Por Alfredo Lopes:
“Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar.” A frase é de Johannes Goethe, o maior escritor/pensador alemão de todos os tempos. Ele colocou em poemas, romances, peças de teatro… o esplendor e a contradição da alma humana. Nossos pais, muitos deles, não leram Goethe mas vivenciaram os reflexos de seus poemas e axiomas sobre a existência. A rigor, Goethe traduz os reflexos do Renascimento na Europa dividida do Século XVIII, entre a Igreja da Reforma e da Contra Reforma, empenhada em ser uma boa companhia para as mentes libertárias que buscavam deixar no passado o obscurantismo e a desumanização medieval.
Goethe inspirou poetas, filósofos, psicólogos e, pasmem, até os opressores, na medida em que foi usado pelo poder temporal para fazer com que as pessoas acreditassem nas aparências, nas sombras da publicidade, projetadas nas paredes platônicas da caverna da enganação. Os opressores, neste contexto, devem sempre ser flagrados na hipocrisia de seus propósitos. Aí, também, Goethe é atual. Afinal, as aparências enganam, como alertava o filósofo Platão, ao ilustrar, com o Mito das Cavernas, que as pessoas entendem, na condição de moradores primitivos de uma caverna da ilusão, que a verdade dos fatos é aquilo que elas veem projetada nas paredes de suas crenças. O poder, desse ponto de vista, busca freneticamente, mostrar que é bom companheiro, que representa o bem coletivo. O nome disso é ideologia, ou propaganda enganosa. Maldita publicidade política da enganação que transforma o Estado em bálsamo milagroso para alívio da exclusão social por ele promovida!
Serve de exemplo o discurso de Uruguaiana, onde milhares de desabrigados foram estimulados a acreditar em pronta intervenção federal. A mesma prosopopeia de Mariana, com uma semana de atraso de um discurso inflamado na veemência e esvaziado e defasado entre fala e providência. Em Mariana, assim como em Uruguaiana, ou em todo o Brasil com este vexame imposto pelo mosquito, o vazamento da barragem trouxe à luz o escancarado descaso da União com o homem comum, com aquele cidadão que precisa que o governo faça bem sua parte. E que transforme a dinheirama de impostos que arrecada em contrapartida verdadeira da ação social. O grupo político que está no poder, decididamente, não é bom companheiro, exatamente pelo divórcio entre decência e transparência de conduta. E o cidadão das ruas já percebeu isso, como mostra a recusa popular expressa nas pesquisas, e como revelam o perfil de seus companheiros. Num volume crescente, quase todos estão implicados em nebulosos e escabrosos demonstrativos de assalto ao erário. Alguns já são detentos por esta razão. Por isso, não faz sentido o discurso da mudanca, baseado no aumento da carga de impostos, rumo a superação de um cenário adverso que este governo e seus companheiros de viagem, criaram. Falta-lhes credibilidade e os indicadores da necessária seriedade para promover a transformação. E falta-lhes reputação para gerenciar o volume de recursos que já começaram a confiscar em todas as esferas da relação pública, na espera do golpe fiscal em nome da saúde do cidadão, a CPMF, a reprise da enganação…