Eleições 2016: “Em política não se pode dizer que desta água não beberei”, diz Serafim Corrêa

De ACRÍTICA.COM:
O ex-prefeito de Manaus, atualmente deputado estadual pelo PSB, Serafim Corrêa prevê que até o dia 10 de julho saberá se volta a disputar a chefia da prefeitura da capital amazonense, sem ou com coligação.

Em entrevista, Serafim Corrêa critica gestão de Artur Neto (PSDB) e diz que não repetiria os erros do passado. (Evandro Seixas – 14/mai/2015)

Por Aristide Furtado, Manaus (AM):

Prestes a anunciar sua pré-candidatura a prefeito de Manaus, o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB), que já governou o município no período de 2005 a 2008, afirmou que o PSB está aberto a coligações majoritárias, contudo afirmou que uma aliança com partidos como o PT e o PCdoB, que participaram de sua gestão, seria muito difícil.

Ex-aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente de honra do PSB no Amazonas defende o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff e diz que o presidente interino Michel Temer (PMDB) sofre pressões de senadores fisiológicos e enfrenta turbulências mas deu um norte para a economia e as relações exteriores. Em entrevista para A CRÍTICA, Serafim Corrêa critica gestão de Artur Neto (PSDB) e diz que não repetiria os erros do passado. Um deles: dar secretarias a partidos. A seguir trechos da entrevista.

O senhor vai disputar a prefeitura de Manaus?

Isso ainda não esta definido, mas o PSB será protagonista do pleito eleitoral deste ano. Porque entendemos que de uma forma ou de outra no final o que vai ficar em disputa são cinco formas de administrar. Coincidentemente são as cinco formas de administrar dos cinco ex-prefeitos pós-redemocratização, ou seja, de 1988 para cá.

O que falta para definir a candidatura?

Falta a última reunião de direção. Falta conversa com a direção nacional. Faltam aqueles detalhes de reta final. Estimamos que até o inicio do mês de julho, mais tardar no dia 10, teremos o anúncio de nossa posição oficial. Definindo se vamos sair sozinhos, se vamos buscar aliança. Para vereador, não buscaremos aliança. Temos 80 candidatos e só podemos lançar 62. Vamos lançar chapa própria.

É estratégia do PSB lançar uma candidatura majoritária sem coligação?

Nós não somos avessos a coligação. Queremos coligação. Mas tem que ver. A coligação só é possível se o outro quiser. E quando você vai para uma coligação tem que saber como é o jogo. Traz ônus e bônus. E tudo tem que ser pesado e medido. Em relação a vereadores já batemos o martelo. É consenso que não coligaremos com ninguém.

O senhor sentaria com partidos como o PT e o PCdoB?

Há muita dificuldade por tudo que aconteceu no passado a nível nacional e local. Eu não vou dizer que isso esta descartado porque em política não se pode dizer que desta água não beberei. Mas há dificuldades muito grande para uma composição desse tipo.

O senhor foi aliado do Lula e ele  veio  fazer campanha para o senhor. O que aconteceu que os afastou?

Foram várias coisas. Antes dele vir fazer campanha para mim eu fiz campanha para ele a vida inteira, desde 1989. E tínhamos uma boa relação mas quando chegou em 2008 ele, depois de ter tido uma conversa conosco, com a direção nacional do meu partido, ter dito que era uma posição, ele tomou uma posição oposta. Isso não foi legal, gerou um problema. Em 2010 ele nos fez um apelo e se penitenciou de 2008 e nós acreditamos nele e de novo puxou o  nosso tapete. Então, a partir daí não tem mais o que conversar. Eu não guardo magoa de ninguém mas eu não tenho amnésia.

O senhor apoiou o Artur no segundo turno de 2012.  Por que o PSB se afastou da gestão dele?

É legítimo o apoio que nós demos ao Artur> Demos o apoio dentro daquele contexto. Eu sou amigo pessoal dele, ele é meu amigo pessoal.  Mas os dois partidos têm linhas diferentes.  A gente tem divergências no olhar sobre a política e sobre a administração.

O que o senhor faria diferente dele, por exemplo?

Destravaria a Prefeitura, que está travada. Ninguém consegue abrir uma empresa em Manaus em menos de seis meses porque a burocracia da Prefeitura não deixa. Estamos vivendo uma crise. A Suframa atrasa PPB dois anos. A empresa já vai embora nem vem. Aí quando chega na Semef são seis meses no mínimo para ter uma inscrição municipal. Hoje, Manaus está travada por conta da Prefeitura, do Ipaam, do Ibama, do novo Código Florestal, está atrasada por conta do PPB. E nada acontece nessa cidade. Eu diria que  hoje Manaus é cidade travada economicamente, conflagrada socialmente e equivocada ecologicamente. Precisamos superar esses três obstáculos.

Quando o senhor apoiou Artur no segundo turno defendeu a ‘domingueira’. Essa proposta é viável hoje?

Claro. As empresas devem ISS para a Prefeitura. Deviam no passado, devem hoje e vão dever no futuro. A ‘domingueira’ nada mais é do que um Prouni, ou seja, empresas vamos fazer o seguinte:  quanto é a tarifa? R$ 3,00. Aos domingos vai ser R$ 1,50. Os outros R$ 1,50 vamos abater da dívida de vocês. Eles não pagam imposto para a Prefeitura, mas transferem esse valor diretamente para a população.

Como o senhor avalia a faixa azul implantada pela Prefeitura?

A faixa azul é uma coisa positiva, mas está do lado errado. Qualquer pessoa com o mínimo de racionalidade… Vamos pegar a faixa azul da Constantino: dez por cento dos ônibus abrem a porta à esquerda e 90% só abrem à direita. Se a faixa azul for à direita, 100% dos ônibus vão abrir à direita e isso vai dar velocidade. Teria que complementar uma obra que o Artur fez algumas dessas que é o recuo da parada. E aí o ônibus flui. Isso é o óbvio. Essa é uma das constatações do nosso grupo de mobilidade.

Mas, a Prefeitura não tem todo um setor de engenharia que cuida disso?

Pois com todo respeito por todos os engenheiros que cuidaram disso, na prática estão equivocados. E o que mostra é isso? Tem uma foto que circula na internet onde o trânsito está todo parado na faixa da direita e do meio e a da esquerda está livre e todos os ônibus estão do lado direito. Não tem sentido isso. Aquilo ali me parece ser o óbvio ululante de que fala o Nelson Rodrigues nos 1970.

O que o PSB propõe para a questão da mobilidade urbana?

Entendo que o melhor caminho é o BRT. O monotrilho não é para o transporte de massa. Ele é muito bom na Disneylândia. É muito bom em aeroportos, mas para transportar a quantidade de passageiros que Manaus tem o BRT é melhor, que é o  modelo de Curitiba. Agora o que aconteceu com a Copa? Eles colocaram R$ 800 milhões. R$ 200 milhões seriam pela Prefeitura para fazer o BRT e R$ 600 milhões para o monotrilho que é o governo do Estado. Só que os R$ 200 milhões que seriam para vir para a Prefeitura, viriam através do governo do Estado. Resultado, se estabeleceu um briga entre o  prefeito, que era o Amazonino, e o governador, que era o Eduardo (Braga). Os dois não se entenderam e a coisa não andou.

Ao avaliar a sua gestão, o que o senhor não faria hoje?

Eu não cometeria os mesmos erros. Por exemplo, entregar secretarias a partidos políticos. Esse erro eu não cometerei mais. Eu reconheço que tive erros, mas eu tive outros erros como por exemplo a dificuldade minha pessoal de me comunicar. Deveria ter me comunicado melhor. Eu não estou atribuindo culpa a nenhum secretário de comunicação porque tanto o Assante, quanto o Coronel são dois rapazes competentes, preparados, capazes que deram o melhor de si. E o Cláudio. Foram três  na verdade. Eu estou dizendo da minha dificuldade de me comunicar. Eu teria me comunicado melhor. Eu teria conversado com a sociedade melhor. Vou lhe dar um exemplo que esclarece bem isso.

O prefeito Artur todo dia diz o seguinte: não tem dinheiro. O governo federal não manda dinheiro e tal. Eu acessei o site do Tesouro. Na minha administração, tivemos de receita corrente líquida nos quatro anos R$ 5,8 bilhões. A Prefeitura de Manaus hoje já tem R$ 12 bilhões. Mais do que o dobro da receita da minha época. Mas eu nunca reclamei disso e ainda tive que ouvir na campanha que a Prefeitura tinha muito dinheiro. Naquela época uma ação do governo do Estado com a Prefeitura de Coari levou da prefeitura de Manaus R$ 200 milhões, que hoje seriam R$ 500 milhões. Imagine se a Prefeitura de Manaus no  meu período tivesse R$ 500 milhoes a mais. Teria tido fôlego para fazer um monte de outras coisas. Com o que nós tivemos nos fizemos muito.  Isso vai ser fácil de ser comparado e mostrado.

O PSB votou pelo impeachment da Dilma. Diante das delações que comprometem a cúpula do PMDB, ainda há clima para afastar definitivamente a presidente Dilma?

Eu entendo que sim. Sou a favor da Lava a Jato, que tem que apurar tudo, seja quem for. Não tem que parar nada. Tem que ir até o final. O Brasil tem que ser passado a limpo. Agora o que nós temos hoje: a Dilma perdeu as condições de governabilidade. Ela não teria nenhuma condição de governar o Brasil mais. Porque ela mentiu absurdamente em 2014 para ser eleita. Aí, ficou no poder. E disse: agora chegou a crise, pois é. E joga 11 milhões de pessoas na rua desempregadas. Desmonta o sonho de ascensão à classe média de setores das classes D e E. Ela não perdeu apenas a sustentação parlamentar, política, partidária,  perdeu a sustentação da sociedade emergente. Aí ficou complicado.

As delações implicaram dois ex-governadores do Amazonas com suposta cobrança de propina. Dá para administrar o setor publico no Brasil sem corrupção?

Eu acho que a corrupção é muito  mais ampla do que se quer imaginar, de se atribuir apenas a pessoas. É um sistema. E pior do que a corrupção é o desperdício no serviço publico. Só tem uma  maneira de combater a corrupção: é a transparência. Tendo a transparência, a corrupção vai lá para baixo. Se todos os dados ficarem disponíveis na internet, se a sociedade interagir e cobrar, vão ser reduzidas as chances de corrupção.  Por que na Petrobras foi um foco de corrupção? Vai ser sempre. Um americano economista fez uma equação da corrupção. A corrupção é poder discricionário, e os diretores da Petrobras tem monopolio, menos transparência. O Itamar Franco era presidente da República e disse: eu quero ver a folha de pagamento da Petrobras, quero saber quanto ganha um engenheiro da Petrobras? Ele deixou a presidência, virou senador e não conseguiu ver. A Petrobras é uma caixa preta, é fechada. Assim não dá certo.

Perfil
Serafim Corrêa

Idade: 69 anos

Formação: Graduado em Economia e Direito

Experiência:  Auditor fiscal aposentado. Foi vereador de Manaus de 1989 a 1992. Candidato a prefeito em 1996 e 2000. Concorreu a vice-governador na chapa de Eduardo Braga  em 1998. Disputou a governador em 2002. Em 2004 foi eleito prefeito de Manaus. Não conseguiu se reeleger em 2008. Em 2010 foi candidato a  vice-governador na aliança com Alfredo Nascimento. Em 2014 se elegeu deputado estadual.