Por Osíris Silva:
Estudos da Agência Nacional de Águas, ANA, do Ministério do Meio Ambiente, MMA, publicado no Informe Conjuntura dos recursos hídricos, 2016, alude que, em termos globais o Brasil possui grande oferta de água. Esse recurso natural, entretanto, encontra-se distribuído de maneira heterogênea no território nacional. Passam pela área geográfica brasileira, em média, cerca de 260.000 m³/s de água, dos quais 205.000 m³/s estão localizados na bacia do rio Amazonas, restando para o restante do território 55.000 m³/s de vazão média.
Além destas questões espaciais, como patenteia a publicação, o regime fluvial sofre variações ao longo do ano que estão estreitamente relacionadas ao regime de precipitações. Na maior parte do Brasil existe uma sazonalidade bem marcada com estações secas e chuvosas bem definidas, de forma que ao final do período seco pode-se observar vazões muito abaixo da vazão média e inclusive ausência de água.
Essa variabilidade das chuvas e vazões, de acordo com os estudos da ANA, também é interanual, gerada pela ocorrência de anos mais secos e outros mais úmidos. Para manter uma maior garantia de água ao longo do tempo é necessária a utilização de reservatórios ou açudes, capazes de reservar água nos períodos úmidos para ofertar nos períodos mais secos. A disponibilidade hídrica pode ser entendida como uma vazão de alta garantia no tempo, ou seja, uma vazão que estará acessível na grande maioria do tempo, mesmo em períodos secos.
Estima-se que a disponibilidade hídrica no Brasil, baseada numa garantia de 95%, é em torno de 12.000 m³/s ou 22% da vazão média, excluindo-se a contribuição da bacia amazônica. Todavia, dada a heterogeneidade climática e hidrogeológica, estas vazões mínimas podem variar de 0% a mais de 50% da vazão média, constata a ANA.
A questão água é, consequentemente, de alta relevância, considerando, adicionalmente, que a população da Terra, segundo a ONU, deverá situar-se em torno de 12 bilhões de habitantes nos próximos cem anos. Não por acaso a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) confere prioridade absoluta ao esforço de maximização (potencializar, buscar o máximo rendimento) dos sistemas de recursos hídricos, não só no Brasil, mas em todo o Planeta. Israel, como o Canadá, países nórdicos, europeus e asiáticos, tal qual o Japão são nações paradigmáticas no tocante ao uso sustentável da água. Mediante simples mudanças de atitudes conseguiu-se ali racionalizar, eliminar desperdícios em todos setores de atividade humana, como na produção de alimentos.
Durante o Festival de Parintins, a Coca-Cola Brasil e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) promoveram o Water Summit 2017 – agenda preparatória para o 8º Fórum Mundial da Água, maior evento global sobre o tema organizado pelo Conselho Mundial da Água a realizar-se pela primeira vez no Brasil, em 2018. A realização do encontro, que contou com importantes empresas e entidades envolvidas com meio ambiente e sustentabilidade, contribuiu decisivamente para a necessidade de refletir e apontar soluções que garantam integridade aos recursos hídricos nacionais. Tema de relevância central dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações Unidas.
Os estudos da Agência Nacional de Água, ANA, oferecem um recorte claríssimo da importância estratégica da Amazônia na discussão e implementação de soluções alternativas para o futuro do consumo de água da humanidade. Disso, porém, ao que se presume, a sociedade não se dá conta. Somente o Brasil, no âmbito global, dispõe desses recursos tão estratégicos em abundância. Entretanto, segundo o IBGE, 35 milhões de pessoas (10 milhões de domicílios), cerca de 18% da população, não têm acesso à água encanada. Mesmo assim, o país passa ao largo da ingente necessidade de cuidar, preservar e racionalizar o uso de seus recursos hídricos. Desperdício e esbanjamento são marca nacional.