Planejar e implementar programa de apoio ao desenvolvimento da fruticultura, no Amazonas, vai além de voluntarismo oficial. Demanda, a priori, solucionar equação de pelo menos quatro incógnitas envolvendo: questão fundiária, crédito rural orientado, assistência técnica e tecnologia agrícola. Além do mais, definir quais as culturas que se ajustam às condições climáticas e ambientais do Estado. Em síntese, solucionar o problema básico de toda Economia no campo agrícola: o que, como e onde produzir. Por falta de tradição, o produtor local, em sua grande maioria, desconhece técnicas elementares de plantio e de manejo agrícola. Plantio em cova adequada, emprego de mudas de origem conhecida e recomendadas pela pesquisa e protegidas pela Defesa, tratos culturais básicos, como adubação e combate a pragas e doenças. Sem uma perfeita combinação desses fatores não se terá produção em escala econômica e produtividade que assegurem resultados compensadores.
O objetivo de qualquer produtor, certamente, é obter lucro ao final da safra. Sem o que, não terá como sustentar sua família, pagar o banco, adquirir insumos modernos (fertilizantes, defensivos e implementos), manter e expandir sua lavoura. Em tais circunstâncias, não lhe restará outra alternativa a não ser abandonar a lavoura, o que, lamentavelmente, ocorre com frequência no interior. Dado o conjunto dessas razões, os produtores amazonenses há décadas aguardam ações governamentais que venham a solucionar tais impasses. Qualquer segmento da fruticultura – abacaxi, maracujá, cupuaçu, mamão, citros, banana – tem suas peculiaridades. Por isso é fundamental que a pesquisa esteja ajustada às ações de crédito para o adequado financiamento de sementes, mudas e insumos, e de uma efetiva assistência técnica. Exemplos como os do Pará, de Rondônia, do Ceará, da Bahia, de Pernambuco, de Petrolina e Juazeiro, do Mato Grosso e do Tocantins comprovam essas premissas.
Não há mistério nem milagre: o desenvolvimento da agricultura de forma sustentável no Amazonas exige ações de governo fortes e tempestivas. Dentre estas, de imediato, e inadiavelmente, a elaboração de diagnóstico agronômico e socioeconômico com vistas a identificar os principais pontos de estrangulamento que afetam cada cadeia produtiva. Somente assim será possível definir intervenções de curto, médio e longo prazos, visando, basicamente: a) localização geográfica das principais culturas existentes, seus respectivos estágios de desenvolvimento vegetativo e quadro fitossanitária, b) definir as vocações de cada mesorregião, de forma a estabelecer prioridades em relação aos segmentos a serem incentivadas, e c) consolidar articulação das entidades atuantes no setor com a EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA, na qualidade de Centro Nacional, aqui atuante desde 2008 junto a EMBRAPA Amazônia Ocidental CPPA.
Além do diagnóstico agroeconômico, fundamental ainda a elaboração de consistente estudo do mercado de frutas de Manaus, num primeiro momento, em seguida ampliado aos estados da Amazônia Ocidental, objetivando definir o tamanho econômico que a atividade poderia assumir no Estado, identificando as possibilidades de comercialização junto a outros centros. Simultaneamente, investir na elaboração de plano de modernização do sistema de colheita, pós-colheita e de logística de comercialização (in-natura ou industrializadas). Hoje a fruta é vendida de forma rudimentar, tosca, primitiva em feiras que nem sempre primam pela higiene e qualidade da apresentação dos produtos, ou, por grupos de subempregados amontoados nas esquinas da cidade. Por fim, necessário se torna igualmente investir na organização do produtor via associativismo, sem o que muito difícil se tornará viável qualquer ação de modernização do setor, sobretudo considerando o baixo nível social e econômico do produtor rural amazonense, sobretudo o de pequeno porte, que representa a imensa maioria desse universo.
Manaus, 12 de outubro de 2016.