Do CONJUR:
A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (3/4), em segundo turno, a Proposta de Emenda à Constituição 544/02, que cria quatro tribunais regionais federais: da 6ª, 7ª, 8ª e 9ª regiões, com o desmembramento dos cinco tribunais existentes. Foram 371 votos a favor, 54 contra e seis abstenções. A PEC, cuja aprovação foi reprovada pelo Supremo Tribunal Federal, deve agora ser promulgada pelas mesas diretoras do Senado e da Câmara para integrar a Constituição.
De iniciativa do Senado Federal, a proposta tem o objetivo de agilizar a Justiça Federal com a descentralização dos trabalhos, principalmente do TRF-1, que atualmente é responsável por 13 estados e o Distrito Federal. Pela PEC, os novos TRFs deverão ser instalados no prazo de seis meses, a contar da promulgação da emenda.
Dados de 2011 do Relatório de Atividades do TRF da 1ª Região mostram que as varas da seção de Minas Gerais tiveram cerca de 98 mil processos distribuídos naquele ano, enquanto a Bahia teve 45 mil, o Amazonas, 15 mil, Rondônia, 14 mil, e Acre e Roraima, menos de 5 mil cada um. Juntos, esses seis estados respondem por quase 50% dos processos distribuídos.
Manifestações de apoio
A Ordem dos Advogados do Brasil defendeu a aprovação da PEC. “A capacidade instalada hoje do Judiciário não tem dado mais conta da demanda processual. Estamos a um passo do colapso”, afirmou o presidente nacional em exercício da OAB, Claudio Lamachia, ao participar de ato público na Câmara dos Deputados.
Já o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Nino Toldo, entregou a lideranças do Congresso uma nota técnica de apoio à PEC 544/2002. Segundo o documento, o crescimento de demanda da 2ª instância não acompanhou a ampliação da 1ª instância. De 1987 até hoje, o número de juízes federais de 1º grau cresceu 668% — de 277 para 2.129. Já o número de integrantes do 2º grau cresceu só 89%, de 74 desembargadores para 139 desde a criação dos cinco TRFs, em 1989.
De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, a Justiça Federal tem a mais alta relação entre o número de magistrados de 1º e 2º graus. São nove juízes para cada desembargador, enquanto nas Justiças Estaduais e do Trabalho essa relação é de 5,5 juízes para cada desembargador. Isso representa um maior número de juízes tomando decisões passíveis de recurso para os desembargadores. A nota da Ajufe acrescenta que a introdução do processo eletrônico, uma realidade na Justiça Federal, permitirá a criação de tribunais com quadro funcional reduzido, sem comprometimento da eficiência, diz a Ajufe.
Reprovação do STF
Não adiantaram os ofícios enviados pelo presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, aos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e do Senado, Renan Calheiros, (PMDB-AL). Nos documentos, o ministro apresentava receio com a possibilidade de criação de mais quatro TRFs.
Segundo Barbosa, a preocupação em ampliar o número de Tribunais Regionais Federais não é nova e antecede até a Emenda 45/2004, de Reforma do Judiciário. Na avaliação do ministro, “o volume crescente de demandas distribuídas ao Judiciário Federal e a necessidade de entrega célere da prestação jurisdicional não são premissas que levam à conclusão de que a criação de novos Tribunais Regionais Federais seja a única solução para esses problemas”.
O ministro apontou como alternativa aos novos tribunais a instalação de Câmaras regionais ligadas aos TRFs já existentes, como forma de descentralizar o funcionamento da Justiça Federal no país, assegurando o pleno acesso do jurisdicionado à Justiça em todas as fases do processo. De acordo com ele, a saída já é prevista no parágrafo 107 da Constituição Federal. Joaquim Barbosa, que preside o Conselho Nacional de Justiça, ainda criticou os novos gastos com a instalação dos tribunais e a ameaça de ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Com informações das Assessorias de Imprensa do STF, da OAB, Agência Brasil e Agência Câmara.
Veja como ficará a distribuição e estrutura dos tribunais regionais federais:
TRF | Sede | Jurisdição |
---|---|---|
TRF-1 | Brasília | DF, GO, MA, MT, PA, PI e TO |
TRF-2 | Rio de Janeiro | RJ e ES |
TRF-3 | São Paulo | SP |
TRF-4 | Porto Alegre | RS |
TRF-5 | Recife | AL, CE, PB, PE, RN |
TRF-6 | Curitiba | PR, SC e MS |
TRF-7 | Belo Horizonte | MG |
TRF-8 | Salvador | BA e SE |
TRF-9 | Manaus | AM, AC, RO e RR |
Comentário meu: A vantagem de ser mais antigo, como eu, é que já vi esse filme, pelo menos uma vez. Em 1980, quando da criação do TRT do Amazonas os que eram contra levantaram os mesmos argumentos. Trinta anos depois não há quem em sã consciencia deixe reconhecer a importancia de termos em Manaus um TRT, com ganhos consideráveis para as relações de trabalho e toda a sociedade.
Naquela altura foram importantes na luta de bastidores e na sensibilização da sociedade para a importancia do desmembramento do Amazonas do Pará o Juiz do Trabalho, Dr. Benedito Lyra, e o jornalista Flaviano Limongi, então Vogal trabalhista. Sofreram críticas e reprimendas dentro da estrutura do Judiciário trabalhista partidas do TRT do Pará, a quem éramos subordinados. Agora, também, foram do vizinho Estado do Pará que se ergueram baterias contra nós, inclusive no Congresso Nacional, através do deputado Cláudio Puty, do PT paraense.
Em relação à criação do TRF- 9ª Região devo registrar o empenho pessoal da Dra. Jaiza Fraxe, Juiza Federal, que levantou essa bandeira há algum tempo e a exemplo dos seus colegas da Justiça do Trabalho, mais de trinta anos atrás, também, teve que pagar preços pela sua posição e assistir manifestações contrárias dentro do TRF – 1ª Região. Ela merece esse reconhecimento.
Agora é aguardar a publicação da Emenda Constitucional e preparar-se para enfrentar novas batalhas que dizem respeito a sua instalação. Exatamente da mesma forma quando da instalação do TRT/AM-RR trinta anos atrás.