As manchetes de hoje, em especial de A CRÍTICA, dizem respeito à queda da atividade industrial na Zona Franca de Manaus. E há um ano a união de todos permitiu a prorrogação do projeto ZFM por mais 50 anos a partir de 2013.
O que teria havido?
As matérias indicam apenas fatores externos como inflação, a crise brasileira, alta dos juros, falta de crédito, etc.
Pergunto eu, e nós, fizemos o dever de casa?
A resposta é direta e objetiva: NÃO.
Os fatores externos existem, mas os internos, também, e o pior é que predomina uma cara de paisagem como se nós tivéssemos feito tudo e quando as coisas não vão bem a culpa é dos “outros”.
Neste final de ano conversei com consultores, executivos e empresários e captei claramente dificuldades na implantação de novos empreendimentos, bem como na operação do dia a dia das empresas já instaladas. Para contribuir com o debate listo abaixo:
NOVOS EMPREENDIMENTOS
● – APROVAÇÃO DO PROJETO PARA OBTENÇÃO DOS INCENTIVOS DA SUFRAMA, SUDAM E SEPLAN.
Há reclamações quanto à demora nessa aprovação, com relevo para o fato de que o PPB não é definido em Manaus, mas em Brasília. Em verdade, os poderes da SUFRAMA foram, há muito, transferidos para o secretário-executivo do MDIC. A aprovação pela SUFRAMA não significa dizer que automaticamente estaria aprovado na SUDAM, que fica em Belém. O racional é se a SUFRAMA aprovou, e a SUDAM tem assento no Conselho da SUFRAMA, o projeto estaria automaticamente aprovado, mas não é assim.
● – TERRENO
O Distrito Industrial II no Puraquequara está abandonado pela SUFRAMA. Não há mais vigilância e as invasões proliferam. Até a guarita da entrada do Distrito foi abandonada, virou uma borracharia e agora uma feirinha. Resultado, a empresa termina tendo que correr atrás em outras áreas e os preços dos terrenos dispararam.
● – VIA CRUCIS DO PROJETO INDUSTRIAL: SUFRAMA, ELETRONORTE, CORPO DE BOMBEIROS, IPAAAM e IMPLURB.
A aprovação de um projeto industrial é uma verdadeira via crucis.
Passa pela SUFRAMA. Vai à ELETRONORTE para que aprove a demanda. Não demora menos de dois meses.
Daí para o Corpo de Bombeiros que coloca todas as dificuldades. Registro que somente em três países, dentre os 212 existentes no mundo, existe essa exigência: Portugal, Brasil e Angola. Será que nós estamos certos e os demais errados? Claro que não. O projeto é elaborado por vários engenheiros, todos com qualificação técnica, e executado por uma construtora, com vários engenheiros, também, todos eles qualificados. Os responsáveis técnicos pela obra com anotação no CREA são eles. Essa exigência é descabida, mas um projeto demora até seis meses para ser aprovado.
Depois o projeto vai ao IPAAM, que tem boa vontade, mas enfrenta uma legislação ambiental dúbia e complicada, a começar pelo Código Florestal, que proíbe construções a menos de 500 metros da margem do Rio Negro.
Por último chega ao IMPLURB, onde igualmente demora além do tempo razoável.
Quando a empresa vê, chegou o período das chuvas e não dá para começar a terraplanagem. Aí fica para o ano seguinte.
Depois, nós que não fizemos o dever de casa, não entendemos porque as coisas não acontecem.
Faço estes registros e peço a reflexão de todos. Está na hora de quebrar essa inércia.
DEPOIS DO EMPREENDIMENTO EM OPERAÇÃO
Aí as dificuldades são bem conhecidas, embora, também, em relação a elas se faça cara de paisagem.
Instabilidade da energia, que esperamos seja agora resolvida com o novo Ministro, péssima Internet, péssima telefonia, burocracia, com um órgão fazendo duas e até três vezes o que já foi feito por anteriormente, reclamações quanto aos serviços de portos e aeroporto, que não funcionam nos finais de semana e nos feriados, logística, recursos humanos.
Será que não é hora de reconhecermos que não estamos fazendo o dever de casa e isso é parte considerável do problema?
Eu acho que, sim.