Por Francisco R. Cruz*
“A sociedade do século XXI será eminentemente científica” (Domenico de Masi) Quem não gosta de história? Acredito que a maioria gosta. Talvez seja consequência das estórias ouvidas por todos desde a infância. Além do mais, exibir conhecimento nessa área distingue as pessoas. São apontadas como inteligentes e confundidas como intelectuais. Filme histórico, por exemplo, é receita certa de sucesso nas bilheterias. Mas, evidentemente, há quem não goste. Boa parte desse pessoal está nas nossas escolas. São jovens que acham chato decorar datas, eventos, personagens históricos e acidentes geográficos. Não consideram esses conhecimentos importantes e, de cara, os rejeitam, atitude que muitas vezes é paga com a reprovação, ainda que, em matérias importantes como português e matemática, sejam brilhantes. Atingidos na sua autoestima, muitos não resistem e abandonam a escola deixando para trás os seus sonhos e os de suas famílias. Talvez um dia retornem e venham engrossar as estatísticas do desequilíbrio idade/série. À sociedade restará assumir esse prejuízo.
Cito o pensador italiano Domenico e faço esta digressão inicial para apoiar os argumentos desse artigo, que infere sobre a viabilidade do ensino de história e geografia nos moldes de hoje. Não há o menor sentido em o país continuar investindo nessas duas matérias, com a mesma intensidade que fazia há mais de cem anos, quando as demandas eram outras e o professor, praticamente, a única fonte de transmissão de conhecimento. A sociedade prevista por Domenico no século passado, já chegou e mostra que o país não se preparou para ela. No ensino continuamos a praticar a mesma dinâmica do início daquele século. Não temos pressa. E, embora o mundo, globalizado, exija velocidade e preparo para a interação com outros povos continuamos a ser um país de monoglotas.
Mesmo diante dessa triste realidade e sem falar em outras coisas, talvez, menos relevantes, nossa grade escolar reserva para história e geografia juntas, entre seis e oito horas por semana. Esse tempo é maior do que o dedicado ao português ou à matemática. A outros idiomas, nem se fala. E como instrumento de mobilidade social, nem se compara a importância entre as duas situações. Aprofundar-se no português, nas ciências exatas e falar fluentemente, pelo menos, outro idioma devem constar do “kit” “melhoraria de vida” do jovem pobre. É a sua única saída digna. Mas quantos anos uma criança levará para falar inglês, por exemplo, estudando uma hora por semana como faz hoje? Sem a melhoria do ensino público e não tendo condição de frequentar boas escolas particulares, o pobre neste país começa perdendo desde a largada, o que torna raríssima a possibilidade de subir ao pódio.
Ao longo da nossa história educacional tem sido assim, nunca dispensamos importância ao estudo de idiomas e às ciências exatas, com inegáveis prejuízos ao desenvolvimento tecnológico do país e, certamente, tem influência direta no interesse da juventude em seguir o caminho dos números. Tanto é que apenas 2% dos nossos jovens que procuram um curso superior seguem nessa direção. Nos países desenvolvidos a média é de 12% e, em alguns países asiáticos, essa marca é superada.
Mudar essa situação, mais do que nunca, tornou-se dramaticamente imprescindível. Talvez esse seja o maior desafio operacional da nossa educação. Difícil de corrigir, pois, na base, onde começam as definições das preferências das crianças, até o terceiro ou quarto anos, o professor é um só para tudo. Tem de entender de coordenação motora à matemática e, certamente, a esmagadora maioria deles não saiu daqueles dois por cento aqui mencionados. Ou seja, as crianças são iniciadas na matemática por um professor que não tem a menor afinidade com números. Poucos serão diferentes disto. Para mudar esse jogo, temos de enxugar a grade curricular, aumentando a importância das ciências exatas e dos idiomas com aulas todos os dias, reduzindo-se o tempo de outras matérias, entre as quais história e geografia, que, inclusive, não devem ter caráter reprovativo.
Sem querer tirar a importância dessas matérias, há de se convir que, sendo a história interpretação de fatos e acontecimentos, o grau de falibilidade é muito grande. Os mais velhos sabem muito bem disto, pois, quando estudantes “queimaram a pestana” no aprendizado de versões históricas, hoje interpretadas de forma muito diferente daquelas que aprenderam.
E a geografia? Como em história, todo o conhecimento sobre essa matéria está à disposição do homem e o novo, quando acontecer, em questão de segundos o mundo tomará conhecimento dele. Portanto, para quem quiser se aprofundar nas duas matérias o mundo digital é ferramenta extraordinária. Hoje se pode fazer uma viagem virtual a qualquer lugar, inclusive percorrer as bibliotecas e os museus mais famosos do Planeta. Sobre essa realidade, aliás, a professora e doutora em matemática e pedagogia Cizira Bianchi aconselha: “A educação deve conectar-se à inteligência, visto que seu papel, no século XXI, deve ser o de produzir pessoas inteligentes e não indivíduos com muito conhecimento. O conhecimento humano, hoje, é duplicado em poucos meses. Daí que nosso único guia de sobrevivência, neste mundo de avanço tão rápido é nossa inteligência. Consideramos aqui o termo “inteligência” como a capacidade de raciocinar, tirar conclusões, analisar, sintetizar, criar coisas novas a partir das já conhecidas”.
Francisco R. Cruz – É empresário.
Entre 2001 e 2009 coordenou a área de educação do “Pacto Amazonense”