Por Osíris Silva
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o desenvolvimento sustentável é aquele que consegue atender às necessidades da geração atual sem comprometer a existência das gerações futuras. Em setembro de 2015, percebendo que os indicadores econômicos, sociais e ambientais dos últimos anos eram pessimistas quanto ao futuro das próximas gerações, a Organização levou os 193 países membros a assumir os compromissos da Agenda 2030, sintetizados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs ), composto por 17 itens (objetivos) e 169 metas.
Dentre os ODSs, destacam-se: acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.
E relação ao Setentrião brasileiro a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), uma das agência das ONU, a Amazônia enquadra-se nos pré-requisitos dos objetivos de produção sustentável, entendido como voltados a “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e deter a perda de biodiversidade”.
Para o cumprimento desses objetivos, a FAO sugere a adoção de sistemas agroflorestais modernos, dentre os quais: Integração Lavouras, Pecuária e Florestas, manejo de pastagens, bioprospecção de espécies nativas da Amazônia, utilização/recuperação de áreas degradadas, piscicultura. No quesito bioprospecção de espécies nativas, há amplas possibilidades em relação a Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs). Trata-se de espécies com valor nutritivo, que podem ser comestíveis e que surgem de forma espontânea – seja em quintais, terrenos baldios e/ou canteiros. O seu alto valor nutricional, junto com a maior resistência apresentada por elas – por serem espécies locais, dispensam o uso de agrotóxicos -, as tornou componente importante rumo à segurança alimentar.
A FAO estima existirem 10 mil espécies de PANCs com potencial alimentício no Brasil, sendo, na Amazônia, as mais conhecidas: Feijão-de-asa , Feijão-de-metro, Bertalha, Caruru, Espinafres africanos, Feijão-moyashi, Vinagreira, Taioba, Ariá, Feijão-macuco, Cubiu, Maxixe-peruano, Alfavaca, Jambu, Pimenta-murupi, Vitória-régia.Para garantir êxito na exploração dessas espécies, a Organização recomenda a adoção de políticas públicas que levem em conta, prioritariamente, a observância de pré-requisitos tais como: a) melhorar o acesso a recursos, serviços, mercados, tecnologias, conhecimento e ao processo decisório para as populações rurais pobres; b) Integrar cultivos e pecuária, agrossilvicultura e um melhor uso e gestão da terra mediante serviços de consultoria rural e escolas agrícolas no campo (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta); c) Encorajar e disseminar práticas sustentáveis na agricultura para melhorar a gestão de recursos naturais; d) maximizar o acesso ao emprego e oportunidades de geração de renda nas áreas rurais, particularmente para mulheres, jovens e populações indígenas, apoiando-os na adaptação às mudanças climáticas.
Em 2050 o mundo deverá alcançar uma população de cerca de 10 milhões de habitantes, um crescimento superior a 33% em relação à população atual de 7,5 milhões de almas. Alimentar esse gigantesco contingente vai exigir um aumento nos níveis vigentes de produção da ordem de 70%. O futuro da economia do Amazonas dependerá fortemente da incorporação dos recursos da bioeconomia ao perfil do Polo Industrial de Manaus. Desafio que poderá permitir ao Estado integrar-se à Agenda 2030 da ONU. Ao lado do turismo ecológico, prioridade absoluta.