A inclusão sócio econômica de boa parte de brasileiros é o nosso maior problema. Esse fosso social aumenta a desigualdade e é a raiz de quase todos os nossos problemas. Como superá-lo é o desafio que está posto.
Serafim Corrêa
Fonte: Poder 360
Em 2017, 48 milhões de pessoas não tinham acesso à conta bancária no Brasil. Dados do Banco Mundial mostram que, mesmo com a evolução de serviços digitais, cerca de 30% da população adulta do país permanece alheia a produtos financeiros.
As estatísticas nacionais estão próximas à média mundial. Segundo o relatório, cerca de 1,7 bilhão de pessoas –ou 31% da população adulta do mundo– não tinham conta no ano passado. Apesar disso, os números estão muito aquém dos observados em países de renda alta. Nessa camada, pouco mais de 5% da população permanece desbancarizada.
O país encontra-se 1 pouco abaixo, inclusive, do patamar dos países de renda média alta –grupo do qual fazem parte Brasil, China, México e Rússia, por exemplo. No ano passado, 73% dessa população tinha acesso a serviços bancários.
Em números absolutos, o Brasil é o 9º país do mundo com mais adultos sem conta no banco. Os primeiros da lista são China, com 224 milhões de desbancarizados, Índia, com 191 milhões, e Paquistão, com 99 milhões.
Entraves à inclusão bancária
O estudo, realizado a cada 3 anos pela organização, mostra uma relação direta entre exclusão financeira e renda. No Brasil, quase 80% da população mais rica é bancarizada. Entre os 40% mais pobres, esse percentual cai para 57%.
“Muitas vezes é exigido que a pessoa apresente uma comprovação de renda. E muitas não conseguem. Além disso, há 1 desinteresse das próprias instituições nessa parcela mais pobre da população”, afirma Claudia Vasconcellos Silva, professora do curso de Ciências Contábeis do Mackenzie.
Na pesquisa, o Banco Mundial perguntou aos participantes por que eles não têm conta no banco. A falta de recursos financeiros foi o ponto mais citado, apontado por 58% dos entrevistados brasileiros. Logo depois, aparece o argumento de que os custos bancários são muito altos, lembrado por 57%. Apenas 1% diz não precisar de uma conta.
Outro ponto de destaque no levantamento é a desigualdade regional: 32% dos participantes disseram não ter conta porque as instituições financeiras são muito distantes de suas casas. “Há uma concentração muito grande de agências nas regiões Sul e Sudeste. Já nas outras, principalmente no Norte e no Nordeste, não há essa disponibilidade. Isso dificulta o acesso”, afirma a professora.
Para Claudia, a disseminação de bancos digitais e do atendimento online não serão suficientes para eliminar essa barreira à inclusão bancária. A professora destaca que parte significativa da população brasileira ainda não tem acesso à internet nem confiança em serviços digitais. “O fechamento de agências bancárias tende a aumentar as restrições, não diminuir.”
A professora defendeu também que há uma questão de educação financeira a ser resolvida no país para tornar mais equilibrado o acesso, por exemplo, a linhas de crédito e investimentos. “Muitas pessoas não entendem os produtos e as taxas cobradas pelos bancos no Brasil, que são muito altas. Isso gera desconfiança e aumenta os riscos de alto endividamento”, disse.
Hoje, os juros médios do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial ultrapassam os 320% ao ano. A taxa média para a pessoa física é de cerca de 57% ao ano.
Mulheres e jovens são mais afetados
Além da desigualdade social, os dados também revelam a desigualdade de gênero. Segundo a pesquisa, 33% das mulheres brasileiras não têm conta bancária. Esse percentual cai para 27% entre os homens.
O recorte de idade mostra que a maior parte da população desbancarizada tem de 15 a 25 anos de idade. Em 2017, 53% dos jovens brasileiros não tinham acesso a produtos financeiros. Entre os adultos, o percentual era de 23%.