Por Osíris Silva
A Fucapi, em seus áureos tempos, chegou a ser reconhecida como a principal instituição tecnológica da região Norte, com laboratórios de última geração e inventividade. A Fundação criou uma das primeiras escolas técnicas em informática do país, tendo atuado em nível de graduação e pós-graduação nas áreas de eletrônica digital, engenharia de produção, automação industrial, qualidade e produtividade, desenvolvimento de recursos humanos, marketing e design industrial e regional com serviços de busca e registro de marcas, patentes, desenho industrial e software. Os avanços, todavia, pararam por aí. Em vez de evoluir, a instituição estagnou e se enredou em dívidas que, após auditoria do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), até outubro de 2017, constatou-se exorbitantes, praticamente impossíveis de serem honradas.
Segundo o engenheiro José Renato Santiago, diretor de empresa na Zona Franca por mais de 30 anos, “a inovação tecnológica é uma realidade inegável. Quando o empresariado ajudou a criar a Fucapi em 1982 e depois o CT-PIM, plantamos uma semente. Como nasceu o Vale do Silício? Tecnologia é a base do desenvolvimento industrial. Na companhia de comitiva da Suframa e de empresários do PIM, visitamos naquele período um centro de tecnologia em Taiwan, na verdade um “ninho para geração de novas tecnologias. O caminho seguro a seguir para não depender de tecnologias de terceiros”.
Inovar é fundamental. Nesse campo, todavia, o Amazonas só colhe insucessos. Seguindo-se ao fechamento da Codeama, Icoti, Emater, Cepa, CT-PIM e agora o descaso com o CBA e a ameaça de falência da Fucapi, a extinção da SICT, da SECTI, como também da Seplan, que chegou a ser absurda e incoerentemente encampada pela Sefaz. Como montar base tecnológica e promover a governança do sistema de desenvolvimento e inovação sem base técnica e gerencial adequada?
Para o economista Rodemarck Castelo Branco, a iminente falência da Fucapi significa ‘outra oportunidade de avanço tecnológico no Amazonas que está se esvaindo, justamente quando a economia da Zona Franca de Manaus exige políticas industriais que objetivem (i) maior integração e melhor posicionamento nas Cadeias Globais de Valor; (II) maior adensamento da cadeia produtiva regional; e (iii) maior aproveitamento dos insumos amazônicos”. Para que isso ocorra, salienta Rodemarck “é essencial a geração de condições competitivas tomando por base a geração de tecnologias e a formação de recursos humanos qualificados, insumos estratégicos para o futuro da região”.
O que torna ainda mais preocupante, ressalta o economista, é “a fria reação, a indiferença da sociedade amazonense ante tais medidas, quando o normal seria suscitar amplo e vigoroso debate acerca das causas e consequências do fechamento do órgão”. Qual exatamente a origem das dificuldades da Fucapi?, questiona Castelo Branco: “obtenção de novas fontes de recursos?; problemas de gestão? dependência excessiva a poucos clientes?, limitações de mercado?, deficiências técnicas? Precisamos aprofundar o debate em torno da questão. Nesse sentido, o Conselho Diretor deve expor à sociedade a real situação da Fundação face à sua importância estratégica para a economia local”, afirma.
A Fucapi não é uma entidade pública, mas historicamente sua principal fonte de recursos adveio de serviços prestados a entidades públicas, o que, de certa forma, torna natural que o fechamento ou a transferência de controle do órgão ocorra sob plena transparência e amplo conhecimento da sociedade. Em artigo publicado no Facebook, o contabilista e advogado Gaitano Antonaccio não tem dúvida: “a FUCAPI é certamente mais uma vítima da falência das nossas instituições. Aguardamos que as autoridades do estado do Amazonas decidam fazer uma apreciação melhor em parceria com o MP-AM e a Suframa sobre a situação da instituição, pois a mim me parece que nesse caso, além de vilã, a Fucapi possa ter se tornado vítima de politicagem e do desinteresse coletivo”.
Manaus, 5 de fevereiro de 2018.