Geea-Inpa, ciência e sociedade

Por Osíris Silva:

O Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (Geea), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) foi criado em 2007 com o objetivo de estabelecer fórum permanente  multidisciplinar, visando à análise de questões relevantes sobre a Amazônia, e um veículo para a socialização da ciência através de linguagem acessível. O Grupo, formado por pesquisadores, professores, empresários, humanistas e gestores, reúne-se geralmente a cada dois meses para debater um tema escolhido previamente e apresentado por especialista de renome.

Os textos resultantes dos encontros são publicados sob formato do que se convencionou denominar “Cadernos de Debates do GEEA”, editados em série. Sete volumes já foram lançados, dois publicados eletronicamente na página do Inpa (www.inpa.gov.br-publicações), encontrando-se o décimo em fase de editoração gráfica. Os Cadernos contêm, dentre tantos, importantes estudos e debates sobre ZFM, socioeconomia, ciência & tecnologia, mudanças climáticas, biodiversidade e água no mundo moderno; recursos pesqueiros, doenças tropicais, ciência contemporânea & conhecimento indígena; setor madeireiro, geodiversidade e globalização; agropecuária, educação, energia e humanismo; células-tronco, transportes, segurança nacional, ciência & religião; evolução biológica, humanismo, educação, e assim por diante.

De acordo com o secretário executivo do Geea, pesquisador Geraldo Mendes dos Santos, os objetivos do grupo e de cada obra se confundem ao visarem sintetizar e difundir conhecimentos técnico-científicos sobre a realidade amazônica numa linguagem acessível, tornando-se importantes subsídios à formulação de políticas públicas sobre a Amazônia. O diferencial dos estudos que ali se processam consiste fundamentalmente em mostrar os problemas e as alternativas de soluções sob ótica local, coerente com a profundidade e abrangência dos problemas da região.

Durante a última reunião do Geea, realizada dia 22 de junho, o médico e historiador Antonio José Souto Loureiro falou a respeito da “História da Medicina e das Doenças na Amazônia”, com base em livro de sua autoria, de 2003. Ele detalhou o formato do exercício profissional no século XIX, meados do XX (por físicos e cirurgiões, e, atuando ilegalmente junto às camadas mais pobres, charlatães, práticos, curadores, curiosos, pajés, curandeiros e barbeiros), as doenças típicas, as medicações, a dieta alimentar das populações. Quanto às enfermidades, muitas, “que ainda hoje nos incomodam, subiram o rio Amazonas, importadas de outras regiões, o que continua a acontecer, dentre as quais, impaludismo, polineurite, beribéri, lesão cardíaca, tuberculose, lepra, febre amarela, reumatismo”.

Os medicamentos, fornecidos por boticas e farmácias, derivavam de produtos naturais sob as formas de óleos, extratos, espíritos, xaropes, unguentos, tinturas e produtos químicos obtidos da metodologia alquímica, predominante à época. Compunham-se de extensa lista de plantas (arruda, avenca, ruibarbo), raízes, unguentos, óleos (andiroba, macella, copaíba, terenbintina), xaropes, espíritos e águas, tinturas, láudanos. Em relação à alimentação, segundo Antonio Loureiro, “a dieta nem sempre incluía galinha, pela sua raridade, considerada indispensável na convalescência dos internados; a carne bovina (inexistente) era substituída pela de tartaruga, e o pão, pela farinha de mandioca, geralmente de má qualidade. A carestia, a escassez e o pouco cuidado no preparo dos alimentos, deixavam por vezes os doentes em penúria”.

As farmácias, precursoras da indústria químico-farmacêutica dos tempos modernos, salienta Loureiro, “eram administradas por boticários, mistos de médicos, farmacêuticos, cirurgiões e comerciantes, que lidavam com o preparo, o receituário e a venda de medicamentos, diferentemente dos especieiros, que só vendiam as especiarias”. Como se pode depreender, a base dos biofármacos na Amazônia é pré-existente ao nosso tempo. Podemos resgatá-la?