuar refém da capital do Estado, tornando-se fundamental pensar e formular novo modelo econômico aliado ao senso de preservação do ecossistema, mas sem se deixar conduzir por certo “ambientalismo” inflexível. Preservação e exploração racional, sustentável, não são antagônicos, mas complementares. Nesse sentido “precisamos dos recursos da floresta, mas, evidentemente devemos utilizá-los de modo inteligente segundo boas técnicas de manejo, como fazem os países desenvolvidos, sendo exemplo disso o Canadá”, disse Périco. Para tal imprescindível promover avanços no formato de governo via implantação e consolidação de políticas públicas de Estado não de governo (efêmeras e sem maiores compromissos com a sociedade) de tal sorte a assegurar solidez ao processo de desenvolvimento de tecnologias locais e estratégias de intervenções públicas de longo prazo.
Manaus, 10 de agosto de 2016.