FUSÃO NÃO É SOLUÇÃO

Por Arthur Virgílio Neto

Revés eleitoral não justifica fusão de partidos. Afinidade ideológica, sim.

O PT contava com oito senadores e poucos deputados e essa inferioridade numérica não o impediu de promover mobilizadora oposição ao governo Fernando Henrique. O número de parlamentares é dado relevante que, contudo, não determina o caráter de uma atuação política.

Sou contrário a uma eventual fusão entre PSDB e DEM. Aquele tem obrigação de se reencontrar programaticamente e na prática cotidiana; este deve buscar o espaço de centro-direita que legitimamente lhe poderá caber.

Ou não existe eleitorado de centro-direita no Brasil? Que acredite fundamente no liberalismo, pregue o Estado mínimo, o máximo possível de autorregulação dos mercados e aceite a democracia representativa como o melhor sistema político dentre todos?

Partidos como PP e PR, que analistas apressados comparam ao DEM no alinhamento ideológico, na verdade, servem a todos os governos e trocam fidelidade por cargos públicos. Executam qualquer programa. Apoiariam Fidel em Cuba, Salazar em Portugal ou Obama nos EUA.

Não competem na faixa que vejo destinada ao DEM no espectro político brasileiro. A História deste é melhor e maior. Passa pela ruptura com o regime autoritário e a vitória da chapa Tancredo-Sarney, em 1984, que deu início à transição democrática.

Passa pelo apoio à luta exitosa pela estabilidade econômica, iniciada por Itamar Franco e seu Ministro da Fazenda, Fernando Henrique. Pelas reformas estruturais, que mudaram o Brasil para melhor, nos dois governos tucanos. Pelos anos de combativa oposição ao populismo lulista, que desperdiçou época áurea da economia mundial, abrindo mão do projeto reformista, desgastante a curto prazo, para adubar popularidade irresponsável.

PSDB e DEM são aliados com serviços em comum prestados ao País. Mas não são iguais. Um disputa espaço de centro-esquerda, outro tem ao seu dispor a fatia de centro-direita do eleitorado.

Leio declarações menores, um líder se declarando incompatível com outro e, por isso, discordando da fusão. Ou alguém propondo a “salvação” do atual DEM, como se na derrota de 2010 não pudesse estar a saída para a emergência de agremiação sólida, coerente, sofrida e vitoriosa.

Não penso em conveniências ou inconveniências pessoais ou regionais. Penso no País e no sistema partidário que precisamos erigir. Frente única, reunindo gregos e troianos, de comunistas a dissidentes do regime militar, é tática que não cabe no Brasil de hoje.

Fusão é escapismo, falsa solução. Parece confissão de fraqueza. Impediria os dois grupos de irem ao fundo do seu aperfeiçoamento programático.

Sou contra. E me manifestarei assim em qualquer foro, a qualquer momento dos debates sobre o tema.

*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado