Por Francisco R. Cruz
Parece ser da natureza humana mobilizar sua inteligência na esperança de encontrar a felicidade. Com esse objetivo suas ações são ancoradas na crença de que ela, a felicidade, pode ser encontrada nas entranhas do amor e na abastança da fortuna que a materializa.
Assim foi o nosso encontro com a Zona Franca de Manaus. O decreto 288 era o sinal evidente que tínhamos encontrado o caminho do desenvolvimento. No primeiro momento floresceu a fase comercial, resultado de um país fechado ao resto do mundo, que limitava importações, pela taxação de pesados impostos. No momento seguinte veio a industrialização, os empregos e o crescimento do nosso PIB num complô que, diferente dos relacionamentos, despertou o amor antes da paixão.
Essa inversão parece ter feito toda a diferença, pois, quando mais precisávamos do amor, estávamos apaixonados. E, como dizem os estudiosos da neurociência, a paixão provoca profundo estado de demência, tolda a racionalidade e exacerba as emoções.
Esse clima não nos permitiu perceber, que o nosso modelo foi desenhado para substituir importações, como parte da xenofobia que persegue o país desde Getúlio Vargas. Tratava-se, portanto, do esforço da política ao fechamento econômico do país ao resto do mundo. Pior ainda, a nossa ZFM, nascia com um defeito de origem. Um modelo de desenvolvimento com data certa para morrer, o que dava a ela, desde o início elevado grau de instabilidade. Preconizava um milagre.
A ZFM nasceu mais ou menos na mesma época em que China e os Tigres Asiáticos modelavam o seu desenvolvimento por vias, diametralmente, opostas ao que pretendíamos. A ênfase deles se dava no campo das exportações, sobretudo, apoiados em fortes políticas educacionais para aquisição do conhecimento, com vistas à inovação para competir e crescer de forma sustentável. Acertaram na mosca.
E nós? Inebriados pela paixão, que, também tem a capacidade de esconder a ignorância, quisemos a nossa amada ZFM do mesmo jeito como foi concebida. Afinal, era assim que ela nos oferecia recordes de empregos e faturamento. Era a glória a nos acomodar e até esquecer a sentença de morte. Sem contar o descarte das estruturas encarregadas de pensar o desenvolvimento do estado, onde se sobressaia de forma brilhante a CODEAMA, entre outras. Para que serviriam? Afinal tínhamos encontrado o caminho da felicidade.
Como era de se esperar, os defeitos de origens apareceram nas tensões das sucessivas ameaças, que mesmo assim, foram incapazes de nos fazer entrar na racionalidade para mudar a direção e seguir os Tigres, por exemplo. O nosso foco foi direcionado, exclusivamente, para adiar a sentença de morte da nossa amada ZFM. Traí-la pesquisando outras alternativas nas nossas riquezas, nem pensar. “Terceiros Ciclos” e “Zonas Francas Verdes” nunca foram páreos. Mera piscadela! Um faz de contas.
Tem sido assim sempre. As ameaças continuam e sem alternativas continuamos. Agora mesmo vivemos uma nova batalha contra a mutilação do “Polo de Concentrados de Bebidas”. Como tantas outras vezes, estamos a praguejar contra tudo e contra todos, responsabilizando-os por uma cegueira que sempre foi nossa.
De pires nas mãos, vamos novamente negociar com os “adversários”, e, inevitavelmente, tomar mais uma dose do veneno, as concessões que sempre fomos obrigados a fazer, responsáveis pela morte lenta do modelo ao longo do tempo. Que tal mudar de rumo? Mudar de rumo? Que rumo? Parece que não temos um. Estamos presos a armadilha mental que a cegueira nos impôs.
Enquanto isto, vivemos cercados pela riqueza exuberante de uma biodiversidade que teimamos em não conhecer. Falta-nos vontade política, dirão muitos. Um termo repetido à exaustão país adentro, como se fosse a cura para todos os nossos males, o que a minha ignorância não me permite entender de que exatamente se trata. Talvez, realmente, não se trata de nada, pois há tanto tempo apelamos a ela, sem resultado algum.
E não é só. “Forças Ocultas” continuam a “tramar” contra nós. Saiu um relatório do Banco Mundial sobre a economia brasileira. Levanta inúmeras inconformidades que impedem o desenvolvimento do Brasil. Sabem quem merece destaque? Isto mesmo: os incentivos à ZFM. Forte combustível para novos ataques.
De outro lado, torpedo potente vem do Paraguai. Nosso vizinho desenvolveu um pacote de incentivos para atrair empresas brasileiras e estrangeiras. O pacote inclui infraestrutura a custo favorecido localizada a 11 quilômetros das nossas fronteiras, portanto, proximidade com os nossos maiores centros de consumo; energia 70% e encargos sociais 65% mais baixos do que no Brasil; imposto zero na entrada para insumos e matéria prima importados e imposto único sobre a saída nas exportações.
Além disso destaca clima político estável; crescimento de 3,5% a.a. e índice de alfabetização da sua população de 95%. E mais: curso completo para entender a emaranhado de impostos e a burocracia do Brasil.
É a pá de cal sobre o nosso modelo? Não sei! Gostaria muito de terminar esse texto com essa dúvida e parar por aqui. Mas de todas essas ameaças, nada é mais letal e definitivo, do que os efeitos da Revolução Industrial 4.0. Resumidamente se trata da fusão tecnológica entre os domínios físicos, digitais e biológicos, centrados em: Inteligência Artificial; Robótica; Internet das Coisas; Veículos Autônomos; Impressão em 3D; Nanotecnologia; Biotecnologia; Armazenamento de Energia e Computação quântica.
Essas tecnologias revolucionam os modos de produção e as dinâmicas da própria vida como a conhecemos hoje. Com elas já nasceram as fábricas inteligentes. Elas permitem a virtualização das operações, o monitoramento a distância e a autocorreção dos raríssimos defeitos em tempo real feito pelas próprias máquinas.
Até 2025 mais de 75 bilhões de equipamentos estarão conectados à internet e vão comunicar-se entre si, sem intervenção humana. A eles estarão conectados mais de 1 trilhão de sensores inteligentes. A partir daí o monitoramento das fábricas inteligentes, portanto, sem a presença do ser humano, pode ser feito de qualquer ponto do planeta. Alguma dúvida? Ou vamos esperar: “2073 – O Ano Que Não Vai Chegar”.
“Entre o Amor e a Paixão”, é título de um filme.