Educação, utopia e partilha – Parte II

Por Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br:

A Universidade do Estado do Amazonas celebrou, enfim, o emblemático acordo de cooperação interinstitucional com a Universidade de São Paulo, FAEA-USP, para um programa de doutoramento em Administração. Trata-se de uma das áreas mais urgentes quando se fala em gestão e educação como fator de transformação da ordem econômica e social. Louve-se o empenho obstinado e decisivo do reitor Cleinaldo Costa, da UEA,  e do ex-reitor da USP, e professor da FEA-USP, Jacques Marcovitch. O Dinter UEA/USP é um avanço robusto de uma parceria antiga, necessária e  promissora, entre dois estados que se entrelaçam em negócios e pesquisas, notadamente pela expansão de importantes atividades econômicas no país, com a extração da borracha nativa na floresta e a produção agrícola de café, 1880-1920, dois  ativos financeiros, com passivos sociais e ambientais que carecem de estudos e investigação das dinâmicas evolutivas de seus resultados. Por que São Paulo emergiu como polo vibrante e a Amazônia permaneceu região periférica na economia brasileira? Quais desafios de pesquisa e interatividade para compreender o papel de seus respectivos empreendimentos e pioneirismo, na perspectiva da ampliação de vantagens de uma aproximação maior entre Sudeste e Amazônia na área de pesquisa e desenvolvimento, na formulação de novos paradigmas de investigação e de empreendedorismo?

Em sua obra sobre “A Gestão da Amazônia: Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas”, publicada pela EDUSP, em 2011, o professor Marcovitch aponta quatro pilares para empreender o desafio e gerenciar o bioma amazônico, 2/3 da geomorfologia nacional: o primeiro deles diz respeito à coleta, articulação e ordenamento de saberes, informações dispersas sobre a região. A partir dessa base de dados, compor um painel econômico e cultural da Amazônia, para as análises que se impõem e que possam orientar a tomada de decisões do gestor corporativo e aos gestores das cidades amazônicas. Essa interatividade de informação e análises de amplas oportunidades, com a participação dos especialistas, vai desembarcar na viabilidade de consenso. Tais descobertas levam necessariamente em conta os danos irreversíveis causados pela destruição de 95% do banco de germoplasma da Mata Atlântica que, atrelada ao paradigma de ocupação predatória de alguns estados amazônicos, “ se aproxima da catástrofe ocorrida há quase dois mil anos – mais precisamente no ano 48 a.C.− no incêndio da Biblioteca de Alexandria, um dos maiores desastres culturais registrados na história da humanidade.”

Arauto dos interessas da Amazônia e de sua integração no sumário de uma política nacional de desenvolvimento, sustentabilidade, e de ciência, tecnologia e inovação, o autor aponta para o fator educacional e da qualificação dos recursos humanos, a partilha de esforços para construir um grandioso futuro para o Brasil a partir da Amazônia. “Não há outro lugar, em nosso País, tão propício quanto esse para experiências avançadas em biotecnologia ou procedimentos de integração e reencontro do homem com a natureza.” Marcovitch concorda com o olhar sobre a Amazônia da geógrafa Bertha Becker, segundo a qual  os inventários do INPA e do Museu Botânico Emílio Goeldi contribuíram para a formação de importantes acervos e coleções. A utopia amazônica, como antecipação da realidade potencial, portanto, sugere passar da cultura do inventário para a de pesquisa e desenvolvimento, com foco em novos fármacos, essenciais à saúde pública, os fitoterápicos, a dermocosmética e a nutracêutica, indústrias da juventude, a partir dos oleaginosas como o cumaru, a copaíba, a andiroba, a castanha do Brasil, o buriti e o pau-rosa: eis os elementos naturais para gerar bem-estar e expansão das terapias para a longevidade, promessas da floresta e de sua urgente  inserção na brasilidade e contemporaneidade continental e global.

Alfredo é filósofo e ensaísta