É HORA DE DEVOLVER O DINHEIRO AO POVO DE MANAUS!

Pede-me a imprensa a opinião sobre a decisão do CNJ que puniu dois magistrados por procedimento incompatível com a toga em processo referente a repartição da receita de ICMS de interesse de Manaus quando eu era o Prefeito.

Tal pedido decorre do fato de ter sido eu o autor da representação ao CNJ pedindo que apurasse fatos esquisitos que aconteceram naquele processo. É bom registrar que a minha representação disse respeito exclusivamente a questão do ICMS, nada tendo eu a ver com outras questões por não dizerem respeito nem a mim, nem ao Município de Manaus quando eu era Prefeito.

Sobre a decisão em si, não tenho nada a dizer, a não ser reafirmar a minha confiança no Poder Judiciário, que tem o CNJ na segunda posição na sua hierarquia, mas aproveito a oportunidade para relembrar alguns fatos e reiterar o que já disse antes: Manaus tem direito a receber do Estado do Amazonas o total do seu prejuízo.

Relembro que o Governo do Estado, diante da sempre omissão e sob o beneplácito de quem deveria fiscalizá-lo, há mais de vinte anos afronta a Constituição Federal no que diz respeito a divisão do ICMS entre os Municípios, com grande prejuízo para Manaus.

Por conta da omissão do Governo, em 2005, o Município de Coari entrou com uma ação objetivando fossem calculados e publicados os índices de rateio do ICMS de acordo com o valor adicionado por Município, assim entendida a diferença entre entradas e saídas de mercadorias em cada um dos 62 municípios, como determina a Constituição Federal.

O Governo do Estado até contratou um estudo que realizou os cálculos, mas recusou-se a divulgá-lo porque a sua aplicação implicaria em aumentar o valor dos repasses para Manaus.

Coari apresentou um estudo pelo qual o seu percentual teria que ser elevado e, como o Governo não apresentou o seu, obteve uma decisão judicial em seu favor obrigando o Governo a garantir tal percentual, no ano de 2005. Óbvio que se um montante vai ser dividido entre 62 municípios, a alteração em favor de um, modifica a participação dos demais 61, razão pela qual é necessário que todos eles sejam chamados à discussão.

O Governo, no entanto, passou a tirar apenas de Manaus e terminado o ano de 2005, continuou fazendo o mesmo em 2006, 2007 e 2008. Manaus fez de tudo no nível do Judiciário local e apesar da competência, dedicação e argumentação dos Procuradores do Município não conseguiu reverter o procedimento adotado pelo Governo.

Em maio de 2008, a Operação VORAX comprovou que os métodos usados por Coari para obter as constantes vitórias judiciais contra Manaus não eram republicanos, nem decorriam de conhecimento jurídico. O DIÁRIO DO AMAZONAS divulgou os diálogos envolvendo magistrados, funcionários e prepostos de Coari que chocaram a sociedade, mas, sobretudo o mundo jurídico.

Manaus levou a discussão jurídica do caso ao STJ – Superior Tribunal de Justiça – e a administrativa ao CNJ – Conselho Nacional de Justiça.

Em dezembro de 2008, o STJ julgando o processo, após brilhante sustentação oral de um Procurador de carreira do Município, que sintetizou todos os argumentos feitos por toda a equipe da Procuradoria, por unanimidade, deu razão integral a Manaus. No mesmo mês, o CNJ decidiu instaurar Processo Administrativo Disciplinar para apurar responsabilidades.

Ao deixar a Prefeitura, entreguei ao meu sucessor texto contendo as nossas razões e as planilhas com os valores – cerca de 200 milhões de reais – que deveriam ser ressarcidos a Manaus pelo Governo do Estado, já que foi ele quem deu causa ao problema pela sua omissão. O Prefeito que me sucedeu, e nisso (pelo menos) está de acordo comigo, formalizou a cobrança amigável ainda em 2009, o que teria provocado irritação no Governo que se recusou a pagar o que deve a Manaus.

Hoje, com a decisão do CNJ reconhecendo a responsabilidade dos dois magistrados, portanto agentes do Estado-membro, nos danos causados aos cofres municipais, não há mais como o Governo do Estado dizer que não tem nada com isso.

É hora de devolver o que foi retirado de forma ilegítima de Manaus. O governador Omar Aziz, que acaba de ser eleito com expressiva votação em Manaus, não tem nenhuma razão jurídica, administrativa ou política para deixar de repor as perdas e os danos causados pelo Estado ao Município.

Duzentos milhões de reais é muito dinheiro, fez muita falta na minha administração, mas, sobretudo fez e faz falta ao povo de Manaus. Com tal valor seria possível construir 40 escolas de vinte salas. Ou fazer oito mil casas populares. Ou construir o Viaduto da Bola do São José e mais três outros do mesmo porte, desafogando o trânsito. Ou mais de 1 quilometro da ponte Manaus-Iranduba.

Tenho toda autoridade para fazer tal cobrança porque não sou mais o Prefeito e foi a minha administração a grande prejudicada. Os recursos entrando agora vão favorecer a atual administração, da qual sou adversário.

No entanto, o que importa é o Município que é credor desse valor, que não pertence a mim, ou ao atual Prefeito, mas sim ao povo de Manaus.

Os dois atores do próximo ato – devolução amigável, ou não, pelo Governo do Estado dos 200 milhões de reais – são o Governador do Estado e o Prefeito da cidade. O que se espera do Governador é que ele reponha os valores numa postura republicana. Do Prefeito, a sociedade espera que ele cobre o Governo do Estado. Amigável no primeiro momento, mas judicialmente se não obtiver êxito na conversa.

Poderíamos ter um terceiro ator, importante no pacto federativo, a quem institucionalmente deveria defender, ao lado da ordem jurídica, mas este, no que tange a Manaus, deixou de existir em 31.12.2008.

Portanto, sem mais delongas, chegou a hora do Governo do Estado devolver o dinheiro ao povo de Manaus.

4 thoughts on “É HORA DE DEVOLVER O DINHEIRO AO POVO DE MANAUS!

  1. Prezado Serafim,
    Por isso e outros fatos, é que acreditamos que parte da população cidade de Manaus foi injusta com vossa administração. Hoje, vemos a atual administração perdida, transporte coletivo ruim, educação fraca – vide pesquisa nacional,a política ambiental sumida – a população da cidade nem sabe quem é o secretário, cadê a política de arborizaçao???
    O tempo é senhor da razão. Essa cidade ainda vai mudar para melhor.

    Parabéns.

  2. Parte adqueles que se empenharam em manchar a toga já foram mais cedo para casa. O CNJ fez e repos a justiça no seu devido lugar.
    Sereno e lucido é este seu artigo sobre esta luta que precisa ser assumida por quem ama manaus de fato e devolver-lhe o que lhe é de direito.
    Não esperemos muito de Omar e Amazonino pois dirão que isso é coisa do passado.
    A luta pela moralização do nosso juducário baré continua e a vitória vem ainda que de modo transverso ou obliquo ou seja vc atira no que vê e acerta o que não vê.
    Ponto para o CNJ e para vc Sarafa.

  3. Serafim, agora tu podes ter certeza de uma coisa: MUITOS DOS CANALHAS QUE ESTAVAM NAQUELA FAMOSA FILA SAÍRAM CORRENDO PRA BAIXO DAS ASAS DOS SEUS “MESTRES” DIZENDO A ELES O SEGUINTE: CHEFE….TU TÁ VENDO AÍ, EU TÔ FORA!!!AI,AI,AI….

  4. Prefeito, veja este e-mail que circula em Manaus nos últimos dias. O assunto é importante e está interferindo no cotidiano dos municipes. O sr., como um defensor do bem-estar da cidade, pode encampar esta batalha! Abs,
    Julio

    Vamos baixar o preço da gasolina em Manaus?

    Eles são organizados e vendem um produto do qual precisamos todos os dias. Por isso estão rindo de nós. Os donos de postos de combustível em Manaus aumentaram o preço do litro da gasolina de R$ 2,40 para R$ 2,70, do dia para a noite. Em menos de 3 dias todos os postos da cidade alinharam esse preço. Não houve quebra da bolsa de valores, problemas na distribuição, desastre em refinaria. Houve apenas uma reunião. Eles conversaram entre si e chegaram a conclusão de que deveriam aumentar o preço da gasolina em 12,5%. De um dia para outro. E todos ao mesmo tempo. Quando indagado sobre o assunto, o presidente do sindicato de distribuidores de Manaus respondeu: “É que somos que nem o twitter. Um segue o outro”. E aí? Estão rindo ou não estão?

    O Ministério Público e o Procon estão investigando o caso, mas nós sabemos quando isso irá surtir algum efeito prático, não é? A forma mais efetiva de conseguirmos reverter essa situação é exercendo o papel de consumidores organizados. E fazê-los sentir no bolso. Não temos como deixar de colocar combustível nos nossos veículos, mas podemos derrubar esse cartel: basta quebrar a corrente. Vamos deixar de comprar em uma rede de postos e forçá-la a rever a política de preços.

    Nos organizamos como consumidores, deixamos de comprar em uma marca de postos por um determinado período de tempo. Provavelmente os proprietários de postos não irão acumular prejuízos para sustentar um cartel que está beneficiando apenas a seus concorrentes.

    Por isso, proponho que nós, moradores de Manaus, não compremos combustível nos postos da marca ATEM, entre os dias 18 e 30 de dezembro. E por que a ATEM? Bem, poderia ser BR, ESSO, SHELL, qualquer uma dessas, mas, nada contra a ATEM, só que uma marca regional deverá sentir o impacto com bem mais força, ou não?

    Então proponho aos que moramos em Manaus que, entre os dias 18 e 30 de dezembro, ignoremos a existência dessa marca. A ATEM, junto com as outras, está rindo das nossas caras.

    Esse é um protesto silencioso, pacífico e que pode fazer com que sejamos mais respeitados.

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