“Dona” Graça Ramos.

Mãe, era dia 06.10.1985. Papai como sempre acordou cedo e colocou um vinil do Roberto Carlos no último volume – era a forma dele de nos acordar cedo aos domingos.

Diferente das outras vezes, papai resolver dispensar o carro e fomos de ônibus para a confraternização do “Encontro de Casais com Cristo”. Na volta daquele domingo, tudo mudara em nossas vidas. Papai não voltou, vítima de um enfarte fulminante, e a senhora era uma jovem viúva com 32 anos e 4 filhos pra criar, o mais velho, eu com 12 anos, o mais novo o Rodrigo com 3 e ainda o Beto com 9 e a Glenda com 7.

Estávamos na casa do Zé Cordeiro, ainda com um fio de esperança, quando chegaram comunicando o falecimento. Eu, então um menino de 12 anos, te abracei e disse pra ter calma que eu estaria ao seu lado e que nossa família resistiria àquela perda.

Os primeiros meses foram difíceis – muito difíceis – estávamos como uma canoa sem quilha, não sabíamos cuidar das contas de casa, não conseguíamos nem voltar pra casa, a senhora chorava sua saudade e eu tentava parecer forte ao seu lado (chorava no quarto escondido).

O tempo foi passando e a senhora foi se forjando nessa mulher capaz de qualquer sacrifício pelo seu amor aos seus filhos.

Mãe, eu te vi chorar quando as contas não fechavam ou quando faltava o dinheiro pra mensalidade da escola. Quantas vezes na minha rebeldia juvenil fui injusto com a senhora e te cobrei coisas impossíveis para nós. Hoje sei que até o teu não era um ato de amor, talvez o maior deles.

No teu colo chorei o choro do adolescente que perdia uma competição, o choro de felicidade de um jovem aprovado no vestibular e o choro de um adulto pai preocupado com os destinos do filho. Em todos os momentos de dor ou de felicidade, é o seu colo o meu porto seguro.

Passamos tanta coisa juntos, mãe. Tudo valeu a pena. As alegrias, os choros, as angústias, as dores. Nossa bonita família é síntese de toda essa história, mas é, acima de tudo, expressão do teu amor e da tua coragem incondicional de mãe.

Parabéns!