O pior é que é isso mesmo. Quando o Gimar acerta é vaiado, quando erra é aplaudido. Brasil de cabeça pra baixo. Leia abaixo artigo de Mário Rosa
Serafim Corrêa
Por Maria Rosa (Poder360.com.br)
Uma fábula sobre o menino que caminhava num mundo invertido.
sta é a incrível e triste história de um menino chamado Gilmar. E como é uma fábula, é preciso começar como começam tooooodas as fábulas.
Era uma vez um menino chamado Gilmar. A vida havia lhe aprontado uma grande peraltice: toda vez que ele acertava, era estrepitosamente vaiado. Jogavam-lhe tomates. Era xingado. Ao menor acerto, por menor que fosse a correção de seus atos, era impiedosamente castigado.
Mas…bastava ele errar, cometer um desatino, um absurdo, uma barbaridade, e aplausos ecoavam de todos os lados. O menino era ovacionado.
O menino Gilmar caminhava assim nesse mundo invertido. Certa vez, deu-lhe na telha que prender sem condenação definitiva era o melhor a fazer em relação aos seus vizinhos e aos vizinhos de seus vizinhos. E não é que os vizinhos e os vizinhos dos seus vizinhos, todos, aplaudiram de pé aquela maldição que o menino estava lhes lançando?
Passado um tempo, o coração do menino pensou melhor e achou que fora cruel demais com a vizinhança. E avisou a todos que não, não era justo prender por prender, prender antecipadamente sem que os vizinhos tivessem a chance de se defender totalmente. Qual não foi a surpresa quando o menino foi quase massacrado! “Como ousa defender o meu direito?”, bradou um vizinho. “Por que recuaste da barbarie?”, criticou outro.
E o menino ia seguindo a vida sempre observando esse padrão totalmente fora do padrão. Uma vez, cismaram de derrubar a pessoa mais importante da cidade. E para isso o menino admitiu como provas fatos que não tinham nada a ver com o pedido inicialmente apresentado pelo inimigo dessa pessoa tããão poderosa.
O menino Gilmar estava numa fase muito sapeca, mas não é que a cidade inteira o aplaudiu? “É isso mesmo! Que se dane se estão reclamando que você está colocando coisas que não estavam no processo original! Palmas! Parabéns! Muito bem menino!!!!”.
Mas o coração do menino, mais uma vez, ficou encafifado. E alguns anos depois achou que aquele contrabando não deveria caber no processo. Cumpriu a lei! “Desvirtuado!”. “Que negócio é esse de Constituição!”, berravam seus detratores, irados.
O menino Gilmar vivia num tempo em que a cidade andava muito, mas muito agitada. E porque todos tinham solução para tudo, ninguém tinha solução para nada. E diante do impasse de conviver com o insolúvel, todos ficavam muito irritados e atacavam uns aos outros.
Foi somente com o tempo que o menino Gilmar aprendeu porque era aplaudido no erro e vaiado no acerto. É porque a plateia daqueles dias estava cega e não conseguia ver o palco da História. E reagia a esmo. Não havia relação direta entre o que acontecia no palco com a reação da audiência.
Foi aí que o menino Gilmar descobriu que a musa de pedra em frente ao teatro onde trabalhava devia ter não apenas uma venda nos olhos, mas uma venda muito, muito, muuuiittooo espessa que lhe tampasse os tímpanos também. Porque não adiantava ser apenas cega aos impulsos das audiências histéricas por brutalidades, mas também surda ao clamor das plateias cegas pelo ódio.
E no dia em que aprendeu isso o menino Gilmar nunca mais se incomodou com as vaias nem se enalteceu com os aplausos, pois entendeu que ambos não tinham relação de causa e efeito. E desse dia em diante ele foi feliz para toooooodo o sempre.
(“Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência”)