O empresário Emilio Odebrecht, em seu artigo dominical publicado hoje na Folha de São Paulo, aborda a relevante participação das empresas familiares no crescimento econômico brasileiro.
Durante muito tempo as empresas familiares foram estigmatizadas existindo, inclusive, um chavão que dizia: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. Isto porque após a primeira geração em que o pai transformava a pequena empresa numa grande empresa, e dava aos filhos uma boa vida, uma vida de nobre por assim dizer, sem, no entanto, cuidar da sucessão, quando a segunda geração assumia, os negócios declinavam e a terceira geração ficava pobre.
Diante de alguns exemplos marcantes Brasil afora, os patriarcas passaram a cuidar da sucessão. Escritórios especializados cuidaram de profissionalizar as empresas. E com isso as empresas familiares superaram, em grande parte, o estigma que as perseguia.
Em Manaus, temos dois exemplos de sucesso de empresas familiares que venceram a fase da sucessão e continuam crescendo quebrando o paradigma do pai rico, filho nobre, neto pobre. O Grupo Bemol, da família Benchimol, que já está na terceira geração, é a maior empresa comercial do Estado, liderando a arrecadação de ICMS há muitos anos e o Grupo Simões, da família Simões, o maior grupo no ramo de refrigerantes e revenda de veículos.
Leia abaixo, o artigo de Emilio Odebrecht, intitulado EMPRESAS FAMILIARES:
“O crescimento econômico do Brasil teve uma participação relevante de empresas familiares. Esta é a origem de alguns dos principais grupos privados do país. Construí minha trajetória profissional em um deles e pude acumular alguns aprendizados.
O primeiro, e o mais importante, é sobre o papel do fundador: a forma como ele estrutura a participação da família define o rumo que os negócios irão tomar. Tudo começa na transferência do patrimônio moral e do patrimônio material aos seus herdeiros.
O patrimônio moral é constituído pelos princípios, valores e crenças a partir dos quais o fundador educa aqueles que o sucederão.
A preservação desse patrimônio é que faz com que as empresas se perenizem.
Quanto ao patrimônio material, a transferência deve ocorrer o mais cedo possível, com cláusula de usufruto total ou parcial por parte de quem o transfere. Se o fundador tem mais de um herdeiro, todos deverão receber partes iguais. Quando a divisão é igualitária, torna-se mais fácil a transferência do poder àquele que foi eleito para liderar os negócios.
O processo sucessório deve ser baseado em regras claras que todos conheçam e acompanhem, de forma que a escolha do novo líder, que assume o papel de mandatário da família na empresa controlada, se dê em um ambiente de harmonia, disciplina, respeito e confiança.
Isso significa que a profissionalização de uma empresa familiar começa na organização da família controladora. A boa governança da família e de seus bens -incluindo as participações societárias que cada membro detém- deve ser instituída antes, precedendo o modelo de governança dos negócios.
A idéia da importância de se profissionalizar as empresas de controle familiar quase sempre embute alguma dose de preconceito, como se o sobrenome fosse sempre tido como o principal atributo para a ocupação de uma posição de destaque. É uma distorção a ser evitada porque, se as empresas não devem valorizar os laços de sangue, tampouco podem discriminá-los.
Membros das famílias controladoras podem ser executivos das empresas controladas. O que não podem é receber tratamento diferente do aplicado a quem não tem o mesmo sobrenome. Mas há uma regra que deve ser perseguida: evitar a relação de hierarquia entre familiares.
Um ambiente onde estas questões estão bem resolvidas assegura aos acionistas minoritários e executivos a tranqüilidade e a segurança emocional que precisam para tomar decisões, tanto relacionadas aos negócios quanto aos próprios planos de vida e carreira.”