De OGLOBO.COM por Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti.
BRASÍLIA – As supostas críticas indiretas do ex-ministro Nelson Jobim à presidente Dilma Rousseff, quando ele elogiou o ex-presidente Fernando Henrique pela sua capacidade de nunca levantar a voz ou constranger auxiliares, são repetidas em Brasília por governistas, embora ninguém tenha coragem de falar publicamente. O tratamento dispensado por Dilma a ministros, assessores e políticos aliados já provoca, nos bastidores, mágoas e descontentamentos com a presidente.
A situação anda tão difícil que os principais operadores políticos do governo não escondem sua preocupação. Receiam que Dilma, que andou segurando um pouco o estilo agressivo, mas não consegue se controlar totalmente, crie uma rede de inimigos no governo. Até assessores mais antigos da presidente, como seu secretário particular, Anderson Dornelles, se ressentem do jeito rude de Dilma.
– O Anderson já pediu demissão várias vezes. Quando ele faz isso, a presidente manda ele tirar uma semana de folga. Já era assim antes e continua do mesmo jeito – confidencia um auxiliar de um ministro palaciano.
Diariamente, assessores e aliados costumam relatar episódios desagradáveis envolvendo a presidente. Outro dia, Dilma deixou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito Carvalho Siqueira, constrangido e desconcertado ao determinar que ele não entrasse no elevador com ela, no Palácio do Planalto.
A despeito da relação de amizade que mantém com a presidente, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, não escapou de ser duramente repreendida em meio à crise que administrava com o PR, por causa da faxina realizada no Ministério dos Transportes . Em tom ríspido, Dilma proibiu que Ideli desse novas entrevistas sobre o assunto, após se irritar com algumas declarações da ministra.
Muito exigente, Dilma detesta repetir ordens e não esconde sua ira. Esse temperamento forte é bem conhecido por seus auxiliares mais próximos, que a conheciam desde quando era ministra. Há duas semanas, os governadores nordestinos levaram um susto com a descompostura que Dilma passou no chefe do cerimonial em solenidade realizada em Arapiraca, no interior de Alagoas. Dilma queria citar o nome do prefeito da cidade, Luciano Barbosa. Como não recebeu o papel com o nome dele, foi ríspida, na frente de todos os presentes, quando o funcionário tentou dar-lhe o nome:
– Agora não precisa mais! .
Esse tipo de tratamento também tem incomodado ministros. Para amigos, o titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, confidenciou que se incomodou com uma cobrança dura de Dilma. Mas não deu detalhes. Esse padrão costuma ser mais cotidiano com alguns ministros. Durante a preparação do programa Brasil Maior, Dilma se irritou com o vazamento de informações que não estavam consolidadas. Sobrou para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que resistia a algumas propostas do Ministério do Desenvolvimento. Ela foi taxativa e direta:
– A decisão é minha, Guido!
O ministro da Fazenda, porém, já parece estar acostumado com as broncas de Dilma, mas quem não está acostumado se assusta. Há assessores que temem despachar com a presidente por causa do temperamento dela.
– Uma coisa é esse comportamento quando tudo vai bem e a popularidade está elevada. Mas as mágoas ficam. Quando era o Lula, ele sabia dar bronca, mas nunca humilhou ninguém – observa um desses ministros incomodados.
Um senador do PT, por exemplo, confidencia que já ouviu queixas de vários ministros, dos mais poderosos até os menos importantes. E esse senador não hesita em declarar:
– A última coisa que eu queria era ser ministro da presidente Dilma.
Ao contrário do que acontecia com seu antecessor, que mesmo dando broncas cativava seus auxiliares de governo e quase todos que tinham contato com ele se sentiam queridos, com Dilma ninguém ousa dizer que é amigo. Pelo contrário, o clima é de medo no Planalto.
A presidente não faz questão de disfarçar quando está irritada ou incomodada com algo. O primeiro sinal seria o “olhar fuzilante”, o prenúncio de uma possível bronca. Mas quando ela pergunta “Qual foi a parte que eu falei que você não entendeu, meu filho?”, o interlocutor já sabe que vem chumbo grosso pela frente.