No próximo sábado, se vivo fosse, o saudoso Gilberto Mestrinho faria 85 anos.
Ontem, arrumando os meus arquivos fotográficos, achei esta foto que documenta a inauguração de uma Escola Municipal que homenageia o seu filho José Carlos Mestrinho, falecido precocemente. Convidei-o para a inauguração. Foi um momento alegre para todos e muito importante para as crianças do entorno da Fundação Dr. Thomas e Parque do Idoso. A escola fica nos fundos da Fundação.
Uma coisa foi puxando à outra e lembrei-me de uma história que revela o ensinamento da experiência de vida que ele tinha, principalmente no lidar com as pessoas. Nisso, aliás, ele era o próprio mestre.
Era 2005 e encontrei-o no aeroporto de Brasília. Éramos passageiros do mesmo voo e ele me perguntou como ia a Prefeitura. Falei das dificuldades e do estresse permanente. Ele relembrou que também tinha sido prefeito de Manaus, conhecia por dentro como eram as dificuldades na Prefeitura e conversamos bastante diante do atraso do voo.
Disse-lhe das dores de cabeça que eu, e quem quer que seja o prefeito de Manaus, sofria no dia a dia. Ele me revelou que também, nas diversas vezes que ocupou o Executivo, tinha os mesmos problemas, mas que tirava de letra com uma fórmula infalível para vencer as aporrinhações e ficar feliz da vida.
Curioso, pedi:
– “Professor, então me ensine a formula que eu estou precisando.”
Ele deu aquela risada que só quem já viveu muito e acumulou boas experiências pode dar. E disse-me:
– “Toda vez que eu tinha estresse eu ia para a Maternidade Balbina Mestrinho. Numa maternidade tudo é alegria. O choro do bebê é um balsamo. O sorriso da mãe, a alegria do pai, a gabolice dos avós. Passa qualquer estresse. Depois, em geral, a felicidade de todos te contagia. E o estresse vai para o espaço. Experimenta?”
Eu respondi:
– “Professor, o pior é que a “Brigita Daou” (a então maternidade municipal) está em condições precárias e as vezes que fui lá só ouvi reclamações, mas a “Moura Tapajós” (a nova e moderna maternidade municipal) está ficando pronta, é muito bonita, está sendo bem equipada e vai ser inaugurada até o final do ano. Aí vou seguir o seu remédio.”
Guardei o ensinamento. Depois que inaugurei a “Moura Tapajós”, todas as vezes que o estresse subia, eu ia para lá e saía outra pessoa. A formula do nosso saudoso Gilberto era eficaz. Uma nova vida chegando, o clima de alegria geral, o sentimento do dever cumprido por assegurar à mãe mais humilde o direito de ganhar o seu filho em igualdade de condições com quem pode pagar uma maternidade particular, enfim, todo esse alto astral te deixa muito feliz.
A primeira vez que fiz isso nunca esqueço. Era janeiro de 2006, cheguei ao início da noite, vi as crianças que nasceram naquele dia, conversei com as mães, com avós, jantei com os funcionários e saí umas 21 horas. Quando já caminhava pelo jardim fui chamado por um homem de uns 25 anos:
– “Ei, Ei, o senhor é que é o prefeito?”
Achei estranho porque as pessoas podiam até não gostar, mas sabiam quem eu era. Respondi:
– “Sim, sou Serafim Corrêa, o prefeito de Manaus. E você, de que bairro é?”
– “Eu não sou daqui. Sou de Oriximinã e vim trazer a minha mulher para ganhar o bebê. Quero lhe agradecer porque aqui o pessoal trata a gente bem. Correu tudo bem, essa maternidade é legal.”
Tomei um susto.
– “De Oriximinã? E como você veio parar aqui com a sua mulher para ela ganhar o neném?”
– “É o seguinte, seu prefeito. A minha irmã mora aqui na Compensa. Na virada do ano eu liguei pra ela, disse que a Nazaré ia ganhar bebê agora em janeiro. Ela me disse que aqui tinha inaugurado uma maternidade bacana e ela conhecia uma enfermeira que conseguiria que o nosso filho nascesse aqui. Aí, nos viemos porque lá em Oriximinã não tem maternidade.”
– “Você é doido, cara. Subir o Rio Amazonas no último mês de gravidez da tua mulher? O menino podia ter nascido a bordo.”
– “Mas nasceu foi aqui e nós estamos muito felizes.”
– “Quando vocês vão embora?”
– “Olhe, eu gostei muito da sua cidade. A minha irmã emprestou um quarto no fundo do quintal dela. Vou ficar por aqui um tempo e esperar uma oportunidade. O senhor não tem um lugar pra mim lá na Prefeitura?”
Pano rápido.
