Desilusão – Ética na política

Na política, enquanto os maus encerram suas vidas públicas envoltos na riqueza e na bajulação, os bons encerram as suas tomados pelo sentimento de impotência, de desilusão e cansados. Resgato dois momentos da vida política do país para ilustrar a constatação. Rui Barbosa, no final de sua vida pública, afirmou: “Tenho vergonha de minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço…”. Para concluir: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Na mesma linha, nosso saudoso Jeferson Peres, em memorável discurso no senado no dia 30.08.2006: “A crise não é só da classe política, ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância. (…) Dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo! Parte da população que compactua com isso. É lamentável. Porque sabe, não é desinformação não. E que não é só povão, é parte da elite, inclusive intelectuais, compactuam com isso porque são iguais, senão piores. Eu não vou continuar nessa vida pública, pra que? (…) Pode chamar até o Fernandinho Beira Mar e fazê-lo Presidente da República…”

Chegamos ao fundo do poço. Na política de hoje a honestidade é desacredita ou punida. Desacreditada, pelos que tomados pelos seus valores comportamentais aéticos, julgam a todos pela sua própria conduta de desonra. Punida, pela utilização de subterfúgios e armações que objetiva transformar tudo e todos no mesmo mar de lama e corrupção.

Espero não terminar minha vida pública desiludido como Rui Barbosa ou Jeferson Peres, mas confesso que hoje não consigo enxergar novos horizontes. Por enquanto, ainda triunfa a desonra e ri-se da virtude e da honestidade.

Marcelo Ramos é advogado e vereador pelo PSB. www.vereadormarceloramos.com.br