A Campanha da Fraternidade 2012 será lançada pela Igreja Católica somente na quarta-feira de Cinzas, dia 22 de fevereiro, mas o vereador Elias Emanuel (PSB) se antecipa e quer levar a discussão do tema para a Câmara Municipal de Manaus (CMM).
Com o tema “Fraternidade e Saúde Pública” e lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”, Elias vai protocolar requerimento na Casa, na próxima semana, para uma audiência pública sobre o assunto. O líder do PSB e da oposição na Câmara quer abordar com a sociedade e a Igreja diversas questões de saúde pública que preocupam a cidade de Manaus. Uma delas é o preconceito que hansenianos sofrem de profissionais de saúde quando procuram atendimento médico e cirúrgico.
Na sua avaliação, esse fenômeno tem acontecido devido à falta de preparação do próprio profissional de saúde que atua nas unidades básicas da cidade e de grandes hospitais que oferecem acompanhamento a esses pacientes. “O que deveria ser diferente”, salienta.
O aposentado Antônio Bentes, 64, que tem seqüelas da doença conta que recentemente foi vítima de preconceitos no hospital Adriano Jorge, após passar por uma cirurgia nos pés para a retirada de uma úlcera plantar. “No momento em que deveria ser transportado numa cadeira de rodas, o maqueiro não quis me pegar e, dessa forma, tive que colocar o pé operado no chão, causando uma pequena hemorragia”, disse.
Para Elias, o tema da Campanha da Fraternidade deste ano ‘cai como uma luva’ para os diversos problemas que pacientes e doentes acometidos por várias enfermidades enfrentam diariamente na rede pública de saúde e, até mesmo privada. “Temos que discutir o atendimento público e, no caso da hanseníase, desmistificar esse preconceito”, defende.
A coordenadora em Manaus do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Waldenora Rodrigues, informou que, aliado ao preconceito que muitos seqüelados sofrem no atendimento hospitalar, há ainda uma “mancha” que insiste em se manter na sociedade manauense de que hansenianos só existem ou acometem moradores do bairro Colônia Antônio Aleixo, zona leste da cidade. De acordo com dados oficiais do Movimento, em 2010, foram diagnosticados 280 casos da doença na cidade, boa parte em bairros diversos, inclusive em área nobre e, apenas um caso na Colônia Antônio Aleixo.
Entre os recentes casos, ela alertou que a doença vem acometendo em grande escala adolescentes e, segundo a coordenadora, isso se dá devido ao estado de miséria em que muitos se encontram.
Na primeira reunião do Morhan deste ano, os integrantes discutiram a ‘omissão’ dos órgãos competentes em relação a acordo firmando entre o Ministério Público do Estado (MPE) e Secretaria de Estado da Saúde (Susam) para que fossem realizadas cirurgias e a distribuição de calçados adaptados para os sequelados da doença em 2011 e, que, no entanto, nada foi feito. Conforme Waldenora, existem 100 pessoas que necessitam fazer a cirurgia ortopédica no Hospital Adriano Jorge.
A direção do Morhan vai encaminhar um documento ao MPE na próxima segunda-feira, aos cuidados da promotora Delisa Ferreira, a fim de cobrar do órgão para que faça cumprir o acordo.