No dia a dia, tenho ouvido muitas dúvidas dos eleitores sobre em quem votar neste segundo turno. Li agora no D24am o artigo do competente jornalista Márcio Noronha, um dos responsáveis pelo sucesso do DEZ MINUTOS, que sintetizou de forma simples e objetiva as dúvidas que ouvi de várias pessoas, razão pela qual tomo a iniciativa de reproduzir seu artigo abaixo:
SEM OPÇÕES E CANSADO DE VOTAR POR EXCLUSÃO
Por Márcio Noronha, publicado originariamente no Portal D24am:
“O bom homem público sabe usar a razão e a emoção. Por meio da dosagem destas, ele que consegue, usando a retórica, convencer os demais homens públicos da validade das leis e dos bons resultados que suas ideias proporcionarão” – Marco Túlio Cícero, em 42 A.C.
Já escolhi Dilma ou Serra várias vezes, mas a definição não é sólida a ponto de suportar a leitura dos escândalos nos jornais no dia seguinte.
Não sei em quem vou votar para presidente. Ainda não decidi. Estou cansado de votar por exclusão. Já busquei argumentos e propostas em Dilma e Serra. Não há razão. Não há emoção. Já analisei os governos dos dois grupos. Já escolhi um dos dois várias vezes, mas a definição não é sólida a ponto de suportar a leitura dos escândalos nos jornais no dia seguinte. E o pior: os debates de segundo turno só vieram ratificar minhas dúvidas.
Pra começar, apesar de laços, nunca tive alinhamento ideológico com nenhum dos dois grupos. Trabalhei em uma secretaria comandada por petistas e tenho fundadores do partido na família. Conheço e gosto de alguns políticos tucanos, que consideram bem mais pragmáticos e preparados que a média dos políticos de nosso Estado. E importante: não dependo de cargos ou tenho pretensões de influência de cargo onde quer se seja. Pois bem, isso elimina o xiitismo cego que vem tomando conta das discussões sobre qual é o melhor modelo para o País.
Admiro Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva, que fizeram, cada um a sua maneira e enfrentando os problemas de seus tempos, mudanças radicais no Brasil. Mesmo sendo antíteses um do outro, FHC e Lula são complementares. Seus títeres, no entanto, deixam muito a desejar. Não passam segurança. Ao tentarem parecer firmes, escorregam. Não demonstram condições de comandar o País e nem de que vão seguir conselho e os passos dos mestres.
Vejo virtude no lado franco do PSDB. Seus membros, em grande maioria, são políticos profissionais, preparados, forjados para a lida na arte do jogo de cintura político. A despeito de alguns equívocos, a base estrutural da economia que ajudou o Brasil a suportar a crise mundial foi construída pelo governo azul. Estrutura física e intelectual que permitiu melhorias também no sistema educacional, de telecomunicações, entre outros, também são heranças de FHC.
Fui simpático ao Partido dos Trabalhadores. A história e a união de intelectuais com operários criaram uma mística que me agradava. O governo vermelho teve muitos avanços sociais. Basta andar por Manaus que você vai ver a pujança econômica que é reflexo dos programas sociais e da possibilidade do avanço de classe.
Sempre fui a favor da alternância de poder. Acho que isso oxigena a democracia e as estruturas de governo e poder. Por esta perspectiva, Serra despontava como opção. Ao lado do estigma de ‘inimigo da Zona Franca’, ele tinha fama de bom gestor, de montar bons quadros administrativos, de ser o ‘mais preparado’. Não me convenceu quando podia. No horário eleitoral, tentou pegar carona na credibilidade de Lula. Nos debates, oscilou entre confuso e desinformado.
Para alguns, a continuidade virou reflexo de avanço nesta eleição. No Amazonas então, nem se comenta. Bom, decidi analisar o voto em Dilma. Também tinha fama de boa gerente, de competente, de capacitada. Apagões e tráfico de influência sujaram este currículo. A impressão que tenho é que ela não se sente confortável como esta pessoa em que foi transformada. No âmago, ela não é elegante e não gosta de política. A vejo como executora. Não como executiva.
No último debate na TV, no dia 17/10, ficou latente o vazio na explicações das acusações de ilegalidades contra assessores diretos dos dois candidatos. Acossados, ambos titubearam. Chegaram a gaguejar. Tergiversaram. Não responderam. As falhas ao dizerem que não conhecem um assessor próximo ou que não conseguem fiscalizar todo um governo só pioraram a situação. E investigar e punir, assim como ‘ser ético’, não é diferencial positivo, é obrigação.
De certa forma, eles assumiram que não sabem montar equipe. Que tem dificuldades em fiscalizar os aliados. Que só vão investigar e punir quando provocados.
Não sei em quem votar. Cansei de votar por exclusão. Não tenho mais a inocência de fazer voto de protesto. Estou preocupado.
“Eu digo sempre que todo homem só consegue provar aquilo que tem competência pra fazer e aquilo que é, quando for desafiado por coisas às vezes maiores do que seu próprio tamanho”.
Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso de posse de ministros.
“Coisa muito diferente de montar o time é fazê-lo andar, processo que também é da responsabilidade do presidente mas que, seja por obstáculos administrativos, por equívocos das escolhas ou pelas dificuldades para harmonizar estilos pessoais e interesses, às vezes se torna muito difícil”.
Fernando Henrique Cardoso, em seu livro ‘A arte da política. A história que vivi’.