Por Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br
A boa notícia deste momento turvo, politicamente aloprado e economicamente estarrecedor, é a disposição dos atores locais em promover debates e trilhas na perspectiva produtiva da busca de soluções. O calendário deste ano difícil já está em seu crepúsculo, apesar disso, por aqui clareia o alvorecer de promissoras manifestações, como se a paralisia política virasse motor de estripulia criativas na identificação obstinada de saídas que escancaram janelas de oportunidades. Sim, quando queremos, sabemos debater, identificar, propor e fazer as coisas acontecerem. Foi assim na Feira da Amazônia que, sem eira nem beira para se encostar, demonstrou facetas preciosas de uma bioeconomia pulsante, nativa, que contagia e desafia a indústria convencional. Foi assim na Feira de Ciência, no final de novembro, que juntou todo mundo empenhado em cultivar saberes e desafios de uma floresta que só mandou pouco mais de 5% de seu bioma sob investigação. A ordem, pois, é juntar pesquisa, desenvolvimento e mercado. Na realização dos DEBATES PRODUTIVOS, iniciados na Afeam, agência estadual de fomento, em conjunto com o Centro e Federação da Indústria e da Agricultura, a discussão e encaminhamento de negócios, pesquisas e oportunidades focaram na Castanha. Ali, se deu o ensaio da partilha necessária, a partir do qual se misturam a energia e as utopias da meta comum. E aí foi criada a REDE CASTANHA, pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação, SEPLANCTI, com a instalação do Programa Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, sobre a Castanha do Brasil, a Bertholethia Excelsa, abrangendo quatro eixos de investigação, Química e Bioquímica da Castanha; Manejo, Ecologia e Genética; Tecnologia, Processamento e Industrialização e Economia e Negócios da Castanha. São os atores de sempre, trocando, agora em rede, investigação, negócios e oportunidades: Inpa, UEA, UFAM, Embrapa, Fucapi, agora USP, em salutar interação colaborativa de P&D, para conquistar novas modelagens de negócios e de economia na integração regional e nacional.
Com esse espírito, desde a gestão Adalberto Val/Estevao Monteiro de Paula, o Inpa apostou em Tecnologias Sociais, buscando devolver à sociedade os benefícios que ela tem oferecido historicamente aos preciosos inventários e coleções científicas. Com a castanha, o guaraná, o açaí… é hora do olhar holístico e interinstitucional dos elementos bioquímicos, dos princípios ativos, na ótica da nutrição e da saúde, a compreensão e e adoção de novas práticas de utilização dos produtos naturais, os cosméticos, os nutracêuticos e os fitofármacos no contexto da biotecnologia, nanotecnologia, o mutirão do saber, fazer e acontecer. Nesta semana, dois eventos sacodem os negócios da floresta. Um deles é o IV Workshop de Tecnologia Social do Inpa, sobre Geração de Trabalho e Renda na Amazônia, através de diversas tecnologias desenvolvidas pelo Instituto, de olho nas demandas da sociedade, nos dias 9 e 10, no Auditório do Inpa. E no dia 11, sexta-feira, II DEBATES PRODUTIVOS, sobre PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, na sede do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Num estado que produz menos de 10% dos alimentos que consome, porque não implantar um Distrito Agroindustrial de Hortifruti? O Distrito Agropecuário da Suframa, item essencial da configuração integrada e original do modelo ZFM, está entregue a própria sorte. Os mais de 100 mil trabalhadores do polo industrial, os 600 mil colaboradores indiretos e a população Manauara, consomem frango de Santa Catarina, cheiro verde do Ceará e tomate do Ceasa paulistano, num preço elevado, condições precárias de conservação, que comprometem a segurança alimentar da população e desequilibram as finanças estaduais. Apesar ou por causa da política pequena, cabe-nos fomentar as estripulias de debates criativos e produtivos em nome da superação e da transformação, por que não?
(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.