Por Rodemarck Castelo Branco (*)
A seleção natural das espécies ocorre pela necessidade de sobrevivência na adaptação às modificações ambientais. É um processo lento, de modo que rápidas alterações no meio ambiente – como o provocado pelo desmatamento da Amazônia – destroem o equilíbrio ecológico deixando várias espécies ameaçadas de extinção. Comportamento que se repete com as organizações: somente sobrevivem aquelas que se adaptarem às transformações econômicas e tecnológicas.
Até os anos 60 do século passado, as mudanças tecnológicas eram mais lentas, facilitando o processo de assimilação pelas empresas. Com a Terceira Revolução Industrial, baseada na tecnologia digital, as empresas foram compelidas a serem mais ágeis na adaptação às novas tecnologias e a uma economia mais globalizada. Com a Quarta Revolução Industrial, em curso, baseada em inovações tecnológicas disruptivas, as ameaças a sobrevivência de empresas tiveram aumento exponencial. Sucumbiram ou reduziram sua relevância empresas mundiais – Kodak, Blockbuster, Olivetti, Blackberry, Nokia, dentre outras. Outras aproveitaram as janelas de oportunidades pelo avanço tecnológico, revolucionando o mercado de consumo com o lançamento de produtos até então inexistentes.
Historicamente, países e regiões perderam protagonismo por mudanças tecnológicas e/ou econômicas – a economia da Amazônia foi aniquilada quando a borracha extrativa foi substituída no mercado internacional pela de cultivo. Em contrapartida, países aproveitaram as tecnologias disruptivas para saltos de produtividade, de expansão econômica e de bem-estar social – Inglaterra e Japão, respectivamente na 1ª e na 3ª Revoluções Industriais. Geralmente são vencedores países que desenvolvem fatores impulsionadores da prosperidade: qualidade das instituições, recursos humanos qualificados, ambiente propício à inovação, infraestrutura de logística e poupança doméstica.
Nas próximas décadas, a magnitude e a complexidade da 4ª Revolução Industrial – impulsionada por tecnologias capazes de romper com padrões e modelos já estabelecidos no mercado – redesenhará a geografia econômica mundial, criando Vencedores e Perdedores.
Onde estará o Brasil? E o Amazonas? Mantido o atual padrão de desenvolvimento, o país perderá oportunidade de inserção mais competitiva na nova ordem econômica mundial. No Amazonas, não ocorrendo mudanças estruturais no padrão de desenvolvimento, o novo paradigma tecnológico e as reformas econômicas previstas para os próximos anos (abertura da economia, reforma tributária e ajuste fiscal) aumentarão a vulnerabilidade da economia.
A turbulência que atravessa a economia regional, com profundos reflexos sociais, tem causas não apenas conjunturais – queda da renda e do emprego no país -, mas possui raízes estruturais: (i) convergência tecnológica que reduz o ciclo de vida dos produtos, tornando obsoletos vários aqui fabricados; (ii) desemprego estrutural, reflexo da necessária automação e robotização das fábricas; (iii) infraestrutura deficiente para atender aos novos padrões de produção; (iv) baixa integração às cadeias produtivas mundiais. Além do mais, deverá ocorrer redução do nível de proteção tributária dos produtos industriais incentivados – reflexo do inadiável aumento do grau de abertura da economia brasileira e da reforma tributária.
São abundantes os sinais de impacto da convergência tecnológica no PIM, como demonstra a redução do ciclo de vida dos bens de consumo – surgem e desaparecem com celeridade. No caso do televisor (23% do faturamento do PIM), o avanço da digitalização e as novas tecnologias aumentarão a concorrência com outros dispositivos conectados à Internet – afetando a sua demanda. Por sua vez, o polo de bens intermediários será impactado pelo aumento do grau de compactação de funções em poucos componentes – diminuindo ainda mais a agregação de valor no processo final de produção -, o que exigirá escalas mais elevadas de produção para viabilização de planta industrial para produção de componentes de alto teor tecnológico. Fator dificultador do adensamento da cadeia produtiva regional.
Em contraposição às forças que geram vulnerabilidade, descortina-se à economia regional amplas janelas de oportunidades na Quarta Revolução Industrial. Para tanto, o PIM, que nas últimas décadas gerou profunda transformação na estrutura produtiva do Amazonas, necessita incorporar no processo fabril novos produtos criados a partir das novas tecnologias. Fatores de atração positivos são a presença no PIM de fabricas de marcas mundiais e o uso de tecnologias de processo de padrão internacional. Fatores de repulsão são as deficiências na infraestrutura, fragilidade do sistema de ciência e tecnologia e imobilismo de sua elite. Como afirmava Keynes “a dificuldade não está em aceitar as novas ideias, mas desvencilhar-se das velhas”.
A biotecnologia – embrião da próxima grande revolução tecnológica – oferece ferramentas para o aproveitamento da biodiversidade da Amazônia de forma sustentável, possibilitando o surgimento de pujante bioindústria na área de fármacos, fitocosméticos, alimentação e biomateriais. Outra oportunidade surge com as Mudanças Climáticas, na venda de créditos de carbono – mercado que deverá ter forte expansão nas próximas décadas. As belezas cênicas da região e a marca Amazônia podem impulsionar o ecoturismo. As reservas de gás podem estimular o surgimento de polo gasoquímico. São algumas das oportunidades para diversificação da matriz econômica do Amazonas.
São opções econômicas debatidas há décadas, mas com raridade de medidas para viabilizá-las. A cultura do curto prazo privilegiou remendos ao modelo atual, com ações circunstanciais para enfrentamento das crises econômicas. A expansão econômica propiciada pela ZFM anestesiou a classe dirigente local para a diversificação da matriz produtiva. Ficando entrincheirada, quase nunca de forma preventiva, na defesa dos incentivos fiscais – necessária para a conservação das vantagens competitivas do PIM -, mas sem uma estratégia de desenvolvimento. Deve-se abandonar a cultura do “achismo” e do imediatismo e assumir visão de longo prazo, com a formulação de Plano Estratégico a partir da construção de Cenários Prospectivos. Ou nos adequamos às profundas mudanças em curso ou o destino do Amazonas será comprometido nas próximas décadas. Para isso, é essencial estarmos atentos aos novos cenários, buscando antecipação às mudanças que impactarão o desenvolvimento do Amazonas.
(*) Rodemarck Castelo Branco é economista e consultor.