Por achar que o anúncio de lingerie com Gisele Bündchen é preconceituoso e discriminatório, a Secretaria de Políticas para as Mulheres pediu sua saída do ar. O Instituto Patrícia Galvão diz não passar de estratégia para criar constrangimento e a propaganda ser mais vista e falada, o que de fato já está acontecendo, como atesta esta coluna e outras.
De manhã, vi a foto de Gisele de biquíni. Minha reação imediata foi: “Que beleza!”. Pose natural, solta, sutiã e calcinha normais. Poderia estar na praia que estaria mais vestida que qualquer outra. Logo percebi que se tratava de algo mais. Uma polêmica. Fui ver na internet.
Vi Gisele com shortinho de ir ao supermercado e ela diz: “Amor, estourei meu cartão de crédito”. Carimbo de “Errado”. Com lingerie azul básica, mas com Gisele dentro nada é básico, declara: “Amor, estourei meu cartão de crédito e o seu também”. “Certo”. O texto varia em três tons, pregando a sensualidade como arma.
Em off, ouve-se: “Você é brasileira, use seu charme”.
A crítica refere-se ao reforço dado ao estereótipo que todos combatemos: exploração da subserviência ligada à sexualidade.
Muitas são as formas femininas de se posicionar no mundo machista, nas diferentes áreas de trabalho e no privado. Existem as “armas femininas”, além da sensualidade, como a percepção mais sensível e perspicaz da vaidade, do medo, da intolerância que fazem frequentemente da mulher uma interlocutora mais hábil.
Por que ela não utilizaria, do jeito que as coisas são e enquanto durarem, uma das mil qualidades e possibilidades que tem?
Quão bom seria se, em vez de propagandas que põem uma âncora no nosso pé, não utilizassem a imagem de Gisele, que é uma mulher independente, para mostrar o mundo novo e engraçado que essas mulheres estão criando.
Gisele pode pagar seu cartão de crédito e de quantos maridos tiver. Com a criatividade do quilate da peça em debate e sem estereótipos machistas, poderiam vender até mais calcinhas e sutiãs. O que certamente ajudaria a reforçar, cada vez mais, de forma positiva, esse gigantesco mercado feminino de consumo.
Falta um olhar para essa nova mulher, falta ousadia, falta ajudar a chegar no século 21.
Continuando, mude a Gisele para um bonitão. Vejamos: talvez na primeira cena ele teria de vir de bermuda mal ajambrada, com um copo de cerveja e, nesse momento, apareceria “Errado”.
Depois, ele apareceria como? Um bonitão, um cara de inteligente, de gentil/doce, de intelectual… Ih! A mulherada é bem mais complexa. Este novo comercial, no masculino, não daria certo. Preconceito?