Nenhum estudante do Estado conseguiu ser aprovado no Sistema de Seleção Unificada (Sicu) para o curso de Medicina da Ufam, o mais concorrido da instituição federal.
Manaus – O curso de medicina, o mais procurado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2013, não teve nenhum amazonense aprovado este ano.
Com 5.798 inscrições, o curso foi o 8º mais procurado do País, com média de 104 estudantes disputando cada uma das 49 vagas ofertadas, segundo o Ministério da Educação (MEC).
O Departamento de Registro Acadêmico da Ufam informou que a maioria das vagas ofertadas foi ocupada por alunos paulistas, paranaenses e mineiros.
No processo seletivo de 2012, os aprovados em medicina também foram (em sua grande maioria) de outros Estados. Conforme o departamento, o índice de evasão foi baixo e dos 56 estudantes que ingressaram no curso, 52 continuam matriculados.
Desde 2009, quando o Enem foi adotado pela Ufam, os concorrentes locais alcançam menos de 20% das vagas em medicina, segundo a Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (Proeg).
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), existe hoje 1,12 médico para cada 1 mil habitantes no Amazonas. E dos poucos amazonenses que se formam na área a maioria busca o mercado de trabalho de outros Estados. Em termos de quantidade de médicos, o Estado ocupa a 23ª posição no último ranking divulgado pelo CFM.
Outros cursos
De acordo com dados divulgados pela Proeg, em outros cursos muito disputados, como medicina, a situação é semelhante. Este ano as 24 vagas para engenharia civil da Ufam foram divididas entre 10 candidatos amazonenses e 14 estudantes do Pará, Minas Gerais, Paraná, Rio grande do Norte e Rondônia. Já em Direito, 46 amazonenses foram aprovados e apenas 10 vagas foram ocupadas por estudantes de outros Estados.
O professor Mena Barreto, que por 35 anos foi docente do curso de medicina da Ufam, acompanha o Enem há quatro anos. Ele afirmou que os primeiros colocados no Sisu no Amazonas em geral são candidatos que não conseguiram ingressar nas universidades de seus Estados de origem.
“O amazonenses só entra lá pela quarta ou quinta repescagem, quando alguém de fora desiste da Ufam. A realidade é que da creche à alfabetização, passando pelo ensino básico e chegando ao ensino médio, nossa educação é falha e incompetente comparada aos outros Estados. E estes Estados quando são avaliados em relação aos outros países também têm um desempenho ruim”, disse.
A estudante Dayana Guimarães de Souza, 26, conta que após três tentativas frustradas desistiu de medicina. Ela reclama da concorrência nacional e afirma que não tece condições de se preparar para concorrer com estudantes do Sul e Sudeste.“Estou fazendo biologia e pretendo me especializar na área da sáude”.
O secretário de Estado de Educação, Gedeão Amorim, avalia que a seleção unificada é um desafio para o Amazonas. Ele diz que a reserva de vagas para a rede pública, que deve entrar em vigor em 2014, pode alterar esse quadro. “Hoje o ingresso é uma competição nacional, mas estamos avançando”, afirmou.
Simeam aponta ensino deficiente
O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mario Vianna, avalia que a ausência de amazonenses entre os aprovados no curso de medicina expõe a baixa qualidade do Ensino Médio e Fundamental no Estado. “O amazonense não é menos inteligente que um paulista ou mineiro, mas fica em desvantagem diante do ensino melhor em outros Estados”, disse.
Vianna observa ainda que os poucos estudantes amazonenses que se formam em medicina no Estado não ingressam no mercado de trabalho local e a grande maioria busca oportunidades fora do Amazonas.
O presidente afirmou que mais de 70% dos 400 médicos que atuam no interior do Estado atualmente são naturais de outras regiões do País. “Quem conhece a realidade dos municípios do interior, quem sabe da falta de estrutura e condições de trabalho não tem como almejar ficar aqui”, destacou ele.
Comentário meu: Essa notícia nos remete, a todos nós, à uma reflexão sobre a qualidade do nosso ensino. Ela, somada aos resultados sempre ruins nas avaliações nacionais como Exame de Ordem e concursos federais, evidencia que o nosso ensino fundamental e médio não vai bem. Não é hora de procurarmos bodes expiatórios, mas de identificar causas e buscar soluções. E já estamos atrasados.