Por Ribamar Bessa:
“Guarda o dia de sábado. O sétimo dia é o sábado do Senhor, quando ele descansou. Por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou”. (Êxodo 20:8-11)
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O bloco do 15 alega que “Dilma mentiu para ganhar as eleições” – como escreveu Aécio Neves na Folha de São Paulo. É verdade. Nós, os eleitores de Marina Silva, estamos com feridas ainda não cicatrizadas, indignados com a baixaria da sórdida campanha eleitoral. Inventaram que Marina era a “nova direita”, que ia acabar com o Bolsa-Família, com todos os programas sociais e com o Pré-Sal, que ia tirar comida do prato dos pobres, que era subserviente ao capital financeiro, que obedecia a Neca Setúbal do Banco Itaú, que ia destruir a escola laica, que era homofóbica. Vocês lembram?
As feridas se aprofundaram quando usaram o discurso de Marina sobre a CPMF, confundindo sua posição na votação da lei, que foi uma, com a regulamentação, que foi outra. Os spots na TV martelaram centenas de vezes: “mentirosa”. Mas quem mentiu foi Dilma. Dilma mentiu? Mentiu quando chamou Marina de mentirosa. Mentiu quando não avisou que depois da eleição iria aderir ao programa do Aécio. Mentiu quando não preveniu que parte de seu ministério ia ser formado pela escória política. Dessa forma, acabou contribuindo para aguçar a raiva dos ofendidos.
Quem mentiu
Dilma mentiu uma vez mais porque depois da eleição, fez o contrário do que havia defendido. Tirou do bolso sua Neca, o Joaquim Mão-de-Tesoura, que era diretor do Bradesco, nomeando-o ministro da Fazenda, com um aceno para o capital financeiro que tanto criticara na campanha. Compôs um ministério assustador com os piores nomes da praça: Helder Barbalho, Kátia Abreu, Eduardo Braga, Cid Gomes, Kassab, Eliseu Padilha, o pastor George Hilton, só gente “ilibada” e “de esquerda”, com uma folha de serviços prestados a si próprios.
O diabo é que Aécio também mentiu para ganhar as eleições. Só que não ganhou, porque no segundo turno um número maior de eleitores acreditou nas mentiras da Dilma e não nas dele. É que a gente esquece rapidamente, mas no primeiro turno Aécio e Dilma, que juntos somavam 16 minutos de TV, se uniram naquele momento em torno de um interesse comum aos dois: tirar do jogo Marina, que tinha apenas 2 minutos para se defender. Por Marina ser do PT na época do mensalão, Aécio sugeriu o envolvimento dela no esquema de corrupção, que aliás foi invenção do PSDB mineiro.
Portanto, os dois lados tem razão. Quem quer protestar contra o governo Dilma, tem todo o direito de mostrar sua indignação, da mesma forma que quem quer defendê-la. As manifestações de rua fazem parte do embate democrático e podem revelar o vigor da democracia. Inadmissíveis, no entanto, são as ofensas pessoais que circulam nas redes sociais entre um lado e outro e, especialmente, a pretensão golpista que não aceita o resultado das urnas.
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Marina Silva tem razão quando chama a atenção para o fato de que “a corrupção não é um problema da Dilma, do Lula, do Fernando Henrique, nem do Collor, nem do Sarney. É um problema nosso (da sociedade). Enquanto se achar que o problema é deles, vamos continuar tendo esse problema”.
As candocas
Esse fato é que não é levado em consideração quando se aproveita o descontentamento contra a corrupção na Petrobrás para conspirar e exigir a saída de Dilma. O movimento lembra muito aquele organizado pelas candocas da CAMDE – Campanha da Mulher pela Democracia – que saiu às ruas “contra o comunismo e a corrupção”, criando as condições políticas para o golpe militar de 1964.
O cientista político uruguaio nacionalizado brasileiro, René Dreifuss (1945-2003), morto prematuramente, deixou vários livros publicados que nos ajudam a entender a história recente do país: A Época da Perplexidade (1996), O Jogo da Direita na Nova República (1989) e o mais importante deles 1964: a Conquista do Estado (1981), no qual usa muitos documentos sobre o golpe militar, incluindo os livros do Caixa 2 do IPES e do IBAD, com dados sobre o grupo ADELA – Atlantic Community Development Group for Latin American, que reunia 240 indústrias e bancos.
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Concordo com o sindicalista amazonense Elson Melo, meu amigo que é Melo, mas não é Merenda e está longe de qualquer parentesco com o governador do Amazonas Jose Melo Merenda. Elson diz que preferia se manifestar no sábado. De forma gozadora, simplificou a visão sobre os dois movimentos:
– Não vou às duas manifestações por dois motivos: 1) Dia 13 é sexta-feira 13 – dia de sair da cama com o pé direito. Eu também não troco o ultimo capitulo da novela Império por manifestação de capitalista no poder, “nem que a vaca tussa”! 2) Não vou à manifestação de domingo, 15, às 9 horas, porque ainda é madrugada e tenho missa as 10:30h, vou rezar pelo Brasil, só depois é que tomo café na Av. Eduardo Ribeiro como faço todos os domingos, portanto não vou mudar minha rotina para participar de manifestação de capitalista fora do poder “nem que a vaca tussa”!
Num regime democrático, cabe também a posição de quem critica as duas manifestações. Quem manifestou na sexta feira, 13, o fez de forma ordeira e pacífica. O que acontecerá nas manifestações de domingo 15, com o ódio cheio de veneno que circula nas redes sociais? A raiva cega e impede ver dois palmos à frente. O debate político cede lugar a ofensas pessoais, como se xingar e chamar de “corja” quem pensa diferente de mim convencesse alguém. Convém não esquecer que se o ódio acumulado na campanha eleitoral é grande, o Brasil é muito, mas muito maior.
O que é imperdoável na manifestação golpista “Dilma Go Home” é que nos obriga a defender a presidente, a quem não queremos depor. O que queremos é fazer oposição e cobranças, mas a obtusidade de certa oposição golpista não está deixando. Esse é que devia ser o objetivo da manifestação de sábado, 14.