Por Osíris Silva:
No transcurso de mais um primeiro de maio, em que se comemora o dia internacional do trabalho, o quadro do desemprego mundial é apavorante; pior ainda no Brasil. O termo desemprego, conceitualmente, alude à falta de trabalho. Um desempregado é um indivíduo que faz parte da população ativa (que se encontra em idade de trabalhar), que anda à procura de emprego, porém, por razões muitas das vezes imponderáveis, não consegue. Esta situação traduz-se na impossibilidade de trabalhar. No geral contra a vontade da pessoa, gerando sobre ela nefastas consequências. Dentre as quais, sentir-se um pária, um ser de segunda classe que vive à margem da sociedade, excluído do convívio comunitário.
Para o homem é importante ter o controle de sua vida e das situações em que se envolve. Só assim acredita poder manipular a maneira como crê que os outros o veem, e, assim, preservar sua autoimagem. Não é, por conseguinte, bolsa família ou outros subsídios sociais que realizam o ser humano, mas o fato de ter sua própria fonte de renda. É o emprego, o salário que o faz sentir-se produtivo, elo ativo do tecido social, que gera satisfação, bem-estar e plena integração familiar e comunitária. O desemprego traz profunda e dolorida sensação de perda de controle e, com isso, a impossibilidade de uma afirmação da autoimagem da pessoa, gerando sofrimento psíquico. Por isso, muitos desempregados tentam esconder a situação em que se encontram, evitando contar sobre a perda do emprego para as pessoas de suas relações, às vezes até mesmo para a família, ainda na tentativa de manter sua imagem.
Pesquisadores afirmam que a sensação de perda de contato com a realidade, de incapacidade de dominar e compreender os acontecimentos provocam no indivíduo desempregado um sentimento de angústia, posto que tem a necessidade de alterar sua situação, mas não sabe como agir. Imagine-se um pai de família, numa situação de crise intensa como a vivida pelo Brasil nestes últimos anos, chegar em casa e informar à família haver perdido o emprego. Como não se deve sentir aquele coração, aquela alma perante mulher e filhos. A sensação de insegurança que infunde a todos ao seu redor é dramática. Pois o desemprego não seria em muitos casos um atestado de incompetência e de irresponsabilidade? Como um chefe de casa vai lidar com todas essas pressões que se irão abater sobre ele?
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa mundial de desemprego deverá subir de 5,7% em 2016 para 5,8% em 2017, o que representará um aumento de 3,4 milhões no número de pessoas desempregadas, segundo relatório lançado em janeiro deste ano pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ao todo, serão 201,1 milhões de pessoas sem emprego no planeta neste ano. Segundo o estudo “Perspectivas sociais e do emprego no mundo – Tendências de 2017”, de cada 3 novos desempregados no mundo em 2017, um será brasileiro. A OIT estima que o Brasil terá 1,2 milhão de desempregados a mais na comparação com 2016, passando de um total de 12,4 milhões para 13,6 milhões, e chegará a 13,8 milhões em 2018. Em termos absolutos, o Brasil terá a terceira maior população de desempregados entre as maiores economias do mundo, superado apenas pela China e Índia. Na China, a OIT prevê que o número subirá de 37,3 milhões para 37,6 milhões em 2016. Já na Índia, de 17,7 milhões para 17,8 milhões.
Atrás do desemprego vem a inadimplência, a incapacidade do consumidor de saldar dívidas contraídas junto ao comércio e o sistema financeiro. Apesar de o volume de dívidas haver caído, de acordo com o SPC Brasil o total de inadimplentes cresceu no primeiro trimestre, somando 59,2 milhões (mais de um quarto da população) ante 58,7 milhões em igual período de 2016. Esse universo equivale a 39,36% da população adulta, entre 18 e 95 anos. A maior parte, mais da metade (50,12%), tem entre 30 e 39 anos. Mais um primeiro 1º de maio que o trabalhador brasileiro preferirá esquecer até que a crise econômica passe.
Manaus, 1º de maio de 2017.