Por Osíris Silva
O avanço dos conhecimentos sobre a Amazônia tem mostrado ser possível conciliar desenvolvimento e floresta em pé. Para isso, de acordo com diversos documentos produzidos por renomados cientistas da região, é prioritário valorar ambiental e economicamente seus recursos naturais. O novo modelo deve usar o patrimônio natural sem destruí-lo, atribuindo valor à floresta para que os bens produzidos a partir dela possam competir com outras commodities. Importantes setores podem ser beneficiados pelo uso dos recursos naturais com preservação do ecossistema. O desenvolvimento e a transferência de tecnologias ambientalmente adequadas e de produtos e processos que garantam o aproveitamento das potencialidades regionais deverão ajustar-se obrigatoriamente aos fundamentos tecnológicos da quarta revolução industrial em curso.
Nessa linha, o pesquisador do INPA, Carlos Roberto Bueno, destaca: A Amazônia é uma questão nacional, política, cultural, científica e tecnológica. A produção cientifica realizada na região, por inúmeras instituições nacionais e internacionais, tem mostrado que, quando difundida e acessível, impacta políticas públicas positivamente. Infelizmente, apenas uma parcela pequena desta produção chega à sociedade. Além disso, existe um espaço aberto para novas pesquisas, utilizando ferramentas tecnológicas já disponíveis, que permitam inovação nas formas de geração e difusão do conhecimento cientifico.
Ocupando uma área de aproximadamente 60% do território nacional e habitada por cerca de 25 milhões de brasileiros, a região demanda de todas as esferas de governo políticas públicas adequadas ao uso e conservação de seus complexos e delicados ecossistemas. Os modelos de desenvolvimento adotados, conforme analisa Bueno, ainda permanecem incapazes de aproveitar as potencialidades naturais de forma eficiente, ocorrendo em passivos socioambientais de grande magnitude, desperdício de recursos financeiros e falta de comprometimento com interesses regionais. A reversão deste quadro impõe à C,T&I um novo desafio para alcançarmos uma economia mais justa socialmente e ambientalmente saudável.
Segundo Carlos Bueno, não obstante os avanços do conhecimento científico no tocante ao bioma Amazônia nas suas diferentes vertentes relacionadas às funções ecológicas desempenhadas pelos ecossistemas, clima, biodiversidade e diversidade cultural, muito desse conhecimento ainda necessita ser transladado ao setor produtivo e aos mecanismos de mercado para geração de renda. Este novo paradigma necessariamente passa pelo estímulo à geração e disseminação de tecnologias para o desenvolvimento sustentável. A inovação tecnológica tem papel central neste desafio, tentando responder às demandas amazônicas e do país como um todo, principalmente nas dimensões associadas à segurança alimentar, uso da biotecnologia em processos produtivos, conservação e uso sustentável da biodiversidade.
As instituições de ensino e pesquisas da Amazônia têm papel fundamental neste cenário dada sua experiência e o conhecimento científico e tecnológico produzido na região. O desafio consiste em preparar-se para produzir de forma eficaz e eficiente um padrão de C,T&I, mais capacitação de recursos humanos altamente qualificados no contexto da economia verde. O fato concreto, porém, ao que salienta Carlos Bueno, reside em que a nação continua aguardando do governo uma política de Estado, com alocação de recursos orçamentários ao nível das necessidades do setor e infensos a cortes circunstanciais, bem como marcos regulatórios confiáveis e definitivos que possibilitem a viabilização de um planejamento racional ajustado às assimetrias da região. A ex-presidente do Equador, Rosalia Arteaga, diretora da Associação Panamazônia, de Manaus, e FIDAL, de Quito, vem sustentando há mais de dez anos sobre a necessidade de utilizar a ciência e a tecnologia como únicas maneiras de preservar a sustentabilidade, não apenas da floresta, mas do planeta inteiro.