Por Marcelo Serafim:
Cerca de seis meses atrás relatei ao secretário de saúde Homero de Miranda Leão a minha preocupação com o avanço da sífilis em Manaus. É bom que se diga que o avanço ocorre em todo o Brasil, no entanto, alertei sobre medidas importantes que podiam ser adotadas para que Manaus conseguisse controlar melhor essa grave doença.
A principal delas era utilizar o tratamento “padrão ouro” com as três doses de Penicilina Benzatina e não os tratamentos com Doxiciclina que possuem adesão terapêutica infinitamente menor pela duração do tratamento (e que, portanto não resolvem o problema). A justificativa (ressalto que é verdadeira) para o não uso da Penicilina Benzatina era o seu alto preço no mercado naquele momento. O que antes comprávamos por algo em torno de R$2,00 hoje custava R$30,00 por conta de problemas na produção do medicamento em todo o mundo. Comprar esse medicamento por R$30,00 obviamente seria alvo de investigação especialmente pelo TCE. Coloquei-me à disposição para que chamássemos a Câmara Municipal de Manaus, TCE, MP e todas as demais instituições fiscalizadoras e expuséssemos o problema, pois não tinha dúvidas que com essa explanação de fatos compraríamos a medicação e salvaríamos muitas vidas além de evitarmos os graves problemas da sífilis congênita e terciária. No entanto, as medidas não foram tomadas.
Hoje, o jornal Diario do Amazonas traz uma entrevista da coordenadora estadual de DST/AIDS e Hepatites Virais, Silvana Lima informando da explosão de sífilis no Amazonas. Ela traz o dado que 50% dos casos são identificados em mulheres grávidas. Por quê? Porque é na gravidez que o exame de sífilis é feito e é apenas aí que identificamos grávidas (50%) e seus parceiros (a grande maioria dos outros 50%) como portadoras de sífilis. Levando em consideração que aproximadamente 4% das mulheres em idade fértil engravidam anualmente em Manaus, temos um dano mais ALARMANTE que é o não diagnóstico do restante da população. Isso me faz afirmar que os números que temos hoje notificados são pelo menos 12 vezes menores do que os que de fato existem. A sífilis está batendo na nossa porta e se faz necessário uma atitude rápida em relação a isso sob pena de termos uma explosão ainda maior dos números de casos.
Precisamos urgentemente fazer uma ação dentro da SEMSA que busque diagnosticar os pacientes doentes e tratá-los de forma adequada sob pena de enfrentarmos em curtíssimo prazo um problema ainda maior de saúde pública. Estou à disposição da Semsa e dos demais órgãos para debater e defender as condutas adequadas para que possamos sair dessa grave situação na cidade de Manaus.
Sinais: Os primeiros sinais da sífilis são pequenos ferimentos que surgem no pênis ou na vagina. Eles não doem e, no caso das mulheres, pode ser difícil identificá-las se aparecerem no colo do útero. Depois de um período, essas feridas desaparecem.
Após um período sem sintomas, aparecem manchas na pele que podem atingir todo o corpo, principalmente a planta dos pés e a palma das mãos.
Se a doença não for tratada nessa fase, ela pode acometer o sistema nervoso central, o sistema cardiovascular e vários órgãos do corpo. Nesta fase, ela pode até matar.
É importante que as pessoas que observem esses sintomas procurem seu médico ou uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Há vários tipos de exames disponíveis na rede pública para detectar a doença.
(*) Marcelo Serafim é farmacêutico, bioquímico, com mestrado em “SAÚDE, SOCIEDADE E ENDEMIAS DA AMAZÔNIA” pela FIOCRUZ.