De O GLOBO:
Durante a gravação do “Roda Viva”, Dirceu disse que não pode aceitar o que o candidato derrotado José Serra (PSDB) fez com ele durante a campanha . Declarou ainda que foi linchado publicamente antes do seu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, disse acreditar que o tucano não acabou politicamente depois da derrota e reconheceu seu valor porque ele lutou até o final.
– Espero que ele tenha um papel na oposição. Não espero um país sem oposição. Não espero que o país viva assim – disse.
De acordo com Dirceu, a postura de Serra na campanha, principalmente no horário eleitoral de rádio e TV, foi inaceitável.
– Não posso aceitar o que o José Serra fez comigo. Ele me linchou. E se eu for absolvido no Supremo, como é que fica? Ele me colocou como chefe de quadrilha. Eu tenho biografia, não tenho folha corrida – afirmou durante o programa, que vai ao ar às 22h.
Conversando com jornalistas depois da gravação, Dirceu estranhou o pronunciamento de Serra reconhecendo a derrota. Para ele, o discurso foi pequeno do ponto de vista político.
– O problema é que o objetivo dele continua sendo uma mistificação, que é lutar pela liberdade e pela democracia, como se ela estivesse ameaçada. Lutar pela liberdade e pela democracia, nós devemos sempre lutar. Agora, que esse é o principal problema do Brasil e a oposição deve ser construída em uma luta, como se nós fossemos uma ameaça para o país, não é correto. Ele está vivendo em outro país – ironizou.
Mesmo com a crítica contundente, o ex-ministro e ex-deputado, que teve os direitos políticos cassados por dez anos em 2005, disse não subestimar a carreira política do adversário.
– Eu não subestimo. Isso de dizer que está morto, que não vai mais fazer política, que não tem mais espaço, não é assim. Posso discordar, até condenar como ele entrou na campanha porque a guerra foi suja, a campanha se rebaixou muito. Essa questão religiosa, é muito grave que ele tenha trazido isso. A maneira como se tratou a questão da interrupção de gravidez, do aborto, mais grave ainda, mas isso não significa que eu não reconheça que ele lutou e batalhou até o final.
Na avaliação de José Dirceu, o PSDB e o DEM têm força para fazer oposição, mas, a partir de agora, ressalvou os tucanos vão ter de superar a crise pós-derrota.
– Agora é crise no partido porque eles estão praticamente empurrando o Aécio Neves para fora do partido. E quem autoriza isso está querendo que ele saia. Não vai ser tão fácil assim a vida do PSDB e do DEM. Mas eu não subestimo a oposição, porque ela tem força.
Durante o “Roda Viva”, o ex-ministro disse também que a oposição tinha a “certeza que ia ganhar a eleição de nós” e que o governo Lula foi o que mais trabalhou contra a divisão do país, enquanto o discurso da oposição muitas vezes foi exatamente o contrário. Falando sobre as acusações que responde no STF, Dirceu disse que, independente do final do processo, vai fazer a sua defesa na sociedade e espera que o seu julgamento, que ainda não tem data definida, não se transforme no “terceiro turno das eleições”.
Sem se irritar com o bombardeio de cobranças da banca de entrevistadores do programa da TV Cultura, ele se disse injustiçado, sem ter o mesmo tratamento que casos semelhantes receberam.
– Virei um personagem que eu não sou. Mas estou satisfeito com a solidariedade que recebi nesse país – disse.