O termo desemprego, conceitualmente, alude à falta de trabalho. Um desempregado é um indivíduo que faz parte da população ativa (que se encontra em idade de trabalhar), que anda à procura de emprego, porém, por razões muitas das vezes imponderáveis, não consegue. Esta situação traduz-se na impossibilidade de trabalhar e, isto, contra a vontade da pessoa.
O estudo “Os Impactos Psicológicos do Desemprego e suas Consequências sobre o Mercado de Trabalho”, dos pesquisadores Carolina Chahad e José Paulo Zeetano Chahac, da PUC-SP e FEA-USP, dá conta de que para o homem é importante ter o controle de sua vida e das situações em que se envolve, pois é dessa maneira que acredita poder manipular a maneira como crê que os outros o veem, e, assim, preservar sua autoimagem.
O desemprego, como demonstra o estudo em referência, traz uma sensação de perda de controle e, com isso, a impossibilidade de uma afirmação de sua autoimagem, gerando um sofrimento psíquico. Por isso, muitos desempregados tentam esconder a situação em que se encontram, evitando contar sobre a perda do emprego para as pessoas de suas relações, às vezes até mesmo para a família, ainda na tentativa de manter sua imagem.
Pesquisadores afirmam que a sensação de perda de contato com a realidade, de incapacidade de dominar e compreender os acontecimentos provocam no indivíduo desempregado um sentimento de angústia, posto que tem a necessidade de alterar sua situação, mas não sabe como agir.
Essa perda de controle é, também, sentida pelo desempregado como um agravo no poder de decisão sobre a condução de sua própria vida. Isto porque ele depende dos outros para prover suas necessidades básicas, já que não tem condições financeiras para isso.
Imagine-se um pai de família, numa situação de crise intensa como a vivida pelo Brasil nestes últimos anos, chegando em casa e informando à família haver perdido o emprego. Como não deve se sentir aquele coração, aquela alma, aquele pai de família perante mulher e filhos.
A sensação de insegurança que infunde a todos ao seu redor é dramática. Pois o desemprego não seria em muitos casos um atestado de incompetência e de irresponsabilidade? Como um chefe de casa vai lidar com todas essas pressões que se irão abater sobre ele?
Perder o emprego no Brasil hoje significa entrar num túnel escuro sem qualquer perspectiva de ao menos uma réstia ao seu final. Uma situação triste. Muito triste de fato.
Perda de emprego, uma experiência devastadora
Segundo o Site Hype.Science, uma pesquisa de 2005 concluiu que os trabalhadores desempregados engajados ativamente na procura de um trabalho são mais propensos a ter pior saúde mental.
Segundo os psicólogos, por conta de tal experiência, essas pessoas podem sofrer consequências mentais por um longo tempo.
Entre os males do desemprego na saúde física e mental, os especialistas apontam: depressão, maus hábitos alimentares (comer demais por ansiedade, comer mal), estresse, ansiedade, irritabilidade, pensamentos negativos, insônia (más noites de sono), fatiga, letargia, dores no corpo, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.
Ninguém ainda provou uma relação causal entre desemprego e danos ao coração, mas uma pesquisa da Universidade Harvard (EUA), por exemplo, mostrou que perder o emprego pode aumentar de 50 a 80% as chances de desenvolver alguma doença como hipertensão, problemas cardiovasculares, derrame e diabetes.
Outras pesquisas indicam que os desempregados têm duas vezes mais chances de ter um grande episódio depressivo, além de risco maior de cometer suicídio. O desemprego também é bastante relacionado à violência doméstica e ao abuso do álcool.
Mais estudos sugerem que homens com filhos tendem a ver o desemprego como uma derrota mais do que as mulheres com filhos, talvez porque elas são mais propensas a ver a falta de um trabalho como uma oportunidade de passar mais tempo com a família.
Além de tudo isso, os relacionamentos pessoais podem sofrer pressão resultante do desemprego, como preocupações financeiras em uma família. Entretanto, as taxas de divórcio, aponta a pesquisa, são mais baixas entre os desempregados.
Ainda no plano emocional, o desempregado pode isolar-se socialmente por conta do constrangimento de sua situação. Sendo assim, pode não sair de casa ou não fazer mais as coisas que gostava, além de se sentir inútil, confuso ou sobrecarregado.
“Ser desempregado é realmente uma das experiências mais difíceis, mais devastadoras que as pessoas passam”, disse Robert L. Leahy, diretor do Instituto Americano de Terapia Cognitiva e autor do livro “The Worry Cure” (“A Cura da Preocupação”, em tradução literal).
O desemprego no Brasil
Os dados são alarmantes. Segundo o IBGE, o desemprego, conforme taxa calculada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, atingiu 8,7% de junho a agosto de 2015. A pior taxa desde que o IBGE começou a fazer essa pesquisa, em 2012.
Atualmente, o Brasil tem 8,8 milhões de desempregados, um aumento de 647 mil pessoas em relação ao trimestre anterior. Dados oficiais do IBGE atestam haver dois milhões de desempregados a mais que no mesmo período do ano passado.
Pior ainda, o desempregado, quando encontra um anúncio de trabalho, descobre que os salários oferecidos diminuíram.
O rendimento mensal médio do brasileiro agora é de R$ 1.882 reais, 1,1% menor do que no período anterior, de março a maio, que era de R$ 1.904.
A indústria foi o ramo de atividade que mais cortou vagas (3,5%) entre junho e agosto do exercício anterior, conforme o IBGE. O economista Vinícius Botelho, ouvido pela Rede Globo, acredita que o desemprego continuará crescente por muito tempo.
“Com essa desaceleração das empresas, a diminuição da demanda da economia, tem menos gente demandando bens, menos gente demandando serviços. Isso diminui a rentabilidade das empresas e elas não podem mais contratar tanto. Assim, elas demitem para contratar mão de obra mais barata ou porque não precisam mais produzir aquela quantidade de produtos e isso acaba fazendo com que o nível do desemprego suba”, afirmou Botelho.
Este um dos mais perversos efeitos da crise econômica, que deverá persistir muito forte pelos próximos dois a três anos, no mínimo. Com isso, a taxa de desemprego deverá ser empurrada para mais de 10% no ano que vem.
Diferentes indicadores já apontam uma forte deterioração do mercado de trabalho. De abrangência nacional, o desemprego medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua deverá superar os 10% no decorrer do ano em curso, na avaliação de Tiago Cabral Barreira, pesquisador em economia do trabalho do Ibre/FGV.
Recessão
A retração do mercado de trabalho pode ser explicada pela recessão de 2015, a mais intensa desde 1990, e a perspectiva de uma nova queda da atividade econômica no ano que vem. Como resultado, grandes setores empregadores, como a construção civil e a indústria de transformação, passaram a demitir num ritmo intenso, e as atividades que ainda mostravam um certo vigor dão sinais de fraqueza.
“Já havia um desempenho modesto da atividade econômica há algum tempo, mas isso demorou a aparecer no mercado de trabalho, pois havia uma certa resiliência do setor de serviços”, afirma Fabio Romão, economista da LCA.
Com a piora da economia, a taxa de desocupação deve demorar para arrefecer. O cenário de pleno emprego – que marcou o início da década – não deverá se repetir nos próximos anos e a expectativa é de que os números permaneçam num patamar alto. Este cenário explica a formação de grandes filas de desempregados como as observadas na semana passada em São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Manaus, 29 de janeiro de 2016.