“Dirigir uma organização não é vê-la como ela é, mas como ela será.” (John Teets)
Francisco R. Cruz*
A gestão está no comando de tudo na vida, mas não é coisa simples. Depende muito do talento das pessoas, mas, sobretudo, das circunstâncias, fator tão determinante quanto indefinido e de difícil controle. Elas, as circunstâncias, transformam gestores reconhecidos brilhantes em determinadas atividades, em medíocres expectadores do fracasso em outras. Essas incertezas, além de liquidarem muitos negócios, criaram um mercado fantástico de livros, cursos e gurus dando receitas que quase sempre não funcionam. Vida dura a de gestor.
Há, porém, um segmento onde parece fácil: o serviço público. De cara é aceito como “sem fins lucrativos”, como se proporcionar bem estar aos cidadãos para o que é pago, não fosse, além de obrigação, o lucro e o fim da sua própria existência. Sem esse compromisso, apresentar resultado deixa o centro da questão e toda a ineficiência, desmandos, desperdícios e desvios são cobertos por todos nós, catequizados contribuintes.
Como todo o resto da administração pública, a educação brasileira tem sido vítima desse conceito. Vítima é exatamente o termo, pois não existiria outra forma de classificar a abissal diferença de desempenho entre as escolas públicas e as escolas privadas. Em qualquer avaliação aparecem discrepâncias extraordinárias, que só a ineficiência e a ineficácia podem explicar.
Segundo o movimento “Todos pela Educação”, por exemplo, em teste para conhecer a qualidade da alfabetização, aplicado a 6000 alunos em todas as capitais brasileiras e que concluíram o terceiro ano em 2010, o desempenho dos alunos da escola pública foi inferior aos da escola particular 23,32% em leitura e 33,67% em matemática. É muita coisa!
Já o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) realizado pela OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico) em 2009 (última edição) mostra que a situação persiste nos anos subsequentes. Entre os 65 países participantes, o Brasil é o quarto a apresentar a maior diferença de desempenho entre a escola pública e a particular, menor apenas de Qatar, Quirguistão e Panamá, últimos colocados naquela avaliação.
Ao olhar esse exame (PISA) por outro ângulo, verifica-se que na classificação geral o Brasil conseguiu o lugar 53 em leitura e 57 na média das três matérias (leitura, matemática e ciências). Se tivéssemos comparecido ao teste apenas com os alunos da escola particular que lá estiveram, a nossa colocação seria a nona em leitura e a décima quinta na média geral. Ou seja, em leitura estaríamos na frente de países como: Austrália, Holanda, Reino Unido, Estados Unidos e até da Alemanha, para citar apenas alguns, e na média geral teríamos desbancado Estados Unidos, Noruega, Suécia, Reino Unido, França e Itália, entre outros. E ao contrário, se tivessem ido apenas os alunos da escola pública o Brasil seria o penúltimo colocado entre os ditos 65 países.
Faço aqui um parêntesis para dizer, que tudo isto saiu na imprensa sem causar nenhum mal estar a todos nós. É o futuro do país que está em jogo e nem isto nos comove. Até os estudantes, tão aguerridos no passado e, teoricamente, os mais atingidos, sequer tomaram conhecimento, amortecidos que estão pela “bolsa cala a boca” distribuída às entidades dessa classe.
Objetivamente não existiriam razões para tamanho descompasso. Quem faz a escola são gestores, professores, pedagogos e outros profissionais. Todos eles, praticamente, têm a mesma origem. Formam-se nas mesmas faculdades onde recebem as mesmas técnicas e conhecimentos para ensinar. Muitos deles são professores nas duas escolas. Ou seja, como pode “inputs” tão semelhantes produzirem “outputs” tão diferentes? A massa é igual, mas o bolo sai muito diferente. O defeito só pode ser do “boleiro”.
Aos salários já foram atribuídas às fraquezas do desempenho da escola pública. Não é verdade. As pesquisas já mostraram que, praticamente, inexiste diferença substancial a ponto de ser o motivo da discrepância. Evidente que o professor precisa ganhar melhor, mas este não é o problema.
E qual será? Talvez nos falte olhar no espelho dos exemplos de eficácia existentes no país. Esse da escola particular é um deles. No ensino público, como já se mostrou nesse espaço, há ilhas de excelência. Mesmo nas escolas públicas de baixo desempenho existem professores que fazem a diferença. É preciso conhecer todos esses caminhos de sucesso, aprender com eles, espalhar suas experiências por todo o sistema educacional e melhorar os resultados. Os alunos da escola pública representam quase 90% do todo o que torna o ensino particular insignificante diante das demandas do país. Esse é o alerta.
Precisamos de pesquisadores, engenheiros, designers, químicos, físicos, matemáticos, de gente preparada enfim. Precisamos de um premio Nobel. E para que isto aconteça é fundamental mudar essa dinâmica que se repete há anos sem resultado algum. O foco deve deixar os atributos como referência de gestão, pois o que interessa é o cumprimento da missão: crianças e jovens recebendo educação de qualidade, que lhes permita competir em condições de igualdade com o resto do mundo e oferecer contribuições ao desenvolvimento tecnológico do país.
Finalmente um conselho aos pais de alunos da escola particular: não se entusiasmem com os resultados apresentados aqui. Os números são médios. Fiquem atentos, pois, assim como existem escolas de qualidade no ensino público, escolas de baixo rendimento, também, são encontradas no modelo privado. E não são poucas.
*Francisco Cruz é empresário e foi presidente de empresa estatal. Entre 2001 e 2009 coordenou a área de educação do “Pacto Amazonense”.